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Maria Coutinho
A tomar conta da quinta da família
Tem 28 anos, é de Lisboa, casou-se há quatro meses e desde então mora no Porto. Há três anos decidiu tomar conta da Quinta de Guimarães, uma casa de família em pleno Douro com 250 anos. Por lá passam sobretudo estrangeiros que vêm deliciar-se com a gastronomia e as belas paisagens do norte de Portugal.

Licenciada em Línguas Estrangeiras Aplicadas, pela Universidade Católica, e com uma pós-graduação em Gestão Hoteleira tirada na Suiça, a jovem empresária não pode estar mais entusiasmada com a sua nova atividade profissional.

Como foi o seu percurso profissional?

Gostava de me ter licenciado em Gestão Hoteleira mas fui aconselhada a tirar outro curso e acabei por me licenciar na Católica em Línguas Estrangeiras Aplicadas, o que acaba por ter um pouco a ver com o mundo hoteleiro e foi um curso muito interessante.

Começou por trabalhar em que área?

Nos recursos humanos, uma área muito ligada às pessoas como a hotelaria. Trabalhei um ano em consultadoria de recursos humanos, em recrutamento, uma experiência bastante absorvente que me obrigava a trabalhar 12, 14 horas por dia, percebi que não estava a ver-me a fazer aquele percurso muito mais anos.

E decide mudar o rumo à sua vida?

Falei com os meus pais e vi qual era a abertura deles a despedir-me e ir para uma certa aventura numa pós-graduação em Gestão Hoteleira na Suiça, tive todo o apoio, o que foi ótimo.

A experiência correspondeu às suas expectativas?

Perfeitamente. No fim da pós-graduação aceitei uma proposta onde fiquei seis meses em Genebra a trabalhar num hotel porque achei que era uma mais-valia experimentar a realidade profissional na Suiça.

Veio para Portugal logo a seguir?

Achei que tinha aqui uma oportunidade em que valia a pena investir. Ainda me convidaram para ficar mais um ano na Suiça, mas acabei por recusar para me dedicar a um projeto familiar.

Uma quinta no norte de Portugal?

Em 2005 os meus pais tinham recuperado uma quinta que nós tínhamos no Douro e estava fechada há 20 anos, e, apesar de terem montado a estrutura, receberam poucos hóspedes porque não havia o desenvolvimento publicitário necessário, a casa durante os três primeiros anos não teve quase movimento.

Com a sua chegada as coisas modificaram-se?

Cheguei em 2009 e comecei logo a fazer divulgação, criamos um site, divulgamos a quinta em inúmeros sites internacionais e outros meios.

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Usou todos os meios disponíveis para dar a conhecer a quinta?

Tentei diversificar ao máximo as parcerias que fiz, até realizei com inúmeras empresas através de descontos especiais para os colaboradores ou para os clientes.

E começou a correr bem?

No primeiro ano já se viu alguma mudança, mas no ano passado é que as coisas melhoraram significativamente, e este ano é a consolidação do nosso trabalho de três anos.

Quantos quartos tem a casa?

Temos 10 quartos, quatro na casa principal e dois apartamentos independentes especialmente vocacionados para receber famílias que optam por estadas prolongadas sobretudo no verão.

O que tem para oferecer aos seus hóspedes?

Uma piscina, e uma oferta bastante singular: um campo de volei com areia de praia no campo; temos bicicletas à disposição dos hóspedes que aproveitam para passear na mata, uma sala de matraquilhos e ping-pong, um court de ténis e uma vista deslumbrante para o rio Douro.

A quinta produz vinho?

Sim. A Quinta tem o jardim do bucho, bastante antigo, sete hectares de mata e 20 hectares de vinha, no entanto, temos mais 10 hectares de vinha em duas quintas perto, também na região dos Vinhos Verdes.

Os seus hóspedes são portugueses?

Mais de 50 por cento são estrangeiros. Vêm sobretudo de França, Inglaterra, Noruega e Dinamarca. Vêm de avião e depois chegam ao Porto e alugam um carro com GPS, o que é ótimo porque nunca se perdem. Às vezes com os portugueses é mais complicado…

Quem trata do vinho da sua quinta?

É o meu irmão. O meu irmão é empresário, e, simultaneamente, explora toda a parte agrícola da quinta.

Com os dois filhos mais velhos a tomar conta da quinta, os seus pais devem estar felicíssimos?

É verdade. Deram-nos sempre liberdade de escolha ao longo da vida, mas sempre percebemos que gostavam muito que nós trabalhássemos com eles.

Como se chama o vinho que produzem na quinta?

Cazas Novas, o nome vem de outra quinta pertencente à família. Produzimos vinho desde há mais de dois séculos, mas só criámos a marca há três anos. Ainda é um projeto embrionário, mas em que acreditamos, pois o negócio da uva está em dificuldades e a aposto num vinho próprio é o caminho mais acertado e um sonho que finalmente é concretizado.

O facto de estar no Porto a morar também ajuda?

Claro que sim, embora não tenha sido um entrave à gestão da quinta a distância, pois temos uma logística muito bem montada, estando mais perto, posso desenvolver certas áreas que ainda estavam por trabalhar.

O seu sonho é ter um hotel?

O meu sonho é ter um projeto grande na área social. Gosto muito da hotelaria, de me relacionar com os hóspedes, mas não tenho a menor dúvida de que a minha grande realização seria num projeto de âmbito social. No entanto, acredito que é possível conciliar os dois, não me vejo a largar a Quinta de Guimarães, é o meu “bebé” que tenho visto crescer.

Para este trabalho também se inspira em coisas que vê fora?

Sem dúvida. Viajo bastante mas gostava de viajar ainda mais, aprende-se imenso e há sempre mais para fazer.

Os hóspedes da sua quinta também podem passear de barco no Douro?

A dois quilómetros há um pequeno porto onde se podem fazer passeios de uma hora. Outro percurso que nós aconselhamos é apanhar o comboio na Ermida, que também fica a dois quilómetros, e fazer o passeio até à Régua ou até ao Pinhão, sempre rente à linha do rio Douro. É um passeio magnífico.

Tem memórias de infância desta casa?

Lembro-me de brincar nos jardins e das vindimas. Sempre sonhei casar-me nesta casa e realizei o meu sonho há quatro meses.

Gosta de morar no Porto?

Gosto. A vida é mais calma e as pessoas são muito acolhedoras.

Saiba mais em www.quintadeguimaraes.com

Texto: Palmira Correia