Nasceram e cresceram rodeados de tecnologia, com acesso à Internet, pelo que não é de surpreender que utilizem ativamente todas as vantagens que a era digital lhes proporciona. A partir dos três anos de idade, a maioria tem o hábito de jogar e ver vídeos online. Aos 8 anos, muitas já sabem fazer compras online e aos 10 anos, já dominam as noções básicas de programação e as ferramentas de IA. Mas quando e como é que elas começam a rentabilizar as suas atividades digitais?

Nos últimos anos, os especialistas detetaram uma tendência interessante nas crianças pertencentes à Geração Alfa -- para um número cada vez maior de crianças, a Internet não é apenas um local para gastar dinheiro e divertir-se, é uma plataforma para se expressarem e ganharem dinheiro de forma criativa. Por exemplo, mais de 70% dos jovens nos EUA e na Europa afirmam que ter os seus próprios rendimentos é importante e 42% dos adolescentes já conseguem ganhar dinheiro online.

E como é que os jovens ganham os seus primeiros rendimentos digitais e que possíveis ciberameaças enfrentam?

Escrever um blog

Os "Kidfluenсers", crianças com muitos subscritores e com contratos assinados com grandes marcas, operam na atual blogosfera como se fossem uma marca. Devido ao conteúdo original, à capacidade de explorar as últimas tendências, às imagens brilhantes e às histórias da vida real, os blogues infantis estão a ganhar popularidade.

O número de subscritores nas contas do YouTube, Instagram e TikTok dos cinco principais influenciadores infantis a nível mundial atinge, em alguns casos, centenas de milhões de utilizadores. O seu rendimento médio anual ronda os milhões de dólares, podendo variar entre os 10 e os 30 milhões de dólares, sendo que a maioria deles ainda nem sequer é adolescente.

A forma mais comum de uma criança rentabilizar o seu blogue é através de contratos de publicidade. Nos últimos anos, as estratégias de promoção de muitas marcas pensadas para crianças foram construídas com base na colaboração com estes jovens bloggers.

Tanto as empresas mundialmente famosas, como a Mattel, a Hasbro ou a Lego, como as marcas locais mais pequenas, estão a mostrar interesse nos blogues infantis. Mesmo os influenciadores com um público relativamente pequeno podem atrair alguns anunciantes.

No entanto, a exposição traz riscos. As crianças que criam blogues e que vivem do mediatismo estão constantemente expostas a inúmeras ameaças: esquemas de phishing disfarçados de ofertas de cooperação falsas, alegadamente enviadas por uma marca, ou hiperligações ou documentos enviados que podem levar ao download de malware, causando perda de informação ou monetárias e ao roubo de contas.

Para enganar os utilizadores, os atacantes recorrem à criação de páginas de marcas falsas semelhantes às reais. É por esta razão que tanto os jovens como os pais, que muitas vezes atuam como os seus gestores, têm de estar muito atentos a quaisquer tentativas de esquemas fraudulentos. Uma estratégia é optar por uma solução de cibersegurança fiável que ajude a garantir a segurança dos jovens utilizadores e dos seus dispositivos.

Jogos online

Muitos dos jovens gostam de jogar online e muitos encontraram uma forma de capitalizar a sua atividade favorita. A programação, a redação de críticas, a avaliação de jogos e o "skin gambling" são apenas alguns exemplos de como as crianças podem ganhar dinheiro com os jogos online.

Um pequeno grupo de crianças pode mesmo tornar-se concorrente profissional de desportos online e participar em torneios regionais e internacionais, ganhando prémios substanciais em dinheiro. Por exemplo, o vencedor mais jovem da história do campeonato internacional de Dota 2 tinha apenas 16 anos na altura da sua vitória.

Os jogadores menores estão a conquistar gradualmente o espaço dos jogos online. Em alguns jogos mundialmente famosos, como o Roblox ou o Minecraft, o seu número ultrapassa os 40% dos utilizadores. No entanto, estes jogos populares tornam-se um alvo para os atacantes. A Kaspersky, empresa global de cibersegurança e privacidade digital, concluiu que o número de jovens jogadores visados por cibercriminosos em jogos online aumentou 30% no primeiro semestre de 2024 em comparação com 2023.

Há, cada vez mais, uma necessidade de tomar medidas proativas para proteger este tipo de rendimento digital. Os especialistas aconselham os utilizadores a criar passwords fortes e seguras e a evitar downloads de fontes não fiáveis como formas de se protegerem. A salvaguarda dos dados financeiros e pessoais é uma das regras fundamentais para proteger os lucros conquistados online.

Criptomoeda e vendas online

O comércio de criptomoedas e a venda de artigos online estão a ganhar popularidade entre as crianças, apesar das restrições em vigor.

A comercialização de criptomoedas é o processo de compra e venda de moeda virtual para obter uma margem sobre as flutuações de preço e as restrições legais às criptomoedas variam de país para país. Na maioria dos países, onde a negociação de criptomoedas é oficialmente permitida, não existe uma proibição oficial de os menores realizarem transações de criptomoedas. No entanto, as principais plataformas de negociação, como a Binance ou a Coinbase, exigem que os utilizadores tenham pelo menos 18 anos de idade para criar uma conta. Contudo, existem várias opções de contorno, como contas criadas e geridas pelos pais ou plataformas especializadas para comercialização de criptomoedas para crianças e jovens, como a “Crypto For Kids”. A principal condição nestes casos é que todas as transações devem ser aprovadas e supervisionadas pelos pais ou tutores.

As regras são praticamente as mesmas para a venda de artigos online. As crianças podem utilizar livremente as plataformas como o Ebay, a Amazon, entre outras, para vender brinquedos, livros, roupas e até objetos feitos à mão. Para evitar serem bloqueadas, as suas contas devem ser criadas pelos pais ou estes devem disponibilizar uma autorização oficial.

As atividades comerciais online têm normalmente de estar ligadas a um cartão de pagamento ou a uma carteira online, o que atrai a atenção dos autores de fraudes. A análise de cibersegurança da Kaspersky mostra que as ligações e os websites falsos, destinados a roubar os dados bancários de um utilizador ou a fazer a aquisição de uma conta ou carteira digital, são fraudes populares de criptomoedas.

As crianças, bem como os pais, devem ser muito seletivos com os websites e aplicações onde introduzem os seus dados pessoais, como os códigos PIN ou as suas passwords, e devem sempre verificar as ofertas especiais feitas online. Para reduzir o risco de perda de dinheiro, é crucial pensar em soluções de proteção de pagamentos online que detetem ligações de pagamento maliciosas e impeçam a interceção dos dados dos cartões de crédito.

De um modo geral, a independência financeira das crianças na Internet regista uma tendência ascendente notória. A tecnologia digital já está a tornar os "lucros das crianças" uma prática comum, moldando drasticamente os hábitos online da Geração Alfa. Porém, o mundo digital exige que as crianças tenham uma atitude adulta e consciente em relação a todos os potenciais ciberriscos, para que as suas experiências digitais continuem a ser positivas e seguras.