Em todas as famílias existem elementos que têm o condão de afetar a nossa disposição e o nosso humor. Estão presentes em todas as festas familiares. Vão a nossa casa, mesmo sem serem convidados. Explicam sempre o seu ponto de vista e oferecem o seu conselho mesmo quando não estamos interessadas. Impõem mexericos que não queremos saber. Fazem perguntas indiscretas, acampam na nossa sala...

Mas, como não se pode livrar deles, nem que seja uma ou outra vez por ano, o melhor é respirar fundo e enfrentá-los, idealmente com um sorriso! Definimos nove personalidades familiares difíceis para que possa, agora, aprender com Vítor Rodrigues, psicólogo clínico, autor de livros como "Teoria geral da estupidez humana", a melhor forma de (não) lidar com elas no seu ambiente familiar. Descubra-os já!

1. O bonzinho

Em todas as famílias, há, pelo menos, um. O bonzinho tenta sempre conciliar toda a gente e faz-se de vítima quando as coisas não lhe correm como previsto. Fica sempre muito surpreendido e magoado quando alguém perde a paciência com ele. Está a ver o filme, não está? Não se deixe enganar! "Deve apreciar os esforços conciliatórios mas somente se forem do interesse de todos", refere o psicólogo Vítor Rodrigues.

"É bom manter a consciência do que queremos, dos nossos direitos e das nossas opiniões e não ceder a pressões", aconselha, contudo, o especialista. "As pessoas que se servem do seu papel de vítimas para nos culpabilizarem e chantagearem acabam por ser ótimos carrascos. A opção é dizer-lhe que apreciamos os dotes messiânicos mas preferimos não ser salvos por ninguém e muito menos por ele", recomenda.

Uma das coisas que nunca fazer é fazer concessões só para lhe agradar, uma falha que muitas pessoas tendem a cometer nos relacionamentos que têm com os seus familiares no convívio quotidiano. "Ceder a conciliações que só existem na cabeça do negociador é um erro que nunca deve cometer", alerta ainda o psicólogo português, que também escreveu o livro "Terras de mentes". Já percebeu a ideia, não percebeu?

2. O perfeito

Era o melhor aluno da turma, todos os professores gostavam dele, é o preferido de toda a gente. É bom em tudo. Tem um bom emprego, faz desporto e até toca musica. Não faça o jogo dele! A melhor forma de lidar com este seu familiar "depende do facto de ele ser ou não pedante. Se o for, deve reconhecer resolutamente a nossa inferioridade e imperfeição humana e não tentar competir com um tal portento", aconselha.

"Se não for pedante, deve admitir que é uma pessoa interessante, procurar conhecê-lo e procurar saber o que é que ele aprecia, sobretudo nos outros", recomenda ainda o terapeuta português. "Nunca tente competir com ele e/ou sentir-se inferiorizado", aconselha também o especialista. Aja naturalmente, assumindo-se como é, com todos os seus defeitos e todas as suas virtudes, que seguramente também terá!

3. O intriguista

Diz mal de toda a gente e não hesita em deixar no ar alguma dúvida em relação ao comportamento de outra pessoa. Na sua família ou não, seguramente que conhece alguém que funciona assim. Não caia na sua malha! "Deve tratá-lo ao melhor estilo CSI, interrogá-lo e indagá-lo diretamente e detalhadamente quando, como, onde e com que meios recolheu provas contra a pessoa e que provas foram essas», refere.

"Essa é uma das ações a empreender para travar este seu comportamento", afirma ainda o psicólogo Vítor Rodrigues, que aconselha o recurso aos métodos usados em "CSI: Crime Scene Investigation", a popular serie policial americana. "Perceber exatamente qual é o interesse dele em levantar tais dúvidas ou fazer insinuações e, já agora, o que propõe fazer em concreto face à pessoa visada" é outra das recomendações.

Em relação ao que nunca fazer com ele, Vítor Rodrigues não tem dúvidas. "Entrar no jogo da maledicência e deitar achas para a fogueira", um erro comum, são duas das principais recomendações deste especialista e terapeuta. Por muito que o ser humano goste de cortar na casa dos que o rodeiam, este é um comportamento que deve evitar, sobretudo com pessoas que tenham tendência para serem mais intriguistas.

4. O invejoso

Tem inveja de tudo. Do nosso trabalho, do nosso carro, da nossa casa de férias, das nossas roupas, enfim... Nunca está contente com o que tem e culpa os outros pela sua infelicidade. Está a identificar, assim de imediato, alguém? "A primeira hipótese é invejar a capacidade dele para ser tão invejoso e para considerar que a felicidade alheia é um roubo face à sua própria felicidade", refere o psicólogo Vítor Rodrigues.

"A segunda hipótese é pedir-lhe desculpa pelo trabalho honrado, pelo bem-estar ou por quaisquer coisas que suscitem inveja em relação a nós", realça o especialista. "A terceira hipótese passa por perguntar-lhe directamente se é capaz de imaginar a possibilidade de ficar feliz com o bem alheio", sugere ainda o terapeuta, que também escreveu "A nova ordem estupidológica", livro publicado em meados da década de 1990.

O que é que nunca deve fazer no relacionamento quotidiano e regular com este tipo de familiares? "Nunca deve ajudá-lo a ser destrutivo, senão corre o risco de se tornar igualmente invejosa, aprendendo com ele", alerta este especialista. "Procure valorizar o que tem e não olhar tanto para os outros. Nada lhe garante que seria feliz se tivesse o que eles têm ou aparentam ter", acrescenta ainda Vítor Rodrigues.

5. O controlador

Chega a ser muito cansativo! Quer saber tudo e dá opiniões sobre tudo, telefona a saber onde estamos, com quem, a fazer o quê, a que horas chegamos, o que comeu o bebé, a que horas dormem as crianças e onde vamos passar férias... Está a reconhecer alguém? "Deve explicar-lhe que não só não é possível controlar a vida como tentar fazer isso torna-nos desagradáveis é uma das primeiras coisas a fazer", refere o psicólogo.

"O controlo gera uma atitude defensiva e/ou agressiva nos outros e contribui para que fiquem com vontade de escapar para longe do controlador. Nunca lhe deve fornecer relatórios completos e/ou assumir que tem, de algum modo, obrigação de lhe prestar contas", alerta. Não só porque não tem de o fazer como esse tipo de comportamento em nada beneficiará a vossa relação direta nem o próprio ambiente familiar.

6. O interesseiro

Só se aproxima quando acha que pode ganhar alguma coisa com isso, nem que seja uma boleia ou alguma novidade de que ainda não esteja ao corrente. Aprenda a lidar com ele sem lhe dar o que ele quer. "Pedir-lhe coisas e/ou perguntar-lhe coisas ou propor-lhe que dê algo para a troca" são, segundo o psicólogo, comportamentos que pode e deve ter. "Aprender a dizer não sem sentir culpa" é outra das atitudes a tomar.

Se o fizer, notará que o número de pedidos e solicitações por parte dos seus familiares com este tipo de perfil reduzir-se-à consideravelmente. Faça a experiência! Nalguns casos, é provável que esses familiares se afastem, mas nada que a deva preocupar excessivamente, a não ser que seja demasiado dependente dessa pessoa, o que também não será seguramente positivo para si nem para a sua estabilidade emocional.

No relacionamento familiar e no convívio regular e/ou quotidiano, há coisas que não deve fazer. "Nunca deve deixar que a sua bondade natural alimente vícios", refere o psicólogo Vítor Rodrigues, que em 2013 escreveu e lançou "Tranquila-mente - Como vencer o stress e a ansiedade e viver uma vida mais calma e feliz", um livro publicado pela editora A Esfera dos Livros, um livro de autoajuda que também deve ler.

7. O paraquedista

Aparece em nossa casa quando menos esperamos e, diga-se, quando dá menos jeito. Não é? Ainda por cima, não fica só para jantar, é capaz de ficar até altas horas da noite. E mais... Tem o descaramento de se impor nas nossas férias e acampar na sala durante algumas noites! Já viu este filme, não já? Provavelmente, mais que uma vez. É mais comum do que aquilo que julga! Ainda assim, pode aprender a fazer-lhe frente.

Troque-lhe as voltas... "Deve explicar-lhe que não estava a contar com ele e perguntar se não se importa de encomendar as pizas para o jantar dando-lhe solicitamente o número de telefone do restaurante ou, simplesmente, dizer-lhe que não temos tempo para ele no momento. Nem que isso implique subitamente ter de sair para ir a outro lado", aconselha o psicólogo Vítor Rodrigues, também autor do livro "Percursos no ser".

"Deve também explicar-lhe que gostávamos que anunciasse a sua presença futura para podermos recebê-lo melhor ou subitamente irmos de férias para longe", sugere, com alguma ironia, Vítor Rodrigues. "Nunca sentir culpa e deixar de dizer sinceramente que preferimos combinar para outra altura" é outro dos conselhos. "Deixar de afirmar o nosso direito à privacidade" é outra das recomendações do psicólogo.

8. O avarento

Nunca quer ir almoçar ou jantar fora e quando vai está stressado porque vai gastar dinheiro. Considera quase todos os gastos supérfluos e só dá prendas a quem tem mesmo de ser. Não deixe que se aproveite de si! Para isso, o melhor é "perguntar-lhe se se considera digno de gastar dinheiro com ele mesmo ou se nos considera dignos de que gaste algum dinheiro na nossa companhia", sugere o psicólogo Vítor Rodrigues.

"Nunca, mas nunca, deve pagar-lhe as despesas", alerta o psicólogo. Se um fizer, nem que seja um vez, ele tenderá a aproveitar-se da situação e colocar-se-à sempre a jeito sempre que tiver oportunidade para o fazer. "Se costuma lidar regularmente com este tipo de familiares, muito provavelmente já se terá apercebido disso", refere ainda o também autor do livro "Constrói a tua felicidade - Da depressão ao bem-estar".

9. O embirrante

Nas festas de família, monopoliza a televisão num canal que não interessa a mais ninguém, não partilha o jornal, não empresta o telemóvel e não faz um esforço para colaborar nas conversas ou para agradar os outros. E, claro, tudo lhe merece uma crítica! Está a (re)ver o filme? Responda-lhe à letra! "Deve propor uma votação para decidirem quantos querem ver o canal dele", aconselha Vítor Rodrigues.

"É importante explicar-lhe que gostavam que ele participasse", sublinha ainda. "Perante as criticas, deve dizer-lhe o que sentiu e propor-lhe que sugira uma alternativa", recomenda o terapeuta português. "Nunca deve entrar em conflito, ajudando-o a manter-se numa ilha nem aceitar as criticas sem dizer o que sente perante elas", esclarece ainda o especialista, também autor da obra "O livro da ignorância".

As recomendações do terapeuta, habituado a lidar com estes comportamentos, não se ficam, no entanto, por aqui. "Arranjar outro jornal ou outra revista, ir para outra divisão da casa ver televisão ou, em última análise, juntar-se ao clube é outro dos comportamentos que não deve nunca adotar", enfatiza ainda o especialista. Se o fizer, verá que da próxima vez ele será muito menos teimoso e insistente.

Textos: Raquel Amaral com Vítor Rodrigues (psicólogo)