Uma equipa de cientistas japoneses concluiu, recentemente, que os cigarros eletrónicos são potencialmente 10 vezes mais cancerígenos do que o tabaco convencional e que contêm substâncias tóxicas como o formaldeído e o acetaldeído. Já em Londres, na Queen Mary University of London, concluiu-se que, apesar dos efeitos do uso dos cigarros eletrónicos serem desconhecidos, parecem menos prejudiciais do que os convencionais.
Mas, afinal, o que se sabe sobre os efeitos dos cigarros eletrónicos no organismo e o que falta ainda apurar? Em entrevista à Prevenir, o médico oncologista António Araújo confirma esse universo de dúvida, mas também deixa um alerta. "Do primeiro estudo referido, não se pode concluir diretamente o número avançado", sublinhou na altura o especialista, depois de analisar os dados apresentados.
No entanto, o facto de terem verificado que o cigarro eletrónico pode ser causador direto de cancro do pulmão "pode servir para destruir uma falsa imagem de segurança", adverte ainda o especialista. As empresas que comercializam o produto veiculam, porém, certezas bem diferentes, como se tem constatado pelas suas declarações públicas. Alegação a alegação, o especialista desconstrói o que é veiculado por algumas marcas.
Estes são seis dos principais mitos e (in)verdades do cigarro electrónico que importa esclarecer.
1. Ajuda a diminuir o consumo de nicotina e a sua dependência
Algumas marcas alegam que, ao usufruir de cigarros eletrónicos e e-líquidos com nicotina, está a compensar uma parte da nicotina que o seu organismo recebia quando fumava. Desta forma, atenua os sintomas de privação, permitindo-lhe concentrar-se sobre o aspeto social do consumo. "Errado", diz o especialista. "O consumo de cigarro eletrónico não ajuda a diminuir o consumo de nicotina nem a sua dependência", garante.
"Está provado que não é uma ajuda para quem quer deixar de fumar. O que acontece é que os fumadores experimentam o cigarro eletrónico durante dois ou três meses e regressam ao consumo de cigarros tradicionais. Além disso, o seu consumo pode até induzir o consumo de nicotina nos mais jovens, devido à imagem de não perigosidade para a saúde e a uma imagem de moda associada ao uso do cigarro eletrónico", refere ainda.
2. A nicotina incluída nos líquidos tem 95% de pureza
É uma realidade muito recorrente. Alguns fabricantes fazem alusão à alta qualidade dos seus ingredientes, não só a nicotina mas também a glicerina e o propilenoglicol, garantindo a segurança dos produtos que comercializam. "A nicotina é um químico que causa habituação, sendo o principal responsável pela adição ao tabaco", sublinha o especialista.
"Por isso, a questão não é saber se a nicotina presente no cigarro eletrónico é ou não pura mas, sim, qual é a sua concentração, que ainda não se encontra regulamentada, bem como das outras substâncias presentes nestes dispositivos. Cada marca pode introduzir os produtos que desejar, quer em termos de substâncias aditivas, de essências de sabor ou de outros produtos que podem ser eventualmente cancerígenos", esclarece.
3. Os aromas utilizados não apresentam perigos de teor cancerígeno
A utilização exclusiva de aromas naturais e artificiais conforme as normas vigentes na União Europeia serve de alegação para algumas marcas. "Estes aditivos, que tornam mais agradável o consumo do cigarro eletrónico, podem causar irritação ocular e respiratória e terem efeitos deletérios sobre a gravidez. Constituem, assim, um potencial risco para a saúde do indivíduo", refere o médico oncologista António Araújo.
4. O e-cigarro é menos nocivo para a saúde do que o cigarro convencional
O facto do tabaco convencional ter cerca de 4.000 produtos químicos e destes, 100 deles serem tóxicos e 69 serem cancerígenos serve de argumento, para algumas marcas, para a inocuidade do cigarro eletrónico. "O aparecimento do cigarro eletrónico é ainda muito recente, pelo que ainda não sabemos exatamente todos os seus efeitos no organismo a médio e a longo prazo", adverte António Araújo.
"Este facto é aumentado por ainda não haver regulamentação sobre a sua fabricação e, consequentemente, cada marca poder introduzir os produtos que desejar", afirma o especialista. "O que hoje se sabe é que o cigarro eletrónico é, pelo menos, tão prejudicial à saúde quanto o cigarro tradicional", acrescenta ainda o médico oncologista António Araújo.
"Por isso, deve ser proibida a sua venda a menores, desaconselhado o seu uso em grávidas e esclarecer que o seu consumo não ajuda à cessação tabágica", ressalva também este especialista. Uma opinião que é partilhada por muitos outros médicos em diferentes partes do mundo.
5. O seu consumo não é prejudicial aos fumadores passivos
Enquanto que o vapor libertado pelo cigarro eletrónico tem uma vida útil de 11 segundos, o fumo do tabaco convencional permanece no ar durante 20 minutos, alegam os comerciantes, argumentando que o uso do cigarro eletrónico põe fim ao tabagismo passivo. "Está provado que o aerossol do cigarro eletrónico contém substâncias cancerígenas e irritantes, o vapor libertado é também tóxico para quem está em seu redor", diz.
"A toxicidade de um aerossol não se mede pela sua vida útil, mas pela quantidade de substâncias perigosas que contém. Por isso, o seu consumo tem vindo a ser reconhecido como perigoso para a saúde de quem está ao lado de um consumidor e proibido em diversos locais fechados, como os aviões", diz ainda o médico oncologista António Araújo.
6. O vapor não tem alcatrão
Não tem alcatraão nem monóxido de carbono nem amoníaco nem substâncias radioactivas nem produtos cancerígenos nem cianeto, afirmam os comerciantes. "O cigarro eletrónico é ainda recente e a sua composição varia conforme o fabricante, pelo que se torna difícil conhecer já todos os efeitos na saúde do indivíduo. Há, ainda, muito a estudar sobre este assunto", refere o médico oncologista António Araújo.
Texto: Carlos Eugénio Augusto com António Araújo (médico oncologista)
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