"Habituámo-nos a viver de uma forma que não é amiga do ambiente e no futuro vai trazer consequências, nomeadamente na saúde pública, e não é no futuro longínquo porque a quantidade de plástico nos oceanos já é enorme", disse à agência Lusa Isabel Domingos, do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

As pessoas ficam chocadas com as imagens do plástico no oceano e com os animais a morrerem por terem ingerido pequenas partículas de plástico, mas depois, no seu quotidiano, não alteram comportamentos, descreve.

10 coisas perigosas que põe no lixo (e não devia)
10 coisas perigosas que põe no lixo (e não devia)
Ver artigo

É que o plástico apareceu há pouco tempo em termos históricos, "mas facilita muito a vida", por isso é difícil mudar de hábitos e prescindir da sua utilização, e campanhas de sensibilização e informação podem dar um contributo para a mudança, principalmente se forem apontadas alternativas.

Não se trata somente de reduzir a quantidade de plástico libertado para o ambiente, declara, mas também exigir que a sociedade atual não gire em torno do plástico.

"Enquanto consumidores temos de modificar o comportamento para reduzir a quantidade de plásticos usados, mas este assunto tem de ser resolvido mais a montante", defendeu a investigadora.

Para Isabel Domingos, "a reciclagem não resolve o problema, é preciso diminuir a produção", porque o plástico utilizado acaba muitas vezes no oceano. Só se a reciclagem fosse 100% eficiente, "e sabemos que está longe disso, é que poderíamos reduzir os danos", alerta.

As entidades governamentais "têm de ser menos permissivas" e tem de haver regras, aponta, admitindo, no entanto, que "decisões políticas que afetem grandemente a economia não são fáceis".

Mas resolução do problema dos plásticos não se resume também à mudança de comportamentos, já que, o apelo a que se deixe este material é mais eficaz se vier acompanhado de uma alternativa. "O plástico está disseminado por todas as atividades e não tem substituto", refere a cientista.

Neste ponto, o investimento na investigação é decisivo, de modo a apontar novos materiais ou novas tecnologias.

Isabel Domingos alerta ainda para outra vertente desta questão: "O tempo de transformação tem de ser adequado aos impactos que tem nas economias e na sociedade porque os efeitos socioeconómicos podem ser devastadores se forem regras muito radicais".

Neste assunto, como em outros, tem de haver um tempo de adaptação à mudança, mas esta transição "tem de ser feita", declara.

A indústria também já começa a estar desperta para esta problemática e está envolvida na procura de soluções, da abolição de microplásticos nos esfoliantes à substituição do plástico por algodão ou papel nos pauzinhos dos cotonetes.

Ao contrário, é mais difícil encontrar um substituto adequado para o plástico nas redes de pesca.

"O planeta não é infinito e não tem uma capacidade de suportar as nossas pressões infinitamente, já está a dar sinais de alarme em alguns aspetos e essas coisas que fazemos ao planeta destroem a economia", resume Isabel Domingos, exemplificando com o lixo que chega às praias com as tempestades e que afasta os turistas.