A Buchholz é uma livraria com história. Foi fundada em 1943 pelo livreiro alemão Karl Buchholz, que deixou Berlim depois da sua galeria de arte e livraria terem sido destruídas pelos bombardeamentos. A atividade de Buchholz era incompatível com o regime de Berlim, nomeadamente a venda de autores considerados proscritos, como Thomas Mann. No entanto, a relação de Buchholz com o regime era algo dúbia pois tanto compactuava em manobras de propaganda alemã como salvava da fogueira obras de Picasso e Braque, condenadas pela fúria nazi.
Karl Buchholz fugiu da Alemanha e escolheu Portugal para abrir a “Livraria Buchholz” na Avenida da Liberdade. Ali se encontravam os melhores livros estrangeiros, uma novidade para os portugueses. Foi curta a passagem pelo nosso país e nos anos 50 muda se para a Colômbia, onde abre outra livraria.
Espaço para a tertúlia artística lisboeta
Quanto ao interior da livraria projetada pelo próprio Buchholz, esta foi pensada ao estilo das livrarias da sua terra natal. O espaço estendia-se por três andares, com recantos e sofás que proporcionavam uma intimidade dos leitores com os livros. Durante os anos 60, a tertúlia artística lisboeta, entre eles, Escada, Noronha da Costa, Eduardo Nery e Malangatana, passou pela cave da Buchholz que funcionou como galeria até 1974.
A seleção dos títulos era vasta e incluía várias áreas: artes, ciência, humanidades, literatura portuguesa e estrangeira, livros técnicos e infantis, na cave funcionava uma secção de música clássica e etnográfica. A secção dedicada à ciência política era frequentada por muitos políticos. Sá Carneiro, José Cardoso Pires, Mário Soares, António Lobo Antunes ou Vasco Graça eram clientes habituais.
Uma nova morada na década de 1960
Em 1965, a Buchholz instala-se na Rua Duque de Palmela, em Lisboa, com o mesmo espírito cultural que a caracterizava, recuperado com a intervenção da “Fundação Agostinho. Ao fim de 65 anos, a Livraria Buchholz encerra as portas a 23 de abril de 2009, depois de ter sido declarada insolvente por sentença judicial a 22 de janeiro desse ano. Em 2008 ganhou uma irmã gémea no Chiado que viria a fechar pouco tempo depois.
A 8 de abril de 2010, a Livraria Buchholz na Rua Duque de Palmela foi reaberta pela Coimbra Editores e o grupo editorial Leya, como uma livraria tipo generalista, mas mantendo se como um polo cultural. Passou a acolher eventos especiais como lançamentos de livros, sessões de leitura, e o “Domingo Especial” os saldos anuais da livraria, uma vez por ano, no último domingo de novembro.
Mais recentemente, o grupo editorial Leya escolheu a Livraria Buchholz para ser renovada “enquanto espaço bandeira, como um local cultural multifacetado, destacando o seu papel como um centro de literatura, música, arte e história, através de várias estratégias de comunicação”, refere o referido grupo em comunicado, para acrescentar que a nova livraria reabre destinada a “todos aqueles que procuram uma experiência curada, autêntica e compensadora associada aos livros e à cultura. Dos leitores ditos sérios, apreciadores dos grandes nomes da literatura, sejam eles clássicos ou contemporâneos, traduzidos ou no original, aos apaixonados por tudo quanto é novo e estão atentos às tendências globais, não só nos livros, mas também nas artes plásticas, na música e no design, passando pelos novos públicos, que procuram em linguagens como a das novelas gráficas tradução para os seus modos de estar, de pensar e de sentir. Ainda, os estrangeiros que vivem e visitam Lisboa, e que, além de pertencerem aos grupos anteriores, procuram bibliografia que os acompanhe na aventura de tentar ler a cidade e o país”.
Um espaço reorganizado
A nova Buchholz obedece a uma reorganização do espaço, redefinição do catálogo, criação de momentos permanentes de comunicação do capital narrativo e também exposições temporárias. A casa volta a ter uma zona dedicada à música. Irá não só acolher, mas também programar eventos. Entre as exposições permanentes destaca-se a mostra de objetos de trabalho de alguns dos mais marcantes autores de expressão portuguesa (e não só) dos últimos 50 anos e o espaço dedicado à fundação das Publicações Dom Quixote, hoje uma chancela do grupo Leya.
São perto de três dezenas de peças de 20 nomes da ficção, não ficção e poesia, incluindo manuscritos de José Saramago, António Lobo Antunes, José Craveirinha e Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Juntam se a estes, cadernos de notas, máquinas de escrever, cartas, fotos, mapas narrativos e mais. Cedidos pelos próprios, por familiares ou pelos seus editores, todos eles permitem novos vislumbres sobre os diferentes processos que levam à criação de um livro, dos fetiches às rotinas, passando pelo simples e fundamental labor.
Música e arte
Pegando na história da livraria, que em tempos acolheu uma discoteca clássica, a cave volta a acolher um espaço dedicado aos discos objeto, ou seja, em vinil (e de tempos a tempos em k7) com uma curadoria que acompanha o catálogo de livros: música portuguesa (dos clássicos aos contemporâneos), nomes incontornáveis da música popular (pop, rock, jazz, funk, hip hop e eletrónica), novas tendências e edições especiais. Acompanhará a venda de discos e a venda de livros dedicados à música.
A cargo da IconShop, haverá um regresso permanente da Buchholz às artes plásticas, no mesmo espaço que na origem dava lugar à galeria de arte.
Comentários