A neuropatia corresponde a um quadro de lesões nos nervos motores, sensoriais e/ou autónomos que afetam diferentes fibras nervosas. A neuropatia periférica, a mais comum, ocorre quando há lesão no sistema nervoso periférico, como nos nervos dos braços e das pernas.
Trata-se de uma patologia que atinge cerca de 8% da população geral, mas a frequência pode ultrapassar os 50% em idosos, diabéticos e alcoólicos.
Quais são os seus sintomas?
A neuropatia periférica é uma doença crónica, frequentemente subdiagnosticada, pois apresenta início insidioso e por vezes assintomático. Os sintomas da neuropatia periférica podem facilmente ser mal interpretados ou ignorados.
As patologias ou lesões do sistema nervoso central e/ou periférico manifestam-se através de alterações da motricidade (força muscular, coordenação), da sensibilidade (palestésica ou vibratória, térmica, tátil e dolorosa) e do sistema neurovegetativo (pele seca, suores e alteração do ritmo cardíaco, entre outras). A neuropatia periférica caracteriza-se pelos sintomas somáticos como a dormência, sensação de queimadura, sensibilidade táctil extrema ou perda de sensibilidade, fraqueza muscular e desconforto localizado ou generalizado.
Quais são os grupos de risco?
Sabe-se que 30% das pessoas podem estar em risco de desenvolver neuropatia com o passar dos anos e 1 em cada 3 pessoas poderá evoluir para um quadro debilitante.
É possível evitá-la? Porquê?
Quando diagnosticada precocemente, a neuropatia pode ser revertida ou, pelo menos, controlada. Ainda assim, na maior parte dos casos a neuropatia é diagnosticada apenas num estado avançado e quando é difícil de tratar. Os danos nos nervos tornam-se irreversíveis quando a perda de fibras nervosas ultrapassa os 50%.
São grupos de riscos pessoas que, entre outros fatores, apresentem deficiência de vitaminas do complexo B:
- Vegetarianos/Vegans: a sua alimentação inclui escassas fontes de vitaminas do complexo B, especialmente de vitamina B12, o que provoca lesões nos nervos motores.
- Alcoólicos crónicos: o risco está associado a uma combinação de fatores que incluem a malnutrição e alterações na absorção dos nutrientes.
- Diabéticos: indivíduos com diabetes apresentam baixos valores séricos de vitaminas do complexo B. Adicionalmente o tratamento prolongado com alguns medicamentos está associado a níveis baixos de vitamina B12.
- Pós-cirurgia bariátrica: a absorção de vitaminas B pode estar comprometida em doentes submetidos a cirurgia bariátrica.
- Idosos: Pessoas com mais de 80 anos de idade apresentam maior prevalência de deficiência de vitaminas B, pelo que a incidência de neuropatia periférica neste grupo é de cerca de 35%.
A neuropatia é agravada ou pode surgir por causa de outras doenças?
Pode surgir em diferentes tipos de doenças desde as inflamatórias, metabólicas, degenerativas, autoimunes, paraneoplásicas, entre outras.
A neuropatia periférica é a complicação mais comum da diabetes, capaz de comprometer todos os tecidos do corpo e ser causa de significativa morbilidade e mortalidade. Prevê-se que atinja 50% da população diabética, pelo que a prevenção é fundamental para evitar complicações como a síndrome do pé diabético e possíveis amputações. Admite-se que uma significativa parte dos doentes venham a desenvolver Neuropatia Diabética Periférica dolorosa, acarretando prejuízo significativo na qualidade de vida. Sendo grande parte dos casos assintomáticos, os doentes estão sujeitos a um maior risco de lesões nos pés.
Esta patologia é debilitante?
Os nervos, à semelhança do que acontece com os vasos sanguíneos, percorrem todo o nosso corpo e as lesões associadas aos nervos podem estar presentes em todos os órgãos. Os sintomas mais frequentes da neuropatia periférica estão associados ao desconforto dos pés e das mãos, incluindo a falta de sensibilidade, formigueiros, entre outros.
Estes sintomas são muito desconfortáveis e perturbadores da qualidade de vida e surgem associados a lesões dos nervos periféricos, em especial nos diabéticos. Este tipo de neuropatia acaba por ser responsável por 85% das amputações ocorridas em pacientes diabéticos. A neuropatia diabética é ainda uma das causas mais comuns de dor neuropática e acaba por ser a principal complicação e a mais incapacitante da diabetes. A dor crónica é reconhecida como um grave problema de saúde pública com impacto significativo na qualidade de vida das pessoas e enormes custos individuais e sociais.
Como é feito o diagnóstico?
Numa fase inicial grande parte dos doentes ignoram os sintomas porque não lhes atribuem significado. Na maior parte dos casos a neuropatia é diagnosticada apenas num estado avançado e quando é difícil de tratar.
O diagnóstico das formas mais frequentes de neuropatia diabética baseia-se na caracterização do quadro clínico, com os sinais e sintomas mais típicos e na realização de testes neurológicos clínicos e eletrofisiológicos.
Os testes neurológicos básicos envolvem a avaliação de sensibilidade, pesquisa de reflexos tendinosos e autonómicos como a medição da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Existe tratamento?
O tratamento depende em primeiro lugar da causa e da sua adequada correção.
Como tratamento sintomático da dor existem diversos fármacos e recomendações terapêuticas incluindo as da Direção Geral de Saúde baseadas em evidência científica e que propõem como tratamento farmacológico de primeira linha os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina ou imipramina) em doses ajustáveis a cada caso e, se ineficazes ou não tolerados, os fármacos de segunda linha, os inibidores seletivos da serotonina ou noradrenalina (duloxetina ) ou ainda os de terceira linha, os gabapentinóides (gabapentina ou pregabalina) .
Os fármacos selecionados devem ser usados preferencialmente em monoterapia mas se ineficazes em regime rotativo e se insuficientes podem ser usados em politerapia.
Como terapêutica adjuvante, se necessário, recomenda-se o recurso a vitaminas do complexo B por estarem frequentemente deficitárias, sobretudo, nos casos de neuropatia diabética com tratamento prolongado com antidiabéticos orais contendo metformina. Estas vitaminas podem contribuir para melhorar a componente regenerativa dos neurónios afetados e contribuir para o alívio dos sintomas e redução dos sinais clínicos e melhoria da qualidade de vida e o prognóstico destes doentes.
As explicações são de José Maria Pereira Monteiro, professor catedrático jubilado de Neurologia da Universidade do Porto e investigador clínico de Neurogenética do I3S da Universidade do Porto.
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