Voltou ao Algarve assim que terminou o curso na Fundação Ricardo Espírito Santo?
É verdade. Casei-me muito jovem e regressei à minha terra onde o meu marido era diretor bancário. O meu primeiro trabalho foi num hotel do Algarve como secretária. Só depois do divórcio é que dei início à minha atividade de decoradora de interiores, exatamente aquilo que eu gostava de fazer.
Era a sua grande paixão?
Sem dúvida. E nunca precisei de sair do Algarve. Trabalhei sempre a partir de lá. E como tinha muitos amigos pintores e escultores, que conheci enquanto estudei em Lisboa, mantive sempre muito bons contactos com a arte e os artistas e foi também graças a eles que consegui clientes.
Faziam projetos em conjunto?
Muitas vezes. Daí a minha ligação permanente a Lisboa e também ao Porto, onde vi um tecido oriental que marcou a minha atividade. Fiz um sofá que foi um sucesso tão grande que acabei por vender centenas... Desde muito cedo que fui sempre mais à frente do que o meu tempo!
Ainda se lembra do seu primeiro trabalho?
Foi uma residência no Algarve. Nessa altura as pessoas compravam casas para férias e gastavam muito dinheiro na decoração. Depois um traz o outro e nunca mais parei. O meu cliente sempre foi um target médio-alto.
A sua loja ainda está em Vilamoura?
Sim. Gosto de grandes metrópoles e Vilamoura/Quinta do lago/Albufeira continuam a ser os locais mais cosmopolitas do Algarve. Comecei por decorar as casas de férias e claro que acabei a decorar as casas de Lisboa, do Porto, de Aveiro... Corri o país inteiro a decorar as casas dos meus clientes.
Teve algum cliente famoso?
Decorei a casa do Herman José e de várias figuras públicas da televisão, casas de grandes empresários nacionais e estrangeiros e políticos! A última é pertença do maior hoteleiro do mundo!
Também decorou empresas?
Fiz o Sheraton, as Dunas Douradas, Country Club, Monte Rei, Monte da Quinta, Lusorte, Oceânico, tudo no Algarve. A minha obra em termos de hotéis começou no Pine Cliffs e estendeu-se às casas de quase todos os clientes do hotel. Aliás, ainda hoje continuo a fazer as remodelações dessas casas.
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Cheia de cor e muito feminina. Aquela clínica está cheia de energia positiva que lhe é dada pelos tons criados! As cores que usamos nos diferentes ambientes que criamos, desde que corretamente seleciondas, contribuem eficazmente para o nosso bem estar físico e psicológico.
Os seus clientes estão sempre disponíveis para a cor?
Tenho clientes para tudo, para casas coloridas e para casas calmas. A primeira coisa que tenho de entender é o meu cliente, até porque a primeira abordagem é uma conversa em que também tenho de ser um pouco psicóloga.
Há algum trabalho especial, que lhe tenha dado um especial prazer?
A clínica da Dra. Alexandra Osório e uma casa que fiz para uma cliente inglesa nos Olhos de Água. Foram dois projetos fabulosos! Desde a escolha e venda dos materiais de construção, até à colocação dos mesmos. Fazemos remodelações completas!Em termos de materiais e decoração trabalhamos com as melhores empresas e melhores designers do mundo!
Também faz exposições na sua loja em Albufeira?
Faço. Adoro arte e não cosigo dissocia-la do vetor decoração!A minha loja foi totalmente desenhada por mim e como o espaço é magnífico, aproveito-o para exposições de pintura e escultura. A arte está sempre presente na minha vida. Passaram por lá o Domingos Oliveira, a Conceição Rosa, Raquel Martins, Alfredo Coelho, Rogério Timóteo, Moreira das Neves, Pomar e muitos outros...
Pode até transformar uma peça clássica, como um candeeiro, por exemplo, numa verdadeira obra de arte, acrescentando-lhe elementos improváveis?
Foi o que fiz para a clínica DermAge. Eu e o Tim Madeira (colaboramos em conjunto há muito tempo) pegámos num candeeiro de teto e enchem-mo-lo de barbies. Agarrei nuns manequins também usados e com a ajuda do meu amigo Tim, recuperámo-los e coloquei-os ao fundo da clínica. Como é uma clínica de rejuvenescimento acho que faz todo o sentido.
A decoração também é moda. Inspira-se onde?
A decoração é cada vez mais moda e temos de acompanhá-la. Atualizo-me nas viagens, nas feiras internacionais, na Internet e nas coisas que leio em livros e revistas, até porque os meus clientes são muito exigentes e estão atentos às novas tendências e querem passar uma imagem atualizada.
As coisas antigas já não se usam?
Há quem faça questão de preservar uma ou outra peça de família, e eu acho que há peças que, pela sua qualidade, pela sua história, por razões emocionais não nos é possível separar delas... No entanto a grande maioria dos clientes hoje, quer é sentir-se no mundo atual e acompanhar a moda.
Gosta de moda?
Adoro. É outro dos mundos a que eu podia estar ligada. Ainda hoje desenho muitos dos meus casacos que mando fazer. Pego nos tecidos de decoração e faço casacos que é uma das minhas peças de vestuário preferidas.
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Os portugueses são mais fechados, e têm mais medo de desafios, arriscam menos. Os ingleses, sobretudo a faixa etária entre os 40 e os 50 anos, são mais ousados!
Também já decorou fora de Portugal?
Já decorei casas em Londres, na Riviera Francesa para duas condessas alemãs, fiz a casa dos donos do Vilalara na Suiça, e também decorei as casas dos donos do Pine Cliffs e dos familiares no Kowait e na Arábia Saudita. Já mandei navios cheios de mobiliário para estes países...
Como é o seu dia a dia?
Sou uma workaholic. Sempre fui abelhinha desde pequena: gostava de estudar e hoje gosto muito de trabalhar. Acordo cedo, por volta das 7h30, passeio as minhas cadelas gosto muito de animais e cães sobretudo) e vou para a loja onde fico até ao fim do dia.
Emprega quantas pessoas?
Já fomos 16, neste momento somos oito. Tenho um arquiteto de interiores que é meu sobrinho, duas designers, (uma das quais é minha irmã e sócia na empresa), pessoas na confecção, montadores, pessoas na contabilidade e uma diretora financeira. Não passa tudo por mim, mas estou a par de tudo. Gosto mais de criar pelo que obviamente tenho de delegar tarefas.
E nos tempos livres?
Faço algum trabalho de caris social, pelo que ao fim da tarde, além do ginásio e dos telefonemas para as amigas e família, ainda tento distribuir alimentos que me são oferecidos por uma empresa do ramo alimentar, e que em conjunto com duas amigas, me encarrego de distribuir por pessoas que temos sinalizadas como necessitadas. Tento sempre terminar o dia a ler...Um livro, a Visão, a Sábado e a Exame que assino...
Tem a família toda no Algarve?
Tenho um irmão e um sobrinho em Lisboa. Este irmão é mais novo 20 anos e adora escrever, é um intelectual.
O seu filho também está ligado à empresa?
Não. O meu filho estudou cinema mas acabou por se apaixonar pela música que estudou sempre em simultâneo no Conservatório. Temos todos um pouco de artistas. O meu filho é casado com uma psicóloga e trabalha como músico, e tenho um neto que é a minha grande paixão.
Viaja muito?
Adoro viajar e gosto de sol mas raramente viajo para destinos de sol porque tenho praia praticamente o ano inteiro no Algarve. Gosto de viajar para países com uma cultura e história ricas, para regressar mais “sábia”, mas também gosto de ver como as pessoas vivem. Socialmente sou curiosa e muito preocupada!
E tem uma forte ligação a Itália.
Adoro Itália, mas sobretudo Florença. A nossa empresa é a única empresa portuguesa que faz parte do portefólio da Cavalli(mobiliário). Não por eu adorar Itália, mas sim por se tratar de um reconhecimento por parte da marca, no que toca ao nosso trabalho em relação à mesma...
Faz alguma coleção?
Não. Só de livros.
Tem uma vida preenchidíssima...
Uma vida cheia, que eu vivo com intensidade, seriedade, com valores, com honestidade, com alegria, com a consciência alerta e aberta para tudo o que me rodeia, vivendo um dia de cada vez e tentando sempre fazer desse dia o melhor da minha vida!
Texto: Palmira Correia
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