O tromboembolismo pulmonar agudo é uma patologia caracterizada pela formação e embolização de trombos para as artérias pulmonares e seus ramos, causando a sua obstrução súbita. As consequências imediatas são o aumento da pressão arterial pulmonar, a sobrecarga ventricular direita e, dependendo da gravidade do quadro, a possível evolução para falência cardíaca e morte.
É uma patologia grave e frequente, constituindo a terceira principal causa mundial de mortalidade cardiovascular. Estima-se que afete cerca de 500.000 pacientes por ano na Europa, e que seja responsável por mais de 4.000 internamentos e 1.000 mortes por ano em Portugal.
A incidência desta patologia tem aumentado progressivamente ao longo das última décadas, acompanhando o envelhecimento da população. Pacientes de qualquer idade podem no entanto ser afetados, sendo vários os fatores predisponentes: fraturas ou cirurgias, nomeadamente ortopédicas, neoplasias, infecções e imobilização prolongada por internamentos hospitalares ou outras causas, mas também uso de contraceptivos orais, gravidez e período pós-parto, tabagismo, obesidade e viagens longas, entre vários outros.
O diagnóstico, realizado mais comumente em ambiente de urgência hospitalar, é muitas vezes difícil, resultando da combinação de um conjunto diverso de sintomas como falta de ar súbita, dor torácica e síncope ou pré-síncope, com achados clínicos, laboratoriais e imagiológicos típicos da doença. Infelizmente, a morte súbita pode ser o sintoma de apresentação numa proporção considerável dos casos.
A abordagem terapêutica do tromboembolismo pulmonar agudo varia consoante a gravidade do quadro clínico. Nos casos mais ligeiros, a anticoagulação é em geral eficaz e suficiente. Nos casos de maior gravidade, com risco de morte significativo, estão recomendadas estratégias adicionais de reperfusão pulmonar com recurso a fármacos fibrinolíticos. Estes agentes, embora muito potentes na resolução dos trombos e recuperação da circulação pulmonar, estão associados a um risco importante de hemorragias graves e potencialmente fatais, o que tem levado à sua subtilização com consequências claras para a sobrevida destes pacientes.
A tromboembolectomia pulmonar percutânea
A tromboembolectomia pulmonar percutânea representa uma mudança de paradigma na abordagem terapêutica de doentes selecionados com tromboembolismo pulmonar agudo moderado ou grave.
É um procedimento emergente, inovador, realizado sob anestesia local através de uma punção na região inguinal. Consiste numa combinação de técnicas de fragmentação e aspiração de trombos intrapulmonares por intermédio de um catéter, sempre que possível complementadas pela infusão intrapulmonar de um fármaco fibrinolítico em dose reduzida. Deste modo é conseguida a remoção e dissolução de uma parte significativa do conteúdo trombótico, levando ao rápido restauro da perfusão arterial pulmonar e consequente melhoria hemodinâmica do paciente.
Embora recente, a tromboembolectomia pulmonar percutânea é uma técnica em rápida expansão, que conta já com uma evidência científica robusta. É um procedimento seguro e de elevada eficácia, apresentando bons resultados clínicos agudos e a médio-prazo e um reduzido risco de complicações, nomeadamente hemorrágicas. No nosso país esta técnica foi iniciada há cerca de dois anos, contando atualmente com dois centros de grande volume, ambos na região de Lisboa, e com alguns programas em fase inicial noutros centros nacionais. A disponibilização e disseminação desta técnica constituirá seguramente uma mais-valia para os nossos pacientes, poupando vidas e melhorando a sua saúde a longo-prazo.
Um artigo do médico Sílvio Leal, Cardiologista de Intervenção no Hospital de Santa Cruz e no Hospital dos Lusíadas.
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