No entanto, muitas vezes, enquanto a sua prioridade é ajudá-lo a ultrapassar a situação, o seu amigo apenas quer partilhar o que o atormenta, a desabafar o seu problema e as suas preocupações e a procurar, em si, o apoio para aquela dor.
Na tendência de tentarmos arranjar solução para os problemas de quem gostamos, tendemos a não valorizar o seu sentimento e a sua dor do momento, tentando dispersar a mesma, desvalorizando-a. Mas, muitas são as situações onde o sofrimento produtivo da dor associada aos problemas, é a solução para a sua resolução. É importante que a dor seja valorizada como resultado justificado pela situação.
Neste sentido, e porque ser pessoa é, também, sabermos estar com os outros em relação, saber ouví-los e estar presentes, existem certas frases, certos clichés, que pode evitar. Alguns exemplos:
“Não fiques assim”
Quando algo acontece, os sentimentos e emoções provocados são resultado da nossa percepção da situação. Apesar da intenção ser a melhor, o que é certo é que, de momento, o seu amigo não consegue estar de outra forma. Se o magoa, certamente, se conseguisse, não ficaria assim.
“Tem calma”
Quando alguém, perto de nós, está muito agitado, com a sua ansiedade alta, a tendência é alguém lhe dizer para ter calma. Com calma será o estado onde a ansiedade está controlada, sendo o nosso controlo sobre o ambiente exercido de forma equilibrada entre o que queremos que aconteça e o que está a acontecer. Quando este equilíbrio não acontece, a ansiedade dispara, e tentar ter calma quando se está ansioso, por norma, provoca mais ansiedade pelo insucesso em acalmar-se. Deve, sim, transmitir a ideia de pensar no resultado da ansiedade e na sua lógica, e não em contrariá-la.
“Há coisas piores”
Quando algo de mau ou dificil acontece, só o próprio o sente. Por muito que seja percebido pelo outro, o que sentimos e emocionalizamos é apenas nosso e nunca comparável entre pessoas ou situações. Quando a tentativa de ultrapssar estas situações é feita pela comparação com os outros ou com outros problemas, existe uma desvalorização do problema e do sentimento da pessoa. Por não conseguirmos estar no papel dos outros a 100%, devemos fazer o esforço de valorizar a sua dor a 110%.
“O tempo cura tudo”
Além de cliché, deve ser das maiores mentiras que contamos uns aos outros. O tempo cura tudo apenas e só quando a solução existe, pois será preciso, apenas, tempo para que esta actue e ajude nas mudanças a realizar para resolver o problema. Sem solução, o tempo apenas anda e o problema com ele. É necessário que se actue nesse tempo, promovendo mudança nas dificuldades, procurando soluções.
Tiago A. G. Fonseca
Psicólogo Clínico
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