A higiene dentária dos portugueses é deficitária. Uma opinião que é partilhada por muitos médicos dentistas. Em entrevista, Sónia Miranda, scientifical affairs manager da marca de dentífricos Colgate, explica o que fazemos mal quando (não) lavamos os dentes, fala dos riscos de saúde que corremos ao negligenciar a sua limpeza quotidiana e ainda aponta conselhos e recomendações para apresentar uma boca mais sã.
Quais são os principais erros que os portugueses cometem no que toca à sua saúde dentária?
O erro básico mais comum é o não sabermos manter uma correta higiene oral. Não sabemos escovar adequadamente. Para aprender, deveríamos recorrer a um profissional dentário não apenas para que nos ensine e nos recomende os produtos necessários mas também para que todos os anos nos realize um check-up dentário, uma vez que se não o fizermos poderemos não prevenir as patologias orais mais comuns, como a periodontite ou a cárie dental.
Estas doenças, apesar de poderem ser prevenidas, apresentam uma alta incidência e podem ocasionar perda de dentes e, no caso concreto da periodontite, aumentar o risco de desenvolver patologias sistémicas associadas, tão graves como a diabetes ou a doença cardiovascular. Poderíamos preveni-las simplesmente com a visita regular ao profissional dentário e uma correta higiene oral.
Há quem fale em dois minutos e há quem fale em três minutos e meio. Afinal quanto tempo é que deve durar a escovagem dos dentes?
O tempo mínimo necessário para que o flúor dos dentífricos comece a depositar-se nos nossos dentes é de dois minutos. Por outro lado, se realizarmos uma correta higiene oral de todas as áreas da boca, dos dentes, das gengivas, das bochechas e da língua, parece não ser adequado fazê-lo em menos de dois minutos.
Os portugueses compram, em média, duas escovas de dentes por ano. Esse número é suficiente? De quanto em quanto tempo é que devemos trocar?
A frequência que recomendam os profissionais dentários é a troca de escova de dentes a cada três meses, ou seja, quatro vezes ao ano, isto porque os filamentos da escova de dentes vão-se desgastando, o que diminui a eficácia da escovagem.
Os portugueses já estão sensibilizados para a utilização de elixires bocais?
Podemos deduzir que se a maioria da população não realiza uma correta higiene oral que, segundo os profissionais dentários, deve incluir uma escovagem correta de todas as áreas da boca durante pelo menos dois minutos, o uso do fio dentário e o elixir. Não me parece provável que estejamos sensibilizados para o uso do elixir.
Depois de desvitalizarmos um dente, já não temos de nos preocupar com ele?
É sempre importante garantir uma correta higiene de todas as partes da boca, pois as bactérias movem-se de umas zonas para as outras com total liberdade.
Muitos estudos afirmam que os refrigerantes escuros, à semelhança de molhos coloridos, como o ketchup, o molho de soja e a mostarda, a par do café e do chá, afetam a brancura dos dentes. É verdade ou estamos perante um mito? Além desses, há outros com que as pessoas se devam preocupar?
Os pigmentos dos alimentos depositam-se nos dentes ao longo da nossa vida, o que contribui para o escurecimentos dos mesmos. Praticamente todos os alimentos têm pigmentos, sendo os mais notáveis alguns dos que menciona.
O sal, tal como o açúcar, também é um inimigo dos dentes?
O sal é um produto abrasivo que pode, portanto, contribuir para o desgaste do esmalte, mas o verdadeiro inimigo é o açúcar, por ser metabolizado pelas bactérias cariogénicas presentes na placa bacteriana dentária, originando ácidos que são os causadores da desmineralização e a origem das cáries.
Porque é que nascemos com dentes do siso se, muitas vezes, anos mais tarde, temos de os tirar?
Nem todas as pessoas têm de extrair os dentes do siso, apenas nos casos em que o espaço para a ordem e desenvolvimento correto dos dentes é insuficiente.
Que implicações pode ter uma má higiene oral para a saúde, nomeadamente no que se refere a doenças como as patologias cardíacas, a diabetes e o risco de acidente vascular cerebral (AVC)?
O problema de uma má higiene oral é o crescimento das bactérias que formam o biofilme ou a placa bacteriana da nossa cavidade oral. As consequências são o desenvolvimento de patologias orais tais como a cárie, atualmente uma epidemia, a gengivite cuja evolução dá lugar à periodontite e, claro, o mau hálito.
Como já referi na primeira resposta, no caso concreto da periodontite, aumenta o risco de desenvolver ou agravar outras patologias sistémicas, como a diabetes e a doença cardiovascular, problemas na gravidez com recém-nascidos de baixo peso e, inclusivamente, outras patologias de caráter imunitário. Podemos preveni-las simplesmente com a visita regular ao profissional dentário e uma correta higiene oral.
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