Nunca se falou tanto em apertar o cinto como agora. Basta abrir um jornal ou assistir à abertura de um telejornal.
A crise e tudo o que lhe está associado, como desemprego, redução de salários, cortes no subsídio de Natal, inflação e a troika, assustam qualquer um, mas não adianta fechar-se em casa à espera que passe, até porque, pelo cenário atual, ainda vai demorar.
Não há fórmulas mágicas, por isso reunimos os conselhos de dez especialistas para que possa gastar menos sem renunciar ao que a vida tem de bom. Basta mudar alguns hábitos, como explica Pedro Maia Gomes, economista e professor na Universidade Carlos III de Madrid. «O que é preciso é um esforço para usar melhor os recursos que já tem disponíveis. Estudos no Reino Unido concluem que uma família gasta, em média, 800 euros por ano em comida que não chega a ser consumida», refere este especialista.
«Em Portugal, não será menos. Muitos restos ficam no prato e muita comida passa de prazo no frigorífico ou na despensa. Mas os desperdícios não são só na comida. Quantas vezes deixamos a luz da sala ligada ou a torneira a pingar? Porque vamos ao ginásio correr na passadeira, quando podemos fazê-lo na rua? Individualmente, cada uma destas atitudes pode poupar muito pouco, mas tudo acumulado ao longo do ano, pode equivaler a centenas de euros», sublinha ainda.
Agora ponha mãos à obra e poupe sem grande esforço:
Finanças
«Fazer um orçamento familiar é o primeiro passo para ter umas finanças saudáveis, pois permite observar quais as despesas que pesam mais no orçamento e definir onde é possível poupar», afirma Joaquim Madrinha, jornalista especialista em finanças pessoais e coautor do livro «Como Salvar a Minha Reforma» (Lua de Papel). Pode começar, como refere Ana Galán, autora do livro «Como Poupar Sem Perder a Cabeça» (Everest Editora), por anotar todo o dinheiro que «gastou e em quê, para analisar o que é imprescindível».
Este gesto «pode até mudar hábitos de consumo. Isto porque a maioria das pessoas não se apercebe do dinheiro que gasta ao longo do mês em pequenas coisas. Por exemplo, quando ficamos a saber que tomar o pequeno-almoço fora custa 60 euros por mês, quase que somos estimulados a levantar dez minutos mais cedo para comer em casa», acrescenta Joaquim Madrinha.
O orçamento ideal
Como diz Bárbara Barroso, jornalista de economia, no livro «Tempos Complicados Soluções Simples Aprenda a Gerir Melhor o Seu Dinheiro» (Oficina do Livro), «não existe uma receita infalível ou um modelo perfeito para sabermos qual a melhor forma de gastar o seu dinheiro», mas pode seguir, adaptando, está claro, ao seu estilo de vida, o orçamento-modelo para quem tem um vencimento de 1000 €: 350 € para habitação, 250 € para alimentação, 150 € transportes, 150 € outros créditos e 100 € para poupança.
Todos os meses deveria conseguir poupar, pelo menos, «dez por cento do seu rendimento. Se receber 1000 €, faça uma transferência de 100 € logo quando recebe o salário. É uma forma de poupar o que se planeia », afirma Pedro Queiroga Carrilho, especialista e formador em finanças pessoais.
Aplicações financeiras
Se tem algumas economias de parte, «neste momento, os Títulos de Tesouro, oferecem taxas de juro muito apelativas caso se queira manter o dinheiro a dez anos. Nos bancos também existem aplicações de longo prazo com taxas de juro bastante atrativas», refere.
«Para os amantes do risco, não será de ignorar a possibilidade de investir num leque variado de ações», aconselha Pedro Maia Gomes. «Fundos de ações, matérias-primas ou obrigações devem ser escolhidos por quem tem conhecimento e muito bem analisados», alerta Pedro Queiroga Carrilho.
Criar riqueza
Diversificar rendimentos «é o único caminho para se criar mais riqueza e sair desta crise. Só se pode poupar quando há dinheiro e a maioria dos portugueses tem de ganhar mais dinheiro», afirma Pedro Queiroga Carrilho. E, para isso, diz, «é preciso investir no seu desenvolvimento pessoal e qualificação. Áreas de investimentos e empreendedorismo, onde há maior risco mas também maior retorno, não são ensinadas nas escolas, pelo que têm de ser procuradas».
Este especialista em finanças pessoais realça ainda que é «uma boa altura para todos os negócios com projeção internacional e criados a partir de cá».
Empréstimos máximos
As prestações dos seus empréstimos «nunca devem representar mais do que 40 por cento do rendimento mensal», alerta Susana Albuquerque, coach de Finanças Pessoais e autora do livro «Independência Financeira para Mulheres» (Estrela Polar). Antes da contratação dos empréstimos, «é essencial fazer uma simulação em que se preveja o aumento das taxas variáveis em mais um ou dois por cento, para saber se o orçamento mensal suportará esse aumento».
Se na altura não pensou nisso e agora está com dificuldades e suportar o aumento das prestações, pode, como explica a coach, «optar por aumentar o prazo de empréstimo, reduzindo o valor da prestação, ou caso haja poupanças poderá amortizar uma parte ou a totalidade do empréstimo. Atenção, se escolher a primeira opção o banco poderá rever o spread e aumentar, assim, o valor da prestação mensal», acrescenta a mesma especialista.
Carro versus autocarro
Uma boa parte do nosso orçamento mensal é gasta em transportes e, como diz, Joaquim Madrinha, «há pessoas com poucas hipóteses de cortar nestas despesas». No entanto, para poupar deve «ter uma condução mais económica ou deixar o carro em casa e optar pelos transportes públicos que, apesar de terem aumentado, continuam a ser uma alternativa mais económica», refere o jornalista.
Comunicação inteligente
Televisão, internet e telemóvel. Todos estes itens representam uma despesa mensal fixa, mas «será que precisa de ter 110 canais de televisão e Internet super-rápida quanto só está em casa quatro ou cinco horas por dia?», questiona Joaquim Madrinha. Com os telemóveis, deve ter o mesmo raciocínio.
«Faça uma monitorização e escolha a opção mais económica. Até tem a tarefa facilitada porque existem simuladores (no site da Anacom e da DECO por exemplo) muito práticos para apurar a solução mais em conta», alerta o jornalista.
Texto: Rita Caetano com Anabela Almeida (publicitária), Ana Galán (escritora), Filipe Morato Gomes (jornalista, especialista em viagens), Helena Cid (nutricionista), Helena Penteado (consultora de imagem), Joaquim Madrinha (jornalista, especialista em finanças pessoais), Pedro Lobo do Vale (médico de clínica geral), Pedro Maia Lopes (economista), Pedro Queiroga Carrilho (especialista em finanças pessoais) e Susana Albuquerque (coach de finanças pessoais)
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