É fumadora? Em caso afirmativo,
quantas vezes já tentou deixar de fumar? Essa ideia já lhe deve seguramente ter passado pela cabeça mais do que uma vez. No início de cada ano costuma ser recorrente.
As desculpas para não largar o vício são
muitas e estão relacionadas com vários
factores, nomeadamente a gestão de stress, como meio de sociabilização
ou o prazer retirado do acto de
fumar.
Segundo Ivone Pascoal, pneumologista, as principais
causas de insucesso e de recaídas
prendem-se com «a síndroma de privação
da nicotina, a pressão social para fumar,
o cigarro como recurso para lidar com o
stress e sentimentos negativos, bem como
a não adesão ao tratamento e o excesso de
autoconfiança». Com a ajuda desta pneumologista
e responsável pela consulta de
cessação tabágica do Centro Hospitalar de
Vila Nova de Gaia Espinho, desconstruímos
as barreiras mais comuns para não
abandonar de vez este vício.
Fumar alivia o stress
«A nicotina induz dependência física e psicológica», explica Ivone Pascoal.
«A fumadora fuma para controlar a síndroma
de privação da nicotina e recorre ao
cigarro para lidar com o stress, adquirindo
um comportamento condicionado». Deixar
de fumar é menos difícil se esta síndroma
for tratada com fármacos adequados
e se a fumadora aprender a gerir o stress,
fundamental no processo de cessação e
prevenção das recaídas.
Solução: «É importante encontrar alternativas
ao cigarro, como técnicas de relaxamento,
a prática de exercício físico ou
actividades lúdicas gratificantes», afirma a
pneumologista. A dificuldade inicial em
lidar com o stress é compensada quando o
fumador, ao parar de fumar, evita o stress
que um problema de saúde grave acarreta.
Dica: «E porque não, em tempos de
contenção de gastos, pensar no dinheiro
que poupa (custo do tabaco e despesas
relacionadas com a saúde)?», desafia Ivone
Pascoal.
Fumar emagrece
A nicotina, além de induzir dependência
física, aumenta o metabolismo basal e os
gastos de energia com o exercício físico.
«Esta aparente vantagem tem como consequência
um maior desgaste cardiovascular
», alerta. Deixar de fumar pode representar
um aumento de três a seis quilos,
resultado do aumento de ingestão de calorias
e outros factores, nomeadamente «aumento do apetite e recuperação do olfacto, bem como do paladar».
algumas fumadoras substituem o cigarro por alimentos
calóricos, não só para ocupar a boca, como para compensar
um certo «desconsolo». «O aumento de peso é transitório e
resulta mais da alteração dos hábitos alimentares do que da
cessação tabágica», refere Ivone Pascoal.
Solução: «É importante fazer uma alimentação equilibrada,
rica em fibras, fruta e vegetais e beber muita água». Fazer
exercício físico com regularidade ajuda a queimar calorias e
pode ser uma fonte de prazer. «Se não quer ir ao ginásio, uma
caminhada em boa companhia é uma óptima opção».
Dica: Evite snacks, bebidas alcoólicas e refrigerantes. Ocupe
a boca com pastilhas elásticas ou rebuçados sem açúcar, uma
peça de fruta ou uma cenoura.
Veja na página seguinte: Como combater a necessidade de fazer uma pausa para fumar
Fazer uma pausa
Fumar é muitas vezes um pretexto para fazer uma pausa no
trabalho. «Quem está a deixar de fumar tem dificuldade em
preencher e justificar a pausa», constata a pneumologista Ivone Pascoal.
Para a maioria dos fumadores, o café não é uma boa alternativa,
pois é estimulante e está habitualmente associado ao
acto de fumar.
Solução: «Parar simplesmente, relaxar, beber água, comer
uma peça de fruta ou falar de coisas agradáveis», sugere.
Dica: Tente, dentro do possível, evitar espaços frequentados
por outros fumadores.
Fumar é sociabilizar
«Numa cultura em que fumar é norma, o cigarro é utilizado
como elemento agregador e promotor de outros interesses»,
refere. «É utilizado como ajuda para vencer barreiras de
comunicação e constrangimentos sociais. Pedir um cigarro
ou lume é uma forma de iniciar uma conversa».
Solução: Deixar de considerar normal o comportamento
tabágico. A realidade começa a mudar e fumar, actualmente,
pode causar constrangimentos sociais: «a fumadora evita
determinados locais e em família tem de interromper o convívio
para fumar no exterior.»
Dica: Se está habituada a fumar depois do café, mude a sua
rotina. Pode substituir o doce pela fruta, lavar os dentes
após as refeições e dar um pequeno passeio. Se não sabe o
que fazer com as mãos, experimente passar a andar com um
pequeno objecto a seu gosto.
Tratamentos
para deixar de fumar
Duram, em média, 8 a 12 semanas e visam controlar
a sindroma de privação da nicotina. No que diz respeito a substitutos da nicotina temos os sistemas transdérmicos
ou adesivos, pastilhas, gomas
e comprimidos sublinguais
de nicotina. Já no campo dos fármacos sem nicotina, há a bupropiona e vareniclina(prescrição médica
obrigatória).
Sabia que
Os programas de cessação
tabágica que integram
aconselhamento e tratamento
farmacológico têm melhores
taxas de sucesso com menor
ganho de peso.
Texto: Sónia Ramalho com Ivone Pascoal (pneumologista)
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