É administradora do Grupo Espírito Santo Saúde (ESS) e tem sob a sua responsabilidade quase seis mil colaboradores. Número que não a assusta minimamente. Isabel Vaz nasceu para liderar e assume que a sua maior motivação, para lá da família e dos filhos, são os hospitais, os médicos, as enfermeiras, a equipa que criou do zero, porque gosta muito do que faz.

“Fazemos bom serviço e tocamos na vida das pessoas de uma forma muito direta, e isso motiva-me, como me motiva motivar os outros”, diz ela nesta entrevista.

Como é que uma engenheira aparece a liderar um projeto grandioso como este, o Grupo Espírito Santo Saúde?
Sou engenheira mas tive um percurso profissional pela gestão porque entrei para a McKinsey, que é uma empresa de consultadoria de gestão estratégica, onde tive acesso a várias empresas numa altura fantástica do nosso país, nos anos 90, em que muita coisa aconteceu em termos de privatizações. Quando apareceu esta oportunidade, dada pelo Dr. Ricardo Salgado, foi bastante óbvio o interesse que esta tinha.

Como é que o presidente do BES chega até si?
Eu já trabalhava para o Grupo Espírito Santo e o Dr. Ricardo Salgado conhecia o meu trabalho enquanto consultora desde muito cedo, na McKinsey, e como tinha este projecto, que ele próprio tinha idealizado e lhe parecia importante que o Grupo Espírito Santo avançasse, convidou-me, e, para mim, foi um convite irrecusável.

Criar uma empresa de raiz foi o mais estimulante?
Sem dúvida. Criar um projecto de raiz é um desafio magnífico na vida de qualquer gestor e numa área que eu gosto particularmente porque o meu pai era médico e, desde muito pequenina, tive contacto com hospitais, médicos e com todo o mundo da saúde. Portanto, é um sítio onde me sinto bem.
Dirige quantas pessoas?
Neste momento cerca de seis mil. Claro que não estou sozinha, devo esta organização a um trabalho de uma equipa que tive o privilégio de poder escolher e, justamente porque é um projeto de raiz, pude recrutar as pessoas que me ajudaram a montar esta empresa. Somos, de facto, uma equipa que, de uma forma muito coesa, foi crescendo e orgulho-me de ter muitas pessoas de confiança que estão à frente das nossas várias unidades.

Quantos hospitais tem o grupo ESS?
Temos 18 unidades, embora não sejam todos hospitais, algumas são centros ambulatórios e temos duas residências vocacionadas para o segmento sénior. Todas as unidades têm, obviamente, gestores que são responsáveis no dia-a-dia pela organização dessas unidades.

O novo bebé do grupo é o hospital de Loures?
É verdade. Estamos todos empenhadíssimos em fazer mais uma unidade de sucesso, e estamos optimistas porque temos a felicidade de tudo em que nos metemos, ter corrido bem.

Esta é a primeira unidade de serviço público que o grupo ESS vai gerir?
Estamos habituados à gestão da saúde no contexto do financiamento privado e agora vamos fazê-lo no contexto de serviço público, do Serviço Nacional de Saúde. Daí ser mais um desafio muito bonito, porque montar um hospital é o maior de todos os desafios!

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Com tantas más notícias sobre o prejuízo dos hospitais públicos, qual é o segredo para ter hospitais a dar lucro?
Dentro do setor público há exemplos de excelência de gestão e também há maus exemplos, como em tudo na vida. Penso que a grande diferença poderá ser um sistema de incentivos porque, de facto, no setor privado não temos por detrás o pai Estado que nos acode se fizermos mal. Aqui a urgência e a noção de apresentar resultados são muito mais prementes.

O Hospital da Luz é a menina dos seus olhos?
Todas as unidades que criámos de raiz e saíram do papel em branco, onde tentámos mostrar novos paradigmas de organização dos cuidados de saúde, são projetos que nos marcam para sempre. O Hospital da Luz foi talvez o mais envolvente: só nos faltou carregar baldes de cimento. Por isso é um hospital especial, foi todo desenhado por nós, cada cadeira, cada porta de gabinete, tudo aquilo foi feito com amor.

Ainda se socorre dos ensinamentos do seu pai?
Os ensinamentos dele acompanham-me toda a vida.

Trabalha quantas horas por dia?
Muitas. Neste momento, como os meus filhos estão de férias com os avós, trabalho cerca de 16 horas. Durante o ano, trabalho habitualmente 12 horas por dia.

Que idades têm os seus filhos?
Já são enormes, o mais velho tem 17 anos e a minha filha tem 13. Temos uma relação ótima e partilhamos todas as nossas angústias. Não defendo nada aquele tabu de que em casa não se fala de trabalho. Falamos imenso, tanto eu como o meu marido dizemos o que nos correu bem ou mal durante o dia e eles falam da escola. Graças a esta abertura, os meus filhos orgulham-se imenso do trabalho dos pais.

Algum deles quer ser médico?
Não. A minha filha é artista, é uma miúda muito criativa, e o meu filho quer ser gestor ou economista.

O que a descansa e descontrai?
Os filhos descontraem-me. Também me descontraem os amigos e a leitura. Leio muito. Descontrai-me ouvir música e escrever.

Escreve para si ou gostaria de editar?
Não. Gosto de escrever e escrevo com a caneta.

Também viaja em lazer?
Obviamente tenho as minhas viagens de trabalho, mas eu e o meu marido temos por norma, agora que os miúdos estão mais velhos, andar a mostrar-lhes as capitais europeias. Faz parte da educação deles verem outras coisas. E também faço uma viagem por ano com amigos.

O que a motiva?
Muitas coisas: a minha família, ver os meus filhos a crescer com saúde, com graça, com caráter. Motiva-me deixar essa herança, e também me motivam os meus hospitais, os meus médicos, as minhas enfermeiras, a minha equipa. Gosto muito do que faço e motiva-me pensar que criámos uma empresa de raiz que, para todos os efeitos, presta um serviço relevante à sociedade, e que de alguma forma marcou este tempo porque a nossa marca é importante e considerada. Fazemos um bom serviço e tocamos na vida das pessoas de uma forma muito direta, e isso motiva-me, como me motiva motivar os outros.

Está bem com a vida?
Estou. Sou bastante feliz.
Texto: Palmira Correia