“Inspirada pelo contra-movimento da Black Friday, o ‘Dia de Não Comprar Nada’, que encoraja as pessoas a embarcar num detox de compras durante 24 horas ao invés de irem a correr para as lojas, decidi constatar se consigo ir mais além e estar um ano sem comprar nada excluindo as contas da casa e comida.” É assim que Michelle McGagh começa a primeira crónica escrita para o jornal britânico The Guardian há cerca de um ano. Predisposta a ver até onde iam os seus limites no que toca a gastos, a jovem inglesa tem vindo a documentar a sua vida e as dificuldades que tem encontrado pelo caminho.
Ao virar as costas ao consumismo desenfreado, Michelle tem um objetivo: mostrar ao mundo que é possível ter uma vida normal e feliz sem gastar dinheiro. Assim sendo, estipulou as seguintes regras: durante um ano está proibida de fazer refeições fora de casa, ir ao cinema, ir a concertos, ir a bares, assim como não pode gastar dinheiro em roupa, transportes e tomar café fora de casa. “E não vou poder contar com os meus amigos e familiares para me pagarem as coisas – é um ano sem despesas, sem empréstimos”, frisa.
Praticamente dois meses após ter dado início a este desafio, a jovem revela que uma simples ida ao supermercado, planeada meticulosamente, passou a ser o ponto alto da sua semana. Mas será que sente falta de gastar dinheiro?
“Não tinha a certeza se iria ter saudades de ir às compras mas se estou a desfrutar tanto de uma ida ao supermercado é porque afinal sinto falta disso. Ou talvez esteja a desfrutar das compras porque estou a gastar de forma mais consciente e não estou a colocar itens, sem pensar, no meu cesto”, explica sobre a nova dinâmica que se apoderou sobre a sua vida.
No artigo McGagh revela que o facto de ter passado a fazer as suas compras em dinheiro e fugir dos grandes hipermercados permitiu-lhe começar a dar mais valor ao dinheiro, a encarar com outros olhos o comércio local e ter consciência dos desperdícios alimentares que cometia no passado.
Apesar de uns primeiros meses relativamente calmos, a verdade é que com a chegada do inverno e o cepticismo dos amigos, Michelle chegou a duvidar se estaria à altura do desafio que tinha lançado a si mesma. Mas com alguns ajustes, muito esforço e persistência, a jovem revela que esta foi uma das melhores decisões que tomou na vida. O truque passou por adoptar um estilo de vida completamente diferente em vez de tentar replicar a vida que tinha anteriormente.
“Sou mais feliz agora do que quando comecei o ano sem gastos. Aceitei fazer coisas com as quais nunca me tinha preocupado antes como ajudar um amigo a produzir uma produção teatral ou voluntariar-me a limpar o parque local. Ao fazê-lo, fiz novos amigos e passei a conhecer melhor aqueles que já tinha”, refere sobre a experiência que ainda só ia a meio e que também teve as suas consequências.
Devido ao facto de não poder gastar dinheiro, Michelle viu-se impossibilitada de estar perto de alguns dos seus familiares mais próximos uma vez que o seu único meio de transporte era uma bicicleta que dificilmente iria sobreviver à viagem. Outras das suas provas de fogo teve lugar durante o verão vendo-se obrigada a procurar um destino de férias alternativo que não implicasse gastar dinheiro.
“Juntamente com o meu marido, passei seis dias a andar de bicicleta pela costa de Suffolk e Nortfolk, a acampar em praias e florestas. Seis dias de vida selvagem era algo que não fazia desde criança. Estar no meio do nada sem nada para fazer e sem rede significava que não tínhamos outra alternativa senão relaxar, algo que sempre tive dificuldade em fazer, e desfrutar do cenário. Foi uma das melhores férias que alguma fez fiz.”
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