Desde 2000 que Portugal é membro da iniciativa Euromelanoma, cujo objetivo é promover e partilhar informação acerca da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento dos cancros da pele. Neste dia foram, mais uma vez, promovidos rastreios em vários serviços por todo o país, de forma a sensibilizar a população para a importância do diagnóstico precoce.

Estes são os sintomas de cancro mais ignorados pelos portugueses
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Existem vários tipos de cancro da pele, dos quais o Melanoma Maligno é a forma mais perigosa e potencialmente fatal, se diagnosticado tardiamente, sendo responsável por mais de 80% das mortes por cancro da pele.

O principal fator de risco é a exposição solar excessiva, que ao longo do tempo induz danos irreparáveis na pele.

Apesar de ser mais frequente na população com mais de 60 anos, tem-se assistido a um aumento significativo de casos entre os jovens

De acordo com os dados do Registo Oncológico Nacional, a incidência de Melanoma Maligno tem vindo a aumentar de forma rápida e consistente em Portugal, nos últimos anos, estimando-se que seja atualmente de cerca de 8-9 casos por 100.000 habitantes por ano. Apesar de ser mais frequente na população com mais de 60 anos, tem-se assistido a um aumento significativo de casos entre os jovens.

Infelizmente, quando as lesões da pele são diagnosticadas numa fase mais avançada, uma percentagem significativa de doentes desenvolve metástases em várias localizações no organismo e, neste contexto, a hipótese de cura é muito reduzida.

Ao longo das últimas décadas, foram utilizados vários tipos de tratamentos antineoplásicos para combater a doença em fases mais avançadas, mas com muito pouco sucesso, o que fazia com que os doentes nesta situação tivessem muito mau prognóstico. Desde 2010 e sobretudo nos últimos cinco anos, os avanços da investigação clínica permitiram que surgisse uma nova esperança para os doentes com Melanoma.

O desenvolvimento de novos agentes terapêuticos na área da imunoterapia (como por exemplo anti-PD-1 e anti-PD-L1) e das novas terapêuticas-alvo (como os inibidores BRAF e os inibidores MEK) tem vindo a alterar rapidamente a realidade do tratamento do Melanoma avançado. No que diz respeito, especificamente, à imunoterapia as estratégias de tratamento atuais consistem em estimular as células do sistema imunitário do doente a combater as células do tumor. Vários ensaios clínicos comprovaram a eficácia da imunoterapia em Melanoma avançado, o que se reflete num maior controlo da doença e no aumento do tempo de sobrevivência.

Ao contrário do que se verifica com os tratamentos de quimioterapia anteriormente utilizados, as respostas podem ser mais duradouras graças à estimulação do sistema imunitário, que pode adquirir uma memória que se mantém ao longo do tempo. Este tratamento é bem tolerado pela maior parte dos doentes, embora possam surgir efeitos secundários relacionados com a ativação excessiva do sistema imunitário. Para uma adequada gestão destes efeitos, os doentes devem ser acompanhados por equipas de Oncologia especializadas nesta área.

Infelizmente, as terapêuticas atualmente disponíveis ainda não são uma solução adequada para todos, existindo uma intensa investigação clínica para que os resultados sejam ainda melhores e para perceber quais as melhores alternativas para quem não responde a estas estratégias de tratamento. No último ano foram também divulgados resultados de ensaios em que estas terapêuticas foram utilizadas em fases mais iniciais da doença, após a remoção do tumor e dos gânglios e quando ainda não existe doença noutras localizações.

Os próximos anos trarão, com certeza, grandes desafios nesta área, mas é fundamental lembrar que as duas principais armas serão sempre a prevenção e o diagnóstico precoce.

Um artigo de opinião do médico Emanuel Gouveia, especialista em Oncologia Médica no Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil.