As áreas ligadas à saúde, tal como outras, vão sofrendo constantes mudanças, fruto de avanços e investigações que vão sendo realizadas.

Neste contexto, consultámos especialistas em várias áreas para avaliar as principais evoluções registadas nos últimos 10 anos. Conheça as mudanças que ocorreram em sectores como a cardiologia, a dermatologia, a psicologia ou a infecciologia:

Cardiologia

«O dabigatran e o rivaroxaban, dois novos fármacos
anticoagulantes ensaiados recentemente em doentes com
fibrilhação auricular (ritmo cardíaco irregular), mostraram-se
mais eficazes que o varfine na redução do acidente
vascular cerebral. Representam um grande progresso por
serem mais eficazes e cómodos, já que não são necessárias
análises de sangue periódicas para monitorizar
o seu efeito», sublinha Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

«Em doentes com angina de peito estável e
insuficiência cardíaca, a ivabradina (um fármaco recente
que reduz a frequência cardíaca) diminui o
risco de morte cardiovascular e hospitalização
por enfarte do miocárdio ou insuficiência
cardíaca», assegura ainda este especialista.

Infecciologia

«O diagnóstico das doenças infecciosas sofreu, na última
década, uma evolução importante, com a chegada
à rotina laboratorial dos testes baseados na biologia
molecular (vulgo PCR, Polymerase Chain Reaction)
aplicáveis no diagnostico da maioria dos agentes infecciosos
patogénicos e para a quantificação de vírus em
circulação, nomeadamente VIH e vírus das hepatites
B e C», realça Jorge Atouguia, infecciologista. «No tratamento, a evolução mais importante é
o aparecimento de novos fármacos, mais eficazes e
menos tóxicos, sobretudo para o tratamento do HIV», refere ainda.


Na Medicina do Viajante, a grande inovação tem a ver
com um novo medicamento para o tratamento e profilaxia
da malária, que associa as substâncias atovaquona
e proguanil. Este fármaco, de toma diária mas com um
tempo de utilização, em profilaxia, muito mais curto
que o dos restantes, veio trazer mais conforto aos viajantes
pela quase inexistência de efeitos secundários e
aumentar a adesão do viajante à toma da medicação», afirma ainda este especialista.

Dermatologia

«Houve um salto qualitativo na dermatologia, a nível de investigação
dos laboratórios fabricantes de tópicos através de
nanotecnologia e outros, transportados agora para cremes
comercializados. Nos tratamentos, destaco o uso de radiofrequência
no rejuvenescimento da pele, o aparecimento de lasers
de CO2 fraccionado, que permitem fazer não só o rejuvenescimento
das peles fotoenvelhecidas como também de cicatrizes,
nomeadamente de acne, com um tempo de recuperação curto
(entre cinco a sete dias)», sublinha Fernando Guerra, dermatologista.

Esses estão, no entanto, longe de ser os únicos avanços apontados por este profissional. «Finalmente, destaco o uso de plasma
em Dermatologia não só para tratar feridas, úlceras ou escaras,
mas para rejuvenescimento através da mesoterapia. Os factores
de crescimento deste plasma rejuvenescem a pele, com uma
biocompatibilidade óbvia e um resultado muito satisfatório», acrescenta ainda.

Veja na página seguinte: O que está a mudar na psicologia, na nutrição e na imagem

Psicologia

«A Psicologia registou uma evolução maior no sentido da ênfase
na saúde e no desenvolvimento do potencial para a felicidade
dos seres humanos do que no tratamento de perturbações,
conforme demonstram a evolução da Psicologia Positiva e da
Psicologia Transpessoal», constata Vítor Rodrigues, psicólogo clínico.

«Também o estudo da consciência evoluiu,
com estudos em neurociências que mostraram a realidade da
neuroplasticidade do cérebro, que pode ser parcialmente moldado
pela mente e pela consciência, a partir de práticas mentais
sistemáticas como a meditação mindfulness e outras», refere.

«A parcial
ineficácia dos antidepressivos começou a vir a lume, mostrando
a crescente necessidade de outros tratamentos», assegura mesmo este especialista, psicológo clínico e psicoterapeuta, doutorado em Psicologia pela Universidade de Lisboa.

Nutrição

«No final do século XX, o desenvolvimento da
investigação sobre substâncias promotoras da
saúde deu origem ao boom dos alimentos
funcionais. Mais recentemente, surgiu a Nutrigenómica,
que irá permitir adequar a alimentação
de cada pessoa às suas particularidades
ambientais e aos seus genes», recorda Alva Seixas Martins, nutricionista.

«No presente,
o comportamento alimentar dos portugueses
não está a evoluir na direcção certa. Excesso de
comida, gorduras saturadas, sal, cereais refinados
e açúcar e um défice de legumes e fruta
(que não se beba), bem como a desestruturação
das refeições não contribuem para uma
vida longa e saudável (e nós estamos a envelhecer
rapidamente e com pouca saúde e... dinheiro)», sublinha Alva Seixas Martins.

As principais mudanças não se ficam, contudo, por aqui. «Acentuaram-se fortemente as diferenças
de saúde nutricional entre pessoas instruídas
e com menos formação, como é evidente
pela maior prevalência de obesidade, diabetes,
hipertensão, entre outros problemas», lamenta.

Imagem

Também a este nível se registaram alterações que não podem ser dissociadas das questões de saúde. «Há uma maior consciência de que a imagem não é só o que se veste ou o corte
de cabelo e maquilhagem, mas uma filosofia de vida que passa pela alimentação,
cuidados de saúde, exercício físico e pelo recurso à cosmética preventiva», repara Helena Carmona, consultora de imagem.

E (já) não são só as mulheres a preocupar-se com este tipo de questões. «A evolução tem sido maior nos homens. No consumo de moda, saliento a abertura
da H&M, que permite comprar peças baratas com óptimo design e é transversal a
todas as classes e faixas etárias, e a abertura do El Corte Inglés, com uma oferta
diversificada e concentrada num só edifício, o que não existia ainda em Portugal», destaca ainda esta especialista.