Em comunicado, a Associação Portuguesa de Carp Fishing (APCF), que tem a concessão da Zona de Pesca Lúdica da albufeira da barragem da Boavista, naquele concelho alentejano do distrito de Beja, denuncia o que considera “um crime ambiental” que atribui à Herdade dos Toucinhos.
A APCF acusa a empresa de fazer, “ano após ano”, “um uso irresponsável, criminoso e completamente inconsequente do ponto de vista ambiental e da preservação dos ecossistemas” da água da albufeira, como se fosse sua e para “uso exclusivo”.
Por isso, denuncia, o nível de água da albufeira “está criminosamente baixo, resultante da captação desenfreada e desregrada de água para regadio por parte da Herdade dos Toucinhos”.
As consequências “serão de uma gravidade tal que resultará na morte, premeditada e inconsciente, de milhares de peixes” na albufeira, frisa, alertando que se está “a dias deste desfecho caso nada seja feito” e sublinhando que alguns destes peixes são “os maiores exemplares em Portugal” da espécie carpa.
É daí que advém, acrescenta, a referência à albufeira como “meca do carpfishing (pesca de carpa) português”.
Confrontado pela Lusa com a acusação e a denúncia da APCF, o diretor-geral da empresa agroindustrial Herdade dos Toucinhos, Nuno Rodrigues, disse que “é completamente falso que há um crime ambiental”, porque “a albufeira está acima do nível ecológico, não há peixes a morrer e não vão morrer peixes na barragem da Boavista”.
“Crime ambiental seria se estivéssemos a usar [água] com a albufeira abaixo do nível ecológico, [mas] está a ser cumprido”, afirmou, referindo que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sabe qual é o atual nível da água.
O nível ecológico da albufeira da Boavista “é na cota 302” e, atualmente, o nível da água “está na cota 304”, precisou Nuno Rodrigues, referindo que “não se irá chegar” ao nível ecológico, porque a empresa vai monitorizando.
A empresa, a concessionária da exploração da água da albufeira para rega, tem um programa de monitorização e um plano de eficiência e uso da água “muito apertados” e “dá à APA cumprimento da lei e dos volumes que está a gastar”, frisou o responsável.
“Temos tudo certo. Há um nível mínimo ecológico para garantir uma margem já muito grande de que as espécies que lá estão vivem e que está a ser controlado pela Herdade dos Toucinhos”, disse o diretor-geral da empresa, que está em Almodôvar desde 2016, tem “82 hectares de vinha e 10 de plantas aromáticas”, explora gado em regime extensivo e “emprega cerca de 30 pessoas”.
Segundo a associação, “este ano, assustadoramente e apesar dos alertas”, assiste-se “a um penoso caminho que levará à morte iminente dos milhares de peixes que vivem” na albufeira e “sem que as entidades competentes intervenham em conformidade com as suas competências, regulamentos e leis”.
A APCF denuncia a “‘normal convivência’ da APA com este tipo de situações (e com esta em concreto)”, o que considera “extremamente angustiante”.
A APA, “sempre que alertada” para este caso, “respondeu dizendo que ‘não entende as referências a níveis mínimos de exploração’, uma vez que a captação de água é uso prioritário, deixando subentendido que qualquer impacto que isso possa ter na biodiversidade e nos ecossistemas não [é] assunto de interesse e/ou, sequer, [de] preocupação”, indica a associação.
A associação “estranha” que a APA “nunca tenha considerado quotas mínimas” na captação de água na albufeira da Boavista, “uma vez que tal compromete a sua sustentabilidade”.
A Lusa pediu uma reação à APA, mas ainda não obteve resposta.
Segundo a APCF, a albufeira da Boavista “caminha para o seu esvaziamento total”, o que terá como “resultado imediato” a “total aniquilação da vida aquática ali existente” e a “exterminação de outras espécies que ali fizeram o seu habitat e que dela dependem”.
A situação também “resultará na destruição de uma zona de lazer e pesca desportiva”, onde apenas é praticada a modalidade pesca sem morte, que a APCF "promove e defende”, e que é “procurada por muitos pescadores nacionais e estrangeiros”, já que se trata “de uma das melhores barragens do país para esta prática”.
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