Os casais discutem e incompatibilizam-se. É uma realidade.
Aceitar as diferenças, evitar provocar discussões, não depositar no outro a responsabilidade da própria felicidade e estar bem consigo mesma antes de culpar o outro são alguns dos truques para manter uma relação saudável.
De acordo com os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, metade dos casamentos em Portugal acaba em divórcio.
Em 2005 foram registados 48 671 novos casais, contra 22 853 divórcios nesse mesmo ano. Um fenómeno em claro crescimento; em 15 anos (de 1990 a 2005) celebraram-se menos 22 983 casamentos no nosso país, enquanto nesse período houve um aumento de 13 637 divórcios, passando dos 9216 divórcios para os 22 853.Porque é que estes valores continuam a crescer? Será que agora aguentamos menos a vida de casal do que antigamente?
Don Ferguson, psicólogo e membro da Associação Norte Americana de Terapeutas Matrimoniais e de Família, afirma que o problema é que nos esquecemos que discutir é natural e normal, e que advém da parte mais profunda e primitiva do nosso cérebro; da zona mais réptil, uma porção primária do cérebro que se encarrega das responsabilidades mais básicas. De acordo com o especialista, este cérebro réptil continua a determinar as nossas respostas instintivas, podendo dominar as relações de casal.
O lado positivo é que, saber a origem dos instintos de briga e as razões por que discutimos tanto, permite-nos fazer algo a esse respeito. Podemos deixar de ser adversários e construir relações saudáveis em vez de as destruir. Os casais em que as mulheres são donas de casa e o marido continua a ter o papel de provedor, separam-se cada vez mais, sobretudo quando os filhos saem de casa.
Estas mulheres vêem as filhas com vidas próprias e apercebem-se de que ainda estão a tempo de romper com o modelo dependente do marido. Por outro lado, as pessoas mais jovens aguentam menos o conceito imposto da indissolubilidade e o que procuram é viver sem compromissos, ao sabor do vento.
O que é que nos separa?
Os motivos mais frequentes que nos levam a discutir com o nosso companheiro costumam estar relacionados, muitas vezes, com o dinheiro, os filhos, o sexo e a dependência emocional.
As consultas de terapia de casal também são procuradas por casais onde o problema é o poder territorial, uma vez que o mundo partilhado é um espaço de poder e dominação.
Segundo Ferguson, quando discutimos costumamos adoptar duas atitudes.
Uma é fugir das situações, mantermo-nos quietos, à espera que esse perigo passe, ou responder através do ataque, com a intenção de reduzir psicologicamente o adversário. No primeiro caso, se mostrar não ouvir, acabará com qualquer discussão incómoda com um «não vamos falar mais disto». A segunda é ofensiva: tem tendência para chamar nomes ao seu companheiro, ameaça-o com a separação, grita, vai buscar acontecimentos do passado.
As vantagens da terapia de casal
Quando é que se está preparado para fazer terapia? Quando ambos estiverem de acordo, dizem os especialistas.
Mas é importante saber que para manter a saúde do casal é fundamental começar por estar bem consigo mesma, pelo que antes de uma sessão a dois, é imprescindível uma terapia individual.
Em todo o caso, quando já se tentou de tudo para manter o casal unido, já se fizeram todos os possíveis e, ainda assim, a relação parece estar inquinada, a separação é uma opção válida.
Contudo, esta apenas deve ser levada a cabo quando já não provocar dor, como uma resposta proativa, e não reativa. O objetivo de uma terapia é que os dois membros do casal queiram estar juntos e reconstruir a relação, dando-se uma oportunidade.
Fazem-se exercícios de comunicação, de duelo (se existirem ex-companheiros envolvidos), materializam-se expetativas, respondem-se perguntas. Caso se tenha tentado recuperar a relação sem resultados, ajuda-se a fazer com que a separação seja o menos dolorosa possível.
Durante a primeira sessão, o mais comum é que cada um tente culpar o outro, já que parece que nenhum dos dois aceita a sua responsabilidade sobre o assunto. Mas, à medida que se assiste a mais sessões, o casal vai-se apaziguando, moderando, refletindo e admitindo os próprios erros. Regra geral, nos primeiros encontros vêm a lume acontecimentos e sentimentos acumulados de situações que ocorreram no passado.
Texto: Madalena Alçada Baptista
Revisão científica: Dra. Vera Barrias (mediadora familiar no Gabinete da família no Porto)
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