As pernas cansadas são o sintoma mais comum de doença venosa, vulgarmente conhecida por muitos como má circulação sanguínea das pernas, um problema que afeta um terço da população portuguesa, maioritariamente mulheres. "Quando as pessoas se queixam da sensação de peso e cansaço nas pernas estão, frequentemente, a referir-se a alterações do retorno venoso", explicou, em declarações à revista Prevenir, Serra Brandão.

De acordo com o cirurgião vascular, diretor do Instituto de Recuperação Vascular (IRV), em Lisboa, esta patologia "deve-se à dificuldade de o sangue já usado, proveniente dos membros inferiores, retornar ao coração, o que origina situações de sofrimento das veias". Existem vários fatores de risco para o surgimento da doença venosa. O estilo de vida, a história de doença na família e a idade avançada figuram entre os principais.

Segundo o este especialista, o tipo de profissão pode ajudar ou prevenir a emergência da má circulação sanguínea das pernas. "Estar parado de pé e ficar muito tempo sentado ou ter as pernas cruzadas são fatores de risco decisivos, por dificultarem a circulação de retorno do sangue ao coração", adverte. Importa ainda "estar atento à temperatura da água do banho e evitar a exposição ao calor, seja qual for a sua origem", acrescenta.

Depois existem outras causas, nomeadamente "a obesidade, a utilização de contracetivos hormonais, a gravidez e a terapêutica hormonal de substituição são outros fatores de risco", sublinha também Serra Brandão. Em Portugal, estima-se que este problema atinja cerca de 35% da população adulta. No caso das mulheres, a percentagem sobe para os 60%. Nos restantes países da Europa, os número não diferem muito dos nacionais.

Os sintomas a ter em linha de conta

A sensação de pernas cansadas e pesadas é o sintoma mais prevalente na doença venosa, mas, segundo Serra Brandão, existem outros, como a dor, o inchaço dos pés e das pernas, comichão e cãibras nocturnas. Mais tarde, surgem sinais que são os derrames, as denominadas aranhas vasculares, as telangiectasias. "Se não houver tratamento, vão surgindo aquelas veias ligeiramente azuladas e a doença vai evoluindo", refere.

Pernas leves
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"Nessas situações, desencadeia-se uma dilatação das veias que origina as varizes e, na última fase, a úlcera de perna", sublinha o especialista. Para o cirurgião vascular Serra Brandão, a prevenção é a palavra de ordem fundamental para que o sangue retorne de uma forma saudável ao coração. "Deve seguir-se uma alimentação saudável, evitar fumar e beber bebidas alcoólicas em excesso, não ingerir alimentos que causem obstipação [prisão de ventre], fazer um programa de exercício físico adequado e usar meias ou collants elásticos eficazes e adequados a cada situação", aconselha o médico.

A prática regular de atividades como a marcha, o ciclismo e a natação favorece a preveenção do problema. "O seguimento de uma terapêutica medicamentosa, a secagem das varizes e a cirurgia são outras formas de travar a progressão da doença venosa", acrescenta Serra Brandão. Por outro lado, "o uso de roupa apertada está contra-indicado, por prejudicar a circulação sanguínea de retorno", adverte o especialista.

O auxílio que as plantas medicinais podem dar

Há vários tipos de plantas com propriedades benéficas para a circulação sanguínea das pernas que podem prevenir e tratar a doença venosa, explica João Beles, professor de naturopatia no Instituto de Medicina Tradicional. O castanheiro-da-índia, por exemplo, tonifica os vasos sanguíneos, melhorando progressivamente a circulação sanguínea arterial e venosa. As graínhas da uva também são recomendadas pelo especialista português.

Fortalecem as paredes das veias, dificultando a sua dilatação e o extravasamento do plasma sanguíneo para fora delas, que pode provocar o edema das pernas. O gingko biloba e o alecrim também fazem bem, tal como a folha da videira, a hamamélis e a gilbardeira. João Beles reforça que a ingestão de plantas medicinais deve ser complementada com o uso de um creme à base de castanha-da-índia, hamamélis, videira e/ou gilbardeira.

Texto: Daniela Gonçalves com revisão científica de João Beles (professor de naturopatia do Instituto de Medicina Tradicional) e de Serra Brandão (cirurgião vascular e diretor do Instituto de Recuperação Vascular em Lisboa)