No décimo nono dia de 2015, o desconhecido Alessandro Michelle apresentou a coleção masculina outono/inverno 2015/16 da Gucci. Conta-se que a montou em apenas uma semana! Dois dias, depois foi nomeado como o novo diretor criativo da marca italiana, posto que, até o início do ano e durante 10 anos, foi ocupado por Frida Giannini. Em fevereiro, apresentou em Milão a sua primeira coleção de pronto a vestir de outono/inverno 2015/16 Gucci. Em novembro, a notícia da distinção nos British Fashion Awards, em Londres, correu mundo.
O primeiro dia da semana da moda de Milão, em Itália, foi também a estreia oficial de Alessandro Michele. Com um look particular e um sorriso agradável, entre a sua barba, bigode e cabelo comprido, colares e uma camisola hippy chic, foi aplaudido no final do desfile. Mais recentemente, a coleção Gucci Resort 2016, que desfilou em Nova Iorque, nos EUA, foi a cereja no topo do bolo, com a front row repleta de stars, como Dakota Johnson, Miroslava Duma e Rachel Zoe. A crítica internacional adora-o.
«Sob o seu comando, a Gucci tornou-se uma marca curiosa, jovem e mais livre, um pouco boémia, como Alessandro, que é um dessarrumado chique», escreveu o site Woman Wear Daily. «Gostei logo do novo designer, graças à sua paixão, entusiasmo e inteligência. Há muito tempo que marca de luxo é romântica. Alessandro entregou o seu coração ao desfile e provou-o», referiu também Suzy Menkes, a editora international da Vogue.
Um criador fiel à sua estética
As especialistas de moda também já o veneram. «A impressão que ficou é que Alessandro Michele é pessoal no seu estilo, sem peso na consciência. E verdadeiro à sua estética», escreveu a revista de moda indie Dazed and Confused. À saída, alguém perguntou ao estilista se ele estava a vestindo um novo cliente. «Sim, provavelmente. Não sei», disse brilhantemente e blasé. A história foi contada numa publicação da revista I-D.
«A coleção foi uma evocação de excentricidade que ditou uma nova versão da Gucci, mais jovem e subversiva», referiu ainda, nas suas páginas, a Dazed and Confused. O recado está dado. É preciso conquistar a nova geração, como têm feito marcas como a Saint Laurent e a Chanel, entre outras grandes marcas de moda. Uma geração que procura o luxo sem ostentação. É esperar para ver os próximos passos.
Quem é Alessandro Michelle?
Alessandro Michele, de 42 anos, estudou na Accademia di Costume e di Moda em Roma e foi designer sénior de acessórios da Fendi, onde trabalhou com Frida Giannini. Juntos formaram a equipa de design da Gucci em 2002 e foram promovidos em maio de 2011. Em setembro de 2014, foi nomeado diretor criativo da marca de porcelanas finas Richard Ginori, adquirida pela Gucci em junho de 2013.
Apaixonado por antiguidades e decoração de interiores, o designer ajudou a criar o novo conceito de loja da marca em Florença, inaugurada em junho de 2015. As recentes mudanças na Gucci também são uma tentativa de reverter as quedas de vendas na China e noutros países. Uma das estratégias da marca passa por reinventar-se, ao colocar por exemplo menos produtos com logotipos.
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Um excêntrico cool
Alessandro Michele chegou discreto. Apoiado pelo novo CEO, Marco Bizzarri, estreou-se no desfile masculino em janeiro passado, tendo sido empurrado para a passarelle e celebrado. Foi essa coleção, criada numa única semana que assinou, embora não oficialmente, a sua estreia. Peças sem género, um pouco de homem e um pouco de mulher, com rendas e laços, um ar ambíguo, mas moderno, impressionaram e deram que falar.
«Li os comentários e senti-me lisonjeado. Não queria provocar, era o meu ponto de vista, o de uma excentricidade descontraída. Acredito que as pessoas devem ser livres para se expressar e na rua já se vê tudo isso. Estarei sempre no café a assistir aqueles que passam», desabafou mais tarde.
Um amante do Renascimento
Agora que se estreou com a sua primeira coleção, a verdadeira e pensada, a feminina, Alessandro Michele revelou à imprensa que a suas criações «caracterizam-se por fortes símbolos da marca». «A história da Gucci invade sempre o novo. Há uma imaginação que inevitavelmente se acentua, mas os códigos existem para ser tansformados. O passado tem muitos suspiros da contemporaneidade que devem ser lidos», diz.
«Gosto do Renascimento, precisamente pelo uso do passado, as decorações da Domus Aurea. Gosto dos desfasamentos temporais. O passado é um trilho, o futuro não existe para mim, e eu gosto da ideia muito romântica de um presente maravilhoso», revela o criador. Um homem que se autodefine «louco pela vida» e que recebeu com esta direção criativa da Gucci «um grande presente», como o descreve.
Um defensor do luxo de rua
E, desta vez, o humor da mulher tomou o do homem. É o fim da perfeição construída por Frida Giannini, substituída por uma imperfeição projetada por Alessandro Michele. Saiu de cena o luxo ocioso em favor da desatualidade contemporânea, um género aparentemente descuidado, uma maneira de ser contaminado pelo passado, sempre um pouco errada e, por isso, certa. Fomos do Gucci rock ao Gucci conceptual, o salto foi grande e até acrobático. Mas anunciado.
Para Alessandro Michele, a moda, pelo menos por enquanto, é feita de relíquias que serão preservadas como fetiches. Pele enrugada e saias-calças plissadas, calças masculinas, dobras com gomagem errada, vestidos floridos saídos de uma gaveta velha, toques de vintage, ecos, fragmentos de tendências esquecidas. Uma casa de moda que vai à rua, esquecendo o olhar atónito dos outros.
Um visionário da inversão de género
O tailleur está mal passado, as calças são masculinas. O ar de feminilidade andrógena ambígua é acoplado à moda masculina, a da blusa com folhos e plissados. Nem mesmo a rendas e transparências tornam esta mulher flamboyant e sexy. Existem homens na passarelle, mal os distinguimos, em tailleurs de flores, muitas coisas já vistas noutros lugares do passado mais ou menos recente da moda. Mas o sinal estava claro, a inversão de tendência de Gucci ficou concluída.
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Um expert em acessórios
Foi assim que começou o seu percurso na Gucci tendo sido anteriormente senior accessories designer na Fendi. Considerando que os produtos em pele representam mais de 60% das vendas da maison italiana no ano fiscal de 2013, os acessórios são o core do lucro da Gucci. Esperam-se muitas it bags e sapatos, a chave do seu sucesso. Chinelos forrados com pelo? Casacos de pelo rosa e vermelho? Peças inspiradas em insectos? Alessandro Michele gosta de detalhes fora da caixa, presentes em todas as suas coleções Gucci deste ano.
Um mestre da atitude
A nova campanha da coleção outono/inverno 2015/16 de Alessandro Michele para a Gucci, fotografada por Glen Luchford e com styling de Joe McKenna, transmite o novo conceito da marca no início da era do criador, mais vanguarda e de uma sensualidade andrógina. As imagens contam com as peças da primeira coleção do diretor criativo em ambientes urbanos e que abandonam o clima de superprodução da era Frida Giannini.
Alessandro Michele afirmou que a sua ideia foi transmitir uma atitude e não necessariamente uma silhueta nova nas roupas. Além disso, optou por escolher modelos desconhecidos. As manequins Alexandra Elisabeth e Julia Hafstrom sentam-se despreocupadas num sofá a admirar um homem em tronco nu. É também o novo querido das stars. Acompanhou a top model e filha de Mixk Jagger , Georgia May Jagger, ao Met Gala de 2015 e criou dois looks para a atriz Lupita Nyong no Festival Cinema de Cannes.
A 23 de novembro será homenageado, durante o “British Fashion Council” de 2015 – evento com relevância mundial que apresenta os novos talentos da moda britânica -, com o prémio “International Designer Award”.
Texto: Joana Brito com Ronan Gallagher for Gucci (fotografia)
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