Uma paixão que começou a ganhar forma quando ainda era muito pequenina e adorava tudo o que envolvesse aventura. O céu é o limite para Diana Gomes da Silva, uma jovem determinada que ainda vai dar muito que falar.
Brincava com aviões quando era pequenina?
Sempre adorei carros, motos, tudo o que fosse motorizado, e muita adrenalina. Os meus pais lembram-se de me dizer desde muito pequenina: ”Diana não saltes daí”, “Diana vais-te magoar”, “Diana não sabes voar”, passei a minha infância toda assim, era hiper traquina.
Nunca lhe aconteceu nada grave?
Estava sempre de braços partidos, passava a vida a magoar-me, mas era muito determinada.
O que dizia que queria ser quando fosse grande?
Queria ser astrofísica. O céu sempre me fascinou imenso, mas como a astrofísica é uma ciência muito difícil e pouco palpável, por volta dos 15, 16 anos, percebi que tinha de seguir outro rumo profissional e, como a paixão pelos aviões estava a crescer, comecei a definir que o meu futuro passaria por aí.
Nunca teve pilotos na sua família?
Curiosamente o meu avô foi PPA (Piloto Particular de Aeronaves) e tinha uma enorme paixão por aviões mas não chegou a passar-me essa paixão, porque, quando morreu, ainda estava convencido que eu ia ser astrofísica.
E o seu pai?
O meu pai foi médico na Força Aérea e quando era criança tive um contacto muito próximo com os aviões, por isso acredito numa predisposição genética para as coisas, embora o meu pai diga que são acasos da vida.
Saiba mais na próxima página
Os seus irmãos também gostam de aviões?
Tenho seis irmãos, com os emprestados, mas nenhum deles liga muito, só se for o mais pequenino que cresceu a ouvir-me falar de aviões e vai ver os meus espectáculos todos. Um é surfista profissional de ondas grandes (está agora no Hawai) a minha irmã está em Medicina, o Zé Maria é um craque em paintball, armas, jogos de computador e informática, o António Maria tirou Arquitetura e o Pedro tirou Hotelaria. O Dudinha como só tem cinco anos, não faço ideia o que vai seguir, mas adora vestir a minha farda.
Decide então ser piloto com 16 anos?
É verdade. O primeiro passo foi juntar dinheiro para pagar o curso de piloto particular porque queria primeiro que tudo saber se tinha aptidão. Falei com uma “tia”, amiga da minha mãe, que tinha uma companhia aérea, e ela convidou-me a trabalhar na Airluxor durante umas férias de Verão como assistente de bordo, e aí fiquei mesmo com a certeza que queria ser piloto de linha aérea.
E começa então a fazer o curso?
Sim, mas, de facto, no curso de piloto não se aprende absolutamente mais nada senão pilotar um avião, e está sempre associado a uma licença médica, perdendo a licença médica por qualquer problema se saúde que surja ao longo da vida, como, por exemplo, começar a ver mal, fica-se desempregado, nesse sentido é uma profissão muito ingrata.
Por isso fez uma licenciatura em simultâneo?
Tirei comunicação social na Universidade Católica ao mesmo tempo que fazia o curso de piloto de linha aérea. Acabei com 21 anos, altura em que comecei a trabalhar em linha aérea e a dar instrução na Omni, a escola onde eu cresci profissionalmente, mas, mais do que isso, pessoalmente, e com a qual continuo a ter uma excelente relação. Adoro trabalhar lá e adoro as pessoas.
Entrou para a Sata Internacional há quantos anos?
Há três anos, onde sou co-piloto 320, continuo a dar aulas em Tires, e colaboro com a revista Syrius para onde escrevo sobre segurança de voo. Escrever é outra das minhas paixões, adoro escrever sobre aviões e sobre viagens. Tenho o maior prazer em partilhar as aventuras das minhas viagens.
Viaja sozinha?
Viajo com o meu pai, de preferência, para destinos longínquos e exóticos.
Saiba mais na próxima página
Fez o primeiro voo de acrobacia com que idade?
Com 21 anos. Fui com um amigo que tinha um avião para Évora e desde o momento que fiz a primeira puxada de “G’s”, a sensação foi tão boa, que nunca mais quis outra coisa!
O seu namorado também é piloto de longo curso e de acrobacias?
Sim, partilhamos os dois a mesma paixão pela aviação. A nossa vida é só aviões.
Como é que uma jovem da sua idade consegue ter um avião?
Comprei-o com 24 anos com um empréstimo bancário. E pago mensalmente como as outras pessoas pagam o carro ou a casa. As minhas economias são todas canalizadas para este desporto, ou seja, o dinheiro que eu ganho como piloto de linha aérea, invisto 100 por cento no avião.
Só uma grande paixão suportaria um esforço tão grande?
Acredite que é mesmo um sacrifício enorme. Para além da prestação ao banco, gasto uma fortuna nos treinos, sobretudo no combustível que custa dois euros o litro, e gasto um litro por minuto. Como faço treinos de meia hora e nunca menos de três treinos por dia, veja o que eu gasto só em combustível...
As manutenções também não devem ser nada baratas?
O que é mais caro não é o avião, é a manutenção. Ainda há dois meses tive uma falha de motor sobre a Praia Grande que me obrigou a aterrar em Sintra com o motor parado e em posição invertida.
Não aconteceu nada ao avião?
Absolutamente nada. Mas o motor partiu e tive de comprar outro.
O que se sente num momento destes?
Até parar o avião e desligar a chave estava calmíssima. Aliás, a minha voz nas comunicações estava tranquila. No início ainda pensei em me ejetar, mas como o voo invertido funcionou, consegui salvar o avião.
Tem algum patrocinador?
Não. Infelizmente bati às portas das empresas portuguesas com lucros fantásticos e só ouvi “Não!” E muitas nem sequer me receberam.
E continua a ser a única portuguesa a participar em eventos de acrobacia por esse mundo fora?
Pois sou. Ainda agora, em Vigo, estive mais de duas horas a dar autógrafos… não fazia ideia que tinha tantos fãs em Espanha. E, curiosamente, também foram muitos portugueses ver-me a Espanha. Fiquei muito surpreendida quando cheguei ao aeroporto e tinha uma bandeira portuguesa à minha espera. Agora imagine o impacto que isto terá junto dos nossos emigrantes em Toronto, na Suiça em França e em todos os continentes.
Os emigrantes sentem orgulho na sua piloto?
Não imagina! Tenho recebido as maiores manifestações de carinho por todo o lado.
Texto: Palmira Correia
Comentários