O Natal está à porta. Tal como sempre acontece, derivado às tradições e costumes, ficarmos com uma sensação avassaladora e irreprimível, como um dilema, um misto de inquietação e expetativa, relacionada com as compras, os presentes de Natal e as despesas inerentes que afetam os recursos financeiros e/ou económicos de cada um de nós.

Nesta altura do ano, e como também já é tradição, devido à crise económica e social que atravessamos, surge o debate sobre a corrida ao consumismo, que visa acima de tudo servir de alavanca à economia débil, na qual os fins justificam os meios visto estarmos expostos aos mais variados estímulos (exemplo, excesso de publicidade, tradições, modas) em detrimento dos valores que reforçam os vínculos familiares, de amizade e de confiança.

Alguns dados preocupantes.

Segundo um questionário realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 35% dos casais com filhos criam conflitos em torno de questões financeiras. Cerca de 80% referem que a crise afetou significativamente o orçamento familiar e mais de 25% procuram o médico por problemas emocionais, de ansiedade e insónia.

O relatório da Unicef revela que a recessão, desde 2008, contribuiu para o empobrecimento de 2.6 milhões de crianças (abaixo do limiar de pobreza) nos países mais ricos, aumentando assim para 76,5 milhões de crianças probres no Mundo desenvolvido. O Instituto Nacional de Estatística, em 2013 a pobreza atingiu 30% das crianças portuguesas. De 24 países analisados pela UNICEF, Portugal é o que apresenta maior taxa de pobreza das crianças, mesmo após a atribuição de subsídios.

No Natal, é moda gastar dinheiro. Todavia, a moda não pode servir de justificação para nos endividarmos recorrendo ao crédito, à alienação através de mais dívidas e às compras impulsivas porque nenhuma prenda, seja ela qual for, seja recebida ou oferecida, consegue substituir os valores e os vínculos universais e ancestrais que alimentam as conexões uns com os outros, ao longo do ano, dos quais dependemos a fim de evoluirmos como seres humanos.

É do conhecimento geral que todos nós geramos vínculos fortes com coisas materiais, mas estes, sobre nenhum pretexto, devem substituir a vinculação imaterial dos comportamentos que reforçam a intimidade, a confiança, o amor, a honestidade, a esperança e a fé. Apesar de haver uma conotação festiva e religiosa associada ao Natal, na minha opinião, esta quadra apela à união, à gratidão e à fé na humanidade, naquilo que nos distingue nas mais diversas expressões de amor pelo próximo.

Comemore o Natal presenteando as pessoas mais importantes com atos altruístas e palavras honestas, e não se esqueça também de dar um mimo a si próprio; por ser único, fantástico/a e por celebrar a dádiva da vida. Sabia que originalmente no Natal celebrava-se o nascimento do Deus Sol? Celebremos.

Por João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

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