Esta cirurgia é o tratamento definitivo de muitas doenças do útero tanto benignas, como é o caso dos miomas uterinos, como de doenças malignas ou ainda de problemas relacionados com as estruturas de suporte do útero que causam a sua descida e exteriorização através da vagina, os denominados prolapsos uterinos.
As primeiras descrições de remoções do útero datam da antiga Grécia e acredita-se que esta cirurgia terá sido realizada pela primeira vez no ano 120 a.C., por via vaginal (o útero é removido através da vagina sem abertura do abdómen).
Nessa época era uma cirurgia salva vidas, era o último recurso em situações de extrema urgência e quase sempre o desfecho era fatal para a mulher.
A primeira histerectomia programada foi realizada em 1801 na Alemanha. O desenvolvimento da anestesia e dos cuidados de assepsia, no século XIX e o uso de antibióticos, no século XX, levou ao aumento progressivo do número de histerectomias, tornando-se um procedimento cirúrgico habitual entre os ginecologistas e mais seguro para as mulheres a que a ele se submetem.
Em Portugal a histerectomia foi inicialmente desenvolvida e praticada na escola de cirurgia do Hospital de S. José tendo a primeira sido realizada em Lisboa pelo Professor António José Serrano.
Nos primeiros tempos esta cirurgia era apenas realizada por via vaginal e só mais tarde passou a ser realizada por via abdominal, através de uma abertura do abdómen. Nas últimas décadas, surgiram novos avanços devido ao progressivo desenvolvimento da cirurgia minimamente invasiva.
Histerectomia realizada por laparoscopia
Surgiu então a histerectomia realizada por laparoscopia, em que são realizados 3 ou 4 orifícios no abdómen por onde são introduzidos os instrumentos necessários à realização da cirurgia. Mais recentemente foram criados robôs que, manipulados por cirurgiões, podem permitir a realização de histerectomias minimamente invasivas em situações mais complexas.
Concomitantemente aos avanços das técnicas, tem-se vindo a assistir por todo o mundo a uma redução do número de histerectomias, sobretudo quando a sua indicação é uma doença benigna do útero, como é o caso dos miomas uterinos.
Assim, em Portugal e de acordo com um recente estudo apresentado pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia*, nos últimos 15 anos (2000 a 2014), foram efetuadas nos hospitais públicos 166177 histerectomias.
Contudo, enquanto no ano 2000 foram realizadas 11319 histerectomias (212 por cada 100 000 mulheres residentes no nosso país), em 2014 esse número reduziu para 9326 (171 por cada 100 000 mulheres). Trata-se de uma redução global de 20% mas com diferenças regionais que se cifram entre os 4,7% na região norte de Portugal, 23,3% do Centro e os 33,5% no Sul.
Menos e menores internamentos
Acompanhando a evolução das técnicas verificou-se, igualmente em Portugal, um aumento das histerectomias realizadas pelas vias vaginal e laparoscópica e uma redução das histerectomias realizadas por via abdominal. Estas modificações têm permitido reduzir o número de dias de internamento e uma recuperação mais rápida com benefícios sentidos pela mulher a nível familiar e profissional.
O principal motivo para a realização de uma histerectomia em Portugal são os miomas uterinos (45,3% dos casos), seguido do prolapso uterino (11,3% dos casos) e do cancro do útero (6,1%).
A redução da taxa de histerectomias tem acontecido sobretudo no caso dos miomas uterinos (45,3% em 2000 versus 37,6% em 2014) e é explicada por um lado pelo recurso a tratamentos cirúrgicos mais conservadores em que se remove apenas a lesão (o mioma) e se preserva o útero e, por outro lado pelo aparecimento de tratamentos médicos inovadores, como o acetato de ulipristal, que controlam as hemorragias uterinas anormais, principal sintoma destas doenças, e podem reduzir significativamente o volume dos miomas.
Conscientes de todas estas mudanças e cada vez mais informadas, as mulheres de hoje, partilham com o médico as decisões que dizem respeito à sua saúde e têm contribuído de forma positiva para esta mudança de paradigma no que diz respeito à histerectomia e ao tratamento das doenças benignas do útero.
*Este estudo foi efetuado com base em dados nacionais fornecidos pela ACSS (Administração Central dos Sistemas de Saúde)
Por Fernanda Águas, Médica e Especialista em Ginecologia-Obstetrícia e Presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia
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