Num mundo marcado pela rápida transformação tecnológica, mudanças sociais profundas e uma crescente diversidade cultural, a educação enfrenta novos desafios. Neste quadro, é urgente repensar os modelos educativos para responder às exigências de uma sociedade global interligada, onde os alunos precisam não apenas de conhecimento, mas também de competências humanas como pensamento crítico, empatia e adaptabilidade. As escolas, confrontadas com estas pressões, são chamadas a reinventar-se, equilibrando inovação pedagógica com rigor académico, e bem-estar emocional com exigências curriculares.

É neste contexto desafiante que ouvimos a voz de Robert Taylor, líder educacional e diretor pedagógico da EGI International (Educating Global Innovators), uma escola internacional com sede em Oeiras. Nesta entrevista, Taylor partilha a sua visão sobre o papel transformador da educação, os caminhos para garantir inclusão e personalização na aprendizagem, e as competências essenciais para preparar os alunos para um futuro incerto e em constante mudança.

A EGI, atualmente num momento de expansão com o lançamento do novo campus em Barcarena, aposta numa abordagem pedagógica internacional, centrada no aluno e alicerçada na inovação. Este enquadramento serve de pano de fundo a uma conversa que reflete sobre os desafios globais da educação e a responsabilidade coletiva — de educadores, famílias e decisores políticos — em transformar a escola num verdadeiro espaço de cidadania e mudança social.

A educação atravessa um período de profundas mudanças, impulsionadas por fatores como a tecnologia, as alterações sociais e a diversidade cultural. Que leitura faz da realidade educativa atual e dos seus principais desafios?

Vejo o panorama educativo atual como dinâmico e cheio de oportunidades. O rápido avanço tecnológico está a reformular a forma como ensinamos e aprendemos, enquanto a crescente diversidade cultural enriquece as salas de aula e promove uma cidadania global. No entanto, os principais desafios residem em garantir um acesso equitativo a estas inovações, apoiar o bem-estar dos alunos num mundo em constante mudança e equipar os nossos aprendentes com o pensamento crítico e a capacidade de adaptação de que necessitam para prosperar. É um momento empolgante para estar na educação — desde que nos mantenhamos atentos, inclusivos e com os olhos postos no futuro. Vivemos numa era em que a escola já não é o único centro do conhecimento.

Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional
Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional créditos: EGI

Vivemos numa era em que a escola já não é o único centro do saber. Como deve a educação formal reinventar-se para continuar relevante neste novo ecossistema de aprendizagem?

A educação formal tem de se tornar mais ágil, inclusiva e centrada no aluno para permanecer relevante neste contexto em evolução. Na EGI, focamo-nos em três mudanças essenciais: integrar a tecnologia de forma significativa para potenciar, e não substituir, a conexão humana; dar maior ênfase a competências como criatividade, colaboração e resiliência; e abraçar percursos de aprendizagem personalizados que respeitem o ritmo, os interesses e o contexto cultural de cada aluno. Reinventar não significa abandonar os padrões académicos essenciais, mas antes reimaginar a forma como são entregues, garantindo que os alunos não sejam apenas conhecedores, mas também preparados para navegar num mundo complexo e interligado.

O currículo não deve ser visto como um limite, mas como uma base sobre a qual podemos construir com criatividade.

A inovação pedagógica é hoje uma exigência e não apenas uma opção. Que práticas educativas considera verdadeiramente transformadoras e que papel têm metodologias como a aprendizagem baseada em projetos, o ensino interdisciplinar ou o Reggio Emilia nesse caminho?

A inovação pedagógica é, sem dúvida, essencial, e algumas das práticas mais transformadoras são aquelas que tornam a aprendizagem relevante, ativa e profundamente envolvente. A aprendizagem baseada em projetos destaca-se pela sua capacidade de ligar os alunos a questões do mundo real, incentivando o pensamento crítico, a colaboração e a criatividade. O ensino interdisciplinar ajuda os alunos a verem o panorama geral — como o conhecimento se interliga entre disciplinas — promovendo uma compreensão e aplicação mais profundas.

Abordagens como Reggio Emilia, embora tradicionalmente associadas à educação infantil, oferecem lições valiosas para todas as idades: colocar o aluno no centro, valorizar a curiosidade e encarar o ambiente como um educador fundamental. Estas metodologias deslocam o foco da transmissão passiva de conteúdos para uma exploração ativa, orientada pelo aluno — exatamente o que a educação moderna necessita.

Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional
Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional créditos: EGI

A personalização da aprendizagem é apontada como essencial para o sucesso escolar. Como se pode equilibrar a necessidade de adaptar o ensino ao ritmo e estilo de cada aluno com as exigências curriculares e de avaliação?

Equilibrar a aprendizagem personalizada com as exigências do currículo e da avaliação é um dos grandes desafios da educação, mas é possível com um planeamento cuidadoso e as ferramentas certas. Na EGI, utilizamos quadros flexíveis que permitem a diferenciação dentro de uma estrutura clara. A tecnologia desempenha um papel de apoio, ajudando-nos a acompanhar o progresso e a adaptar atividades, enquanto a avaliação formativa garante que nos mantemos atentos às necessidades individuais sem perder de vista os objetivos gerais.

Também é uma questão de mentalidade — ver o currículo não como uma limitação, mas como uma base sobre a qual podemos construir de forma criativa. Ao focarmo-nos nos resultados de aprendizagem essenciais e oferecermos múltiplos caminhos para os alcançar, conseguimos honrar tanto a personalização como o rigor académico.

Para preparar os alunos para o futuro, devemos cultivar tanto competências académicas como humanas.

Que competências considera cruciais para preparar os alunos para o futuro — não só em termos profissionais, mas também enquanto cidadãos conscientes, críticos e empáticos?

Para preparar os alunos para o futuro, devemos cultivar tanto competências académicas como humanas. Pensamento crítico, adaptabilidade, literacia digital e comunicação eficaz são essenciais para qualquer percurso profissional. Igualmente importantes são a empatia, a consciência cultural e a tomada de decisões éticas — competências que ajudam os alunos a tornarem-se cidadãos globais conscientes e responsáveis.

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Na nossa comunidade escolar internacional, damos grande ênfase à colaboração intercultural, à prática reflexiva e à responsabilidade social. Estes não são elementos acessórios, mas sim parte integrante da forma como ensinamos e aprendemos. O objetivo é equipar os alunos não apenas para o sucesso no mercado de trabalho, mas para liderarem com integridade e contribuírem de forma significativa para um mundo em rápida transformação.

A escola é cada vez mais chamada a ser um espaço de bem-estar emocional, desenvolvimento pessoal e construção de comunidade. Como é que as instituições educativas podem responder de forma efetiva a estas dimensões humanas?

As instituições educativas devem abraçar o seu papel como ambientes holísticos onde os alunos se sintam seguros, reconhecidos e apoiados. Na EGI, priorizamos o bem-estar e o desenvolvimento pessoal como fundamentos, e não como aspetos secundários, do sucesso académico. Isto significa integrar a aprendizagem socioemocional no currículo, garantir sistemas de bem-estar robustos e fomentar uma cultura de abertura e respeito.

Também procuramos criar oportunidades para um envolvimento comunitário significativo, dentro e fora da escola, ajudando os alunos a sentirem-se conectados e com propósito. Quando as escolas valorizam genuinamente o aluno como um todo, tornam-se espaços onde os jovens podem realmente prosperar.

Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional
Educação: “O objetivo não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos empáticos” - Robert Taylor, líder educacional créditos: EGI

Como se constrói uma verdadeira cultura de inclusão e diversidade numa escola internacional e multicultural como a EGI, onde coexistem várias línguas, culturas e histórias de vida?

Promover uma verdadeira cultura de inclusão e diversidade começa com intencionalidade — tem de estar incorporada em tudo o que fazemos. Celebramos a riqueza da nossa comunidade integrando perspetivas diversas no currículo, promovendo o multilinguismo e criando espaço para que todas as culturas sejam vistas e valorizadas.

Incluir também significa garantir que cada aluno sente que pertence, independentemente da sua origem ou perfil de aprendizagem. O mais importante é ouvir — a voz dos alunos e o envolvimento das famílias são fundamentais. A diversidade não é apenas reconhecida na EGI; é abraçada como uma força que molda a nossa identidade e enriquece a experiência de aprendizagem de todos.

A EGI tem vindo a consolidar um projeto educativo internacional centrado no aluno e com forte aposta na inovação. De que forma a vossa visão pedagógica se articula com os desafios globais da educação?

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A nossa visão pedagógica no EGI está profundamente alinhada com os desafios globais que a educação enfrenta hoje — complexidade, mudança rápida e necessidade de uma conexão humana mais profunda na aprendizagem. Ao defendermos um modelo internacional centrado no aluno, preparamos os aprendentes não apenas para terem sucesso académico, mas para navegarem num mundo diverso e interligado com confiança e empatia.

A inovação é central nesta visão, não como uma palavra da moda, mas como uma mentalidade. Abraçamos metodologias flexíveis, tecnologias emergentes e aprendizagem interdisciplinar para equipar os alunos com as competências necessárias para pensar criticamente, resolver problemas reais e adaptar-se à incerteza. Utilizar o Cambridge International Curriculum dá-nos uma base forte e robusta para alcançar isto. Em essência, a nossa abordagem reflete a crença de que a educação deve evoluir não apenas para acompanhar o mundo, mas para ajudar a moldar um mundo melhor.

Promover uma verdadeira cultura de inclusão e diversidade começa com intencionalidade — tem de estar incorporada em tudo o que fazemos.

O novo campus em Barcarena representa não apenas uma expansão física, mas também uma oportunidade de reinvenção. Que tipo de escola estão a projetar e como ela reflete a vossa visão do futuro da educação?

O novo campus em Barcarena é muito mais do que um novo edifício — é um passo audacioso na reimaginação do que uma escola pode ser. Imaginamos um ambiente de aprendizagem aberto, flexível e profundamente conectado tanto à natureza como à comunidade envolvente. Será um espaço concebido para inspirar criatividade, colaboração e curiosidade a todos os níveis.

Este novo capítulo permite-nos concretizar plenamente a nossa visão: uma escola onde a inovação, a inclusão e o bem-estar estão entrelaçados no tecido do dia a dia. As salas de aula serão adaptáveis, a aprendizagem estender-se-á para além das paredes e os alunos serão capacitados a assumir a responsabilidade pelo seu percurso educativo. Em última análise, reflete o nosso compromisso em criar não apenas uma escola do futuro, mas uma escola que prepara os alunos para moldarem o futuro.

Para terminar, que mensagem deixaria a educadores, pais e decisores que, como vocês, acreditam que a educação pode e deve ser um motor de transformação social?

A minha mensagem é simples, mas poderosa: a educação é a chave para moldar um mundo mais justo, compassivo e sustentável.

Todos temos um papel na criação de um sistema educativo que não só nutra o sucesso académico, mas também capacite os alunos a serem contribuintes conscientes, empáticos e ativos na sociedade.

Para os educadores, encorajo-vos a continuarem a ultrapassar fronteiras, a abraçar a inovação e a nutrir o aluno como um todo. Para as famílias, a vossa parceria é crucial; o vosso envolvimento na educação dos vossos filhos faz toda a diferença. E para os decisores políticos, asseguremos que os sistemas que criamos sejam verdadeiramente inclusivos, adaptáveis e voltados para o futuro.

Juntos, podemos construir um sistema educativo que transforme vidas, promova mudanças sociais e prepare os jovens para liderarem com propósito, integridade e resiliência. Vamos tornar esta visão realidade, um aluno de cada vez.