São “bibliotecas de castas” e estão instaladas em zonas de climas diferentes: na quinta do Ataíde, no Vale da Vilariça, na Quinta do Bomfim, no Pinhão, e na vinha da Tapadinha, perto da Quinta do Retiro no vale do Rio Torto.
“Esta coleção visa preservar o património genético que temos na Região Demarcada do Douro”, afirmou à agência Lusa Fernando Alves, responsável pela área de desenvolvimento e investigação da Symington, durante uma visita à Quinta do Bomfim onde, nesta altura do ano, as vinhas estão despidas e no terreno os trabalhos incidem, sobretudo, na poda das videiras.
O objetivo destas “bibliotecas” é ampliar o conhecimento sobre castas autóctones do Douro e de outras de âmbito nacional e as mudanças climáticas tornaram este trabalho de investigação “particularmente relevante”, já que aqui estão também a ser investigadas quais as variedades que são mais resistentes ao calor e à seca.
Nas vinhas laboratório da empresa é estudado, segundo detalhou Fernando Alves, o comportamento de mais de 50 castas de uvas, “analisando-se os aspetos enológicos, vitícolas e, sobretudo, fenológicos porque permitem conhecer a dinâmica do ciclo de cada uma das castas, desde o abrolhamento ao pintor e ao período de maturação”.
O responsável disse que, em relação a 10 destas castas, estão a ser estudados de forma mais detalhadas os mecanismos que usam para “lidar com questões relacionadas com stress hídrico, térmico e luminoso”.
“Se percebemos como funcionam podemos entender melhor o impacto das alterações e podemos procurar formas de contornar alguns dos efeitos nocivos que se possam vir a fazer sentir”, frisou.
Nas propriedades da empresa a escolha das castas a plantar é efetuada de forma criteriosa tendo em conta a investigação que tem sido feita.
A Symington, uma das maiores produtoras de vinho da Região Demarcada do Douro e do país, integra atualmente dois projetos europeus: o Vineyards Integrated Smart Climate Application (Visca) e o robô VineScout.
Estes são, para Rob Symington, membro da quinta geração da família e responsável pela área da sustentabilidade, “projetos chave” para ajudar “a responder ao risco e à ameaça grave das alterações climáticas”.
“Em termos de alterações climáticas nós temos três áreas de foco: a primeira é adaptar às alterações que, sem dúvida, já estão a acontecer e que vão, infelizmente piorar, a segunda é reduzir o nosso contributo ao problema, reduzir as nossas emissões, e a terceira área é usar a nossa voz e a nossa plataforma para chamar a atenção a este problema”, afirmou à Lusa.
E continuou: “este é um risco existencial que estamos a levar muito a sério”.
Com um orçamento de 3,2 milhões de euros, financiado por fundos comunitários, o Visca junta um consórcio de 11 parceiros de Portugal, Espanha, Itália, França e Reino Unido, e está a analisar o impacto das alterações climáticas na produção de uvas na Europa.
O projeto está também a desenvolver um serviço climático de precisão ao nível local e temporal que ficará disponível para os viticultores e ajudará a programar, planear ações e mitigar o efeito das condições atmosféricas.
O projeto está ainda a estudar algumas práticas culturais, ao nível da gestão da parede de vegetação da videira, que permitem reposicionar o seu ciclo vegetativo e, no fundo, levar outra vez a videira a terminar o seu período de maturação, no período considerado ideal para uma determinada casta e local.
O robô VineScout destaca-se pela capacidade de monitorizar a vinha de forma autónoma e com recurso a propulsão elétrica e energia solar.
Pretende-se que este robô seja capaz de fazer medições de parâmetros chave na vinha que apoiem a viticultura, como o controlo do estado hídrico da videira, que permite uma correta gestão da disponibilização de água, e a temperatura da folha da videira e o vigor da planta.
O VineScout tem um orçamento de dois milhões de euros, dos quais 1,7 milhões de euros são financiamento comunitário.
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