O lúpus é uma doença crónica inflamatória que afeta as defesas do organismo, o que significa que a patologia, que dura toda a vida, é causada por um mau funcionamento imunitário que faz com que o corpo rejeite as suas próprias células. Como o sistema imunitário engloba todo o organismo humano, os sintomas do lúpus podem aparecer em qualquer órgão do corpo. "Não é contagioso e, atualmente, neste início da década de 2020, ainda não há cura", esclarece o especialista António Marinho.

"O lúpus é uma doença em que o sistema imunológico, por razões desconhecidas, tem como alvo o tecido saudável do corpo, nomeadamente a pele, as articulações e os órgãos, na maioria das vezes os rins, o coração, os pulmões, o cérebro, o sangue e os vasos sanguíneos", refere o coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. "A causa exata não é totalmente compreendida", afirma o especialista.

Viver com lúpus
Viver com lúpus
Ver artigo

"Os médicos acreditam que uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais estão envolvidos", avança António Marinho. "O lúpus, geralmente, causa uma importante interferência nas atividades da vida diária. O isolamento e a depressão resultantes do lúpus podem ser devastadores. O impacto emocional do lúpus pode ser tão incapacitante quanto os sintomas físicos", adverte o o coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

"As pessoas com lúpus beneficiam do apoio emocional e da compreensão de amigos e familiares que, muitas vezes, deixam de valorizar esses sintomas e a sua incapacidade", sublinha ainda o responsável. Existem dois tipos de lúpus, uma doença que, segundo estimativas, afeta cerca de 0,7% da população portuguesa. Um deles é o lúpus eritematoso sistémico, que pode atacar qualquer órgão. O outro é o lúpus eritematoso cutâneo, que afeta essencialmente a epiderme.

Quais são os sintomas de lúpus?

Sendo uma doença autoimune, podem existir múltiplos sintomas, pois qualquer órgão ou sistema pode ser afetado. Os mais comuns são:

- Pele com manchas e epiderme escamosa

- Dores reumáticas por todo o corpo ou só em parte dele

- Alterações a nível do coração como, por exemplo, derrames do pericárdio

- Problemas renais, que podem ser graves

- Afeções neuro-psiquiátricas

- Fadiga inexplicável e quase permanente

Quem é que o lúpus afeta?

Esta patologia crónica autoimune afeta, maioritariamente, a população do sexo feminino, embora não se deva afirmar que é uma doença de mulheres. Os dados que existem revelam, no entanto, que, em média, encontramos nove doentes do sexo feminino por cada um do sexo masculino com o diagnóstico confirmado, em adultos. Em crianças e jovens, essa proporção não é tão nítida nem a diferença tão expressiva, segundo cientistas e investigadores.

O lúpus é uma doença genética e hereditária?

Há estudos genéticos que encontraram alterações em certos genes nos doentes com lúpus, mas ainda é cedo para se tirarem conclusões definitivas. "Muitos médicos acreditam que uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais estão envolvidos [no desenvolvimento da patologia", afirma António Marinho, coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

Como é que o lúpus pode ser tratado?

O lúpus continua a ser uma doença crónica, portanto sem cura. Mas a ciência tem feito progressos e há esperança de que, em breve, seja aprovado nos Estados Unidos da América, um novo medicamento para o lúpus. Mas, atenção, esse medicamento não é uma cura definitiva e não pode ser receitado a todos os doentes. Como se trata duma doença plurifacetada, os doentes têm, geralmente, de tomar vários fármacos. António Marinho confirma essa informação.

"Apenas uma medicação desenvolvida unicamente para o lúpus recebeu aprovação regulatória em quase 60 anos", lamenta. "Com mais de 40 terapias potenciais em desenvolvimento, a necessidade de voluntários com a doença se inscreverem em ensaios clínicos é fundamental, para que exista um arsenal de tratamentos cada vez mais personalizado", apela o coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

As formas mais frequentes do lúpus
As formas mais frequentes do lúpus
Ver artigo

"O lúpus pode afetar qualquer sistema orgânico e um medicamento adequado para uma manifestação pode não ser adequado para outra", alerta ainda o especialista. "Devido às suas diferentes manifestações, as pessoas com a doença precisam de atendimento médico de qualidade, beneficiando de um tratamento realizado em clínicas multidisciplinares de lúpus", refere. "O lúpus ainda é causa de má qualidade de vida e de alterações profundas nas estruturas familiares e nas estruturas laborais. As avaliações de incapacidade são desadequadas nestes doentes", afiança o especialista.

"Muitas vezes, são prejudicados laboralmente e a nível fiscal, vítimas de longas baixas médicas sem solução visível e de retorno laboral forçado sem o mínimo de condições. Atualmente, os doentes com lúpus continuam a não ter qualquer proteção legal para exercer as suas profissões com horários e funções adaptadas, havendo muitas vezes preferência pela baixa, despedimento ou reformas antecipadas em detrimento de um enquadramento adequado", critica.

Que cuidados é que os doentes com lúpus devem ter?

Devem ter cuidado com o sol e com o calor, evitando exposições solares prolongadas. Devem fazer uma alimentação variada e saudável, manterem-se tanto quanto possível ativos e não se isolarem. Devem ainda manter o contacto com os familiares e amigos, evitar o stresse e confiar e colaborar com o seu médico. O lúpus pode causar a morte e o mais triste é que não escolhe idades. Mas, com esses cuidados e com os tratamentos adequados, a mortalidade tem vindo a descer.