As lesões na pele provocadas pela psoríase dão-se bem com os raios solares e, em certas situações, nos meses de maior calor quem sofre desta doença até assiste a uma regressão das inflamações cutâneas que esta provoca.

Por vergonha e pudor, há quem prefira resguardar-se em casa, para não ter de mostrar marcas que a maior parte das vezes não são estéticas. O preconceito está ainda muito associado à crença, errada, de que a doença é contagiosa.

Paulo Ferreira, médico dermatologista do Hospitalcuf Descobertas, em Lisboa, que costuma colaborar regularmente com a PSO Portugal, Associação Portuguesa de Psoríase, explica por que é que o sol é bom para a pele psoriática, indica o tipo de produtos de proteção que previnem lesões, comenta o tipo de roupas e tecidos mais adequados e descreve os cuidados a ter depois de um banho de praia ou piscina.

Apanhar sol favorece o processo de descamação da pele? Se sim, em que medida?

O sol faz bem à psoríase em placas. A luz solar exerce uma acção imunomoduladora, ajudando a estabilizar e a normalizar as vias e mecanismos imunológicos que propiciam a intensificação da inflamação e a libertação de mediadores (citocinas) que conduzem ao aumento da velocidade com que as células da pele se dividem, culminando num processo de descamação continuada. Há um excesso de proliferação que cursa paralelamente com um défice de diferenciação.

As células que chegam à superfície da pele são assim demasiado jovens e indiferenciadas. O sol ajuda a normalizar estes ciclos de renovação celular da pele. Existem formas artificiais, terapêuticas, de mimetizar esta acção reguladora do sol como a fototerapia com radiação ultra-violeta A e B. Os solários são contraindicados e qualquer tratamento à base de luz ou fontes de luz artificial deve estar sob estreita vigilância dermatológica.

No que se refere à proteção solar, podem ser usados os mesmos produtos de proteção que as pessoas sem psoríase usam ou existem fórmulas com componentes mais adequados?

As medidas de protecção solar são indispensáveis e, basicamente, semelhantes às da população em geral. Deve relevar-se a importância da hidratação continuada visto que, na psoríase, as células se renovam mais rapidamente, sendo mais imaturas e mais vulneráveis às mais variadas agressões, incluindo o excesso de sol. Portanto deve ser reforçada a protecção solar e as medidas de hidratação, nomeadamente encurtar os períodos de tempo entre as aplicações e escolher os horários adequados, prevenindo o risco de queimadura solar.

A sobre-exposição ao sol pode agravar os sintomas da psoríase?

O excesso de sol aumenta o risco de queimaduras. Sendo a psoríase uma doença autoimune e inflamatória crónica, o aumento dos períodos de exposição ao sol e a intensidade dos raios solares vão intensificar a resposta inflamatória da pele, com edema (inchaço) e eritema (vermelhidão) excessivos, tendo efeito nocivo no processo evolutivo da doença, sem esquecer o risco acrescido de cancro da pele, que pode ser também potenciado por certos medicamentos sistémicos utilizados nesta doença. Não esqueçamos que esta é uma doença sistémica que evolui ao longo de décadas...

As queimaduras solares podem desencadear ocorrências como o fenómeno de Koebner. Em que consiste este problema e como é que se pode precaver?

Uma das características mais marcantes desta doença é a tendência para o aparecimento de lesões nos locais de traumatismos, agressões, queimaduras. Qualquer lesão, agressão ou traumatismo pode desencadear o aparecimento das placas de psoríase nesse local, nomeadamente uma reação isomorfa ou o fenómeno de Koebner.

Mais uma razão para ter atenção aos perigos do excesso de sol ou qualquer outra agressão física, química, mecânica ou biológica. A pele demasiado seca, fissurada, escoriada, gretada, bem como os pólens, o tempo seco e quente, os detergentes e desinfectantes irritativos ou alergizantes podem agravar as lesões e facilitar o aparecimento de novas lesões. Daí a necessidade imperiosa de ter que manter a pele o mais hidratada e protegida possível.

Também não é aconselhada a exposição da pele ao sol durante uma crise. Porquê?

Em função do que foi dito anteriormente, o sol excessivo não é recomendável nas crises. As exposições devem ser graduais e progressivas, em períodos crescentes, procurando impedir o aparecimento de queimaduras. É importante ter em atenção o tipo de pele de cada indivíduo. Aqueles com maior tendência para o bronzeado, em detrimento das queimaduras, estarão mais protegidos... Mas é indispensável aconselhamento e vigilância pelo dermatologista.

Por que é que quem sofre de psoríase não deve usar roupas apertadas? E porque é que o algodão é preferível a outros tecidos? E quais os tecidos menos recomendados?

As roupas devem ser de algodão, confortáveis. Não podem apertar, pelo  risco de reação de Koebner ou mesmo de alergias aos elásticos.

Devem evitar-se os têxteis sintéticos, com fibras alergizantes, irritativas ou desconfortáveis, pelo risco de alergias de contacto ou de prurido ou ardor, que vão intensificar a inflamação e as respostas locais, tipo Koebner.

Deve ainda ter-se em atenção também os corantes e as tintas sintéticas, também potenciais agentes de irritação/sensibilização cutâneos.

Os banhos de mar e de piscina são recomendados ou exigem cuidados acrescidos?

Os banhos fazem bem à pele, até pela acção relaxante e anti-stress. Antes e após a ida à piscina ou ao mar, deve hidratar sempre a pele. Alguns agentes químicos utilizados como desinfectantes podem agredir uma pele já de si instável, com função de barreira comprometida. Os doentes devem ser alertados para a necessidade de hidratação permanente da pele.

Existem cuidados específicos a ter no final do verão para preparar a pele para o outono e o inverno?

Qualquer acontecimento ou circunstância marcante pode desequilibrar a curso evolutivo desta doença crónica e recorrente, nomeadamente situações de desemprego, divórcio, gravidez, mudança de país, desregulações de temperatura, tempo frio e seco, quente e seco, tabaco, álcool, alguns fármacos, enfim... As próprias infeções sazonais, associadas ao frio, podem funcionar como factor desencadeante de novos surtos da doença.

Os erros dietéticos, a obesidade, a hipertensão arterial, a hipercolesterolémia, vão agravar a psoríase, mas também as co-morbilidades associadas. A dieta é indispensável. Deve-se, nomeadamente, evitar as gorduras saturadas, privilegiar os óleos de peixe, vitaminas e minerais, incentivar o exercício físico diário e alertar para os perigos do abstencionismo.