O facto de, muitas vezes, a mãe preocupada em ver se a criança respira, se está acordada ou de pescoço mal posicionado, leva-a a ter o bebé deitado sempre para o mesmo lado. Acontece que é um erro que pode levar a deformações craniofaciais adquiridas irremediáveis.

Com proceder?
 Os ossinhos de um bebé são extremamente frágeis, sem consistência e em crescimento rápido. Se o bebé permanecer noites e dias constantemente deitado para um só lado a pressão da própria cabeça vai “moldar” os ossos que estão em desenvolvimento.
Os efeitos mais nefastos e complicados de resolver são nos ossos faciais.
A “maçã do rosto” ou osso malar e maxilar superior são os que sofrem mais com esse efeito provocando as chamadas, na ortodontia, Mordidas Cruzadas Laterais, que consiste na mordida investida entre o maxilar superior com o inferior.

Se a mãe reparar que no bebé os dentes fecham certinho com os dentes superiores "por fora" dos inferiores, quer dizer que está tudo bem. Num ou dois dos lados os dentes superiores, entenda-se por maxilar superior, fecharem por dentro da mandibula tem Mordida Cruzada Lateral ou Bilateral, ou seja está mal.

Outro fator que pode ser predominante na Mordida Cruzada Lateral é o facto da criança dormir com a mão debaixo da face. 
Ao colocar a mão, parte mais carnuda junto ao punho, debaixo da face com a boca entreaberta durante algumas horas vai moldar e impedir o desenvolvimento do maxilar sendo também uma das causas da mordida cruzada lateral.

A chupeta

Outros problemas de distúrbios crânio faciais na criança são as Mordidas Abertas Anteriores, provocadas pela sucção da chupeta, deglutição atípica ou sucção digital. No caso da sucção por chupeta:
 normalmente a chupeta tem o aspeto de balão, a parte do balão assenta no palato fazendo uma grande pressão provocada pela sucção desenvolvendo mais a parte anterior do maxilar, ou seja a zona de erupção dos dentes incisivos.

Assim, inicia-se o processo de protrusão “aumento” do osso provocando uma abertura anterior no maxilar fazendo com que a criança não feche bem a boca e não apoie os dentes de cima nos de baixo.
 Poderá usar-se a chupeta mas de forma moderada libertando a mãe muitas vezes do incómodo do choro e descanso do peito.

Embora atualmente haja chupetas ortognáticas menos nocivas a estes efeitos, não deixam de ter alguns problemas nefastos.

Por vezes a criança tem o vício de colocar o lábio inferior por fora da proteção provocando deformação no lábio e protrusão mandibular.
Uma Mordida Aberta por Deglutição Atípica normalmente de origem genética pode também ser adquirida.

Na origem genética, pensa-se que a língua seja maior que o normal ou que os músculos da base da língua sejam mio-flácidos, ou seja, músculos fracos sem capacidade de manterem a língua bem posicionada no “chão” da boca.

Nestes casos a língua funciona acima do nível da arcada inferior, interpõe-se entre os dentes, o que leva à mãe a dizer que o filho tem a língua grande, que não cabe na boca, provocando as complicadas Mordidas Abertas Anterior e Bilateral.

Nefasto também é a sucção digital, normalmente no dedo polegar, que deforma protruindo o Maxilar Superior e Retrognatismo Mandibular.

Observação médica

O médico pediatra deverá estar atento a estas situações, pedir colaboração a um especialista, terapeuta da fala, para correção da mesma e postura da língua. O médico dentista pode intervir logo que a criança colabore com ortodontia intercetiva dento facial. 
A criança que deve ser vista pelo pediatra à nascença, no primeiro exame poderá entre outras anomalias observar-se o freio da língua, bridas laterais e freio labial superior.

Antigamente, quando a língua apresentava um freio tenso, cortavam o freio e soltavam a língua.
Se a criança apresentar freio lingual e não for seccionado à nascença terá de se proceder a essa frenectomia logo que for possível.

Os efeitos são vários, desde dificuldade de articular uma grande parte das frases até à deformação mandibular, podem também interferir na oclusão.
O freio do lábio superior, a anomalia mais frequente é o espaço ou diastema dos dentes superiores e a Protrusão Maxilar Anterior.

O sorriso, “musculo risório do Santorini, vai exercer um estiramento sobre a inserção na zona do palato que repuxa a gengiva tornando-a mais fibrosa e tensa impedindo também de os dentes centrais se unirem.
Este procedimento, normalmente, será ou deverá ser efetuado após erupção dos dentes definitivos que, por vezes, com a própria erupção fazem corte do freio.

Com esta situação, a Mordida Aberta Anterior acaba por facilitar o processo de deformação geral da face e a criança passa a respirar só pela boca apresentando uma aparência que se diagnostica como pacientes Micro-Rino-Displásicos, com atrofia das fossas nasais e deficiência respiratória nasal. Não filtrando o ar pelas narinas podem as alergias serem mais frequentes neste tipo de pacientes.

A criança também deve ser observada imediatamente a seguir à erupção dos primeiros dentes. É ai que o dentista-ortodontista deverá pré-diagnosticar a evolução craniofacial e se possível programar a atuação futura.
Defendo que as atuações e instruções do Dentista deverão iniciar-se cerca dos seis meses ou mesmo antes por indicação do pediatra.

As deformações craniofaciais também têm tratamento profilático desde que diagnosticadas antecipadamente.

É nos pais, avós e tutores, que, de certo modo, recaem as responsabilidades profiláticas destas anomalias que ao adquiri-las podem influenciar muito na estética e beleza do ser humano.

Apoiada pelo pediatra, médico dentista e terapeuta da fala poderá evitar que estas deformações se tornem no futuro um drama para o jovem, que a par das deformações que terá de suportar, não se sinta preterido entre os outros jovens cada vez mais críticos e seletivos nas companhias e na sociedade.

Qualquer médico dentista poderá diagnosticar estas anomalias, fazer o diagnóstico e reencaminhar a criança/jovem para o ortodontista.

Falo com conhecimento de causa porque, desde 1983, já corrigi milhares destas anomalias.

Estas anomalias que são tratáveis, requerem entre os familiares e médico uma grande entreajuda para levar a cabo o bom tratamento, sendo que nestes casos clínicos os pacientes são muito colaboradores.

Por Olívio Lopes Dias,
 Médico Dentista