O sol esconde riscos que são potenciados quando não tomamos os cuidados necessários de protecção da pele. O melanoma é o seu principal inimigo, mas, quando detectado precocemente, na esmagadora maioria dos casos, é curável.

Proteger-se do sol. Esse é o segredo. De acordo com os dados disponíveis, na população branca (caucasóide), um em cada três cancros é um cancro da pele e uma em cada seis pessoas desenvolverá esta doença ao longo da vida.

O excesso de exposição solar o responsável por cerca de 90% dos casos. A situação, embora não seja dramática, é preocupante, uma vez que em Portugal temos sol durante muitos dias no ano, a nossa população tem uma pele mais clara do que aparenta e mantém hábitos de exposição solar no Verão de duração curta mas intensa. Qual a atitude que pode inverter este cenário? O conhecimento dos factores de risco e a prevenção.

Esteja atento aos sinais

Observe a evolução da forma e a cor dos seus sinais. A maioria das pessoas tem alguns e quase todos são inofensivos, mas é importante estar atenta às mudanças. Com frequência, o melanoma desenvolve-se a partir de um sinal já existente.

Examine a sua pele ao espelho de forma regular (incluindo costas, plantas dos pés e couro cabeludo), sem medos nem alarmismos, apenas para verificar se os sinais continuam iguais e vigiar o desenvolvimento de novos. Os sinais suspeitos de transformação maligna têm as características ABCD:

- Assimetria
Dividindo o sinal ao meio, um dos lados não se parece com o outro.

- Bordos irregulares
Especialmente a presença de chanfraduras ou indentações, bem como irregularidades na superfície, visíveis ou palpáveis.

- Cor
O sinal de alerta pode ser a mudança na cor de um sinal já existente ou o desenvolvimento de um sinal de cores variadas, especialmente tonalidades de vermelho, branco, castanho, azul ou preto.

- Diâmetro
O aumento súbito de tamanho de um sinal, especialmente os que têm mais de 5 mm de diâmetro, deve motivar de imediato uma consulta com um dermatologista.

O mais temido

A incidência dos diferentes cancros da pele tem aumentado de forma consistente ao longo dos últimos 30 anos. Em Portugal estima-se que surjam todos os anos cerca de 10.000 novos cancros da pele. Mas os casos mais preocupantes continuam a ser os de um tipo específico de cancro da pele, o melanoma. Este é o mais maligno dos cancros da pele. De acordo com a APCC, apesar de representar apenas 8% do total de cancros cutâneos, é responsável por mais de 80% das mortes causadas por este tipo de tumores. 

Estima-se que surjam, anualmente, mais de 800 novos pacientes, prevendo-se uma mortalidade de 10 a 20% dos casos após 5 a 10 anos, revela a APCC.

As mulheres são mais propensas, especialmente entre os 40 e os 49 anos. Nos homens é frequente no tronco, costas, cabeça e pescoço, enquanto que nas mulheres se desenvolve nas pernas e tronco.

Mas não devemos excluir a possibilidade de atingir outras áreas, incluindo os locais mais insuspeitos, nomeadamente debaixo das unhas, palmas das mãos ou plantas dos pés.

Sol em que medida?

O aumento da incidência dos principais tipos de cancro da pele é geralmente atribuída à exposição solar excessiva, que tanto pode ser crónica como brusca e intermitente. A exposição crónica ao longo do ano, como a que se verifica nos trabalhadores rurais, provoca o envelhecimento prematuro da pele e predispõe para o aparecimento das formas menos agressivas de cancro cutâneo: o carcinoma baso-celular e o carcinoma espino-celular.

A exposição brusca e intermitente ao sol, como sucede com as pessoas que vivem em meio urbano e se expõem intensamente e por curtos períodos ao sol durante as férias, aumenta o risco de aparecimento do melanoma (apesar de haver, neste caso, outros factores a considerar, nomeadamente de ordem genética). Para saber mais sobre os vários tipos de cancro cutâneo que existem, clique aqui.

Como proteger-se do sol?

O segredo está na prevenção. Reforce-a:

- Evite o efeito cumulativo do sol na pele bem como as queimaduras.

- Durante a exposição ao sol, utilize fotoprotectores que sejam eficazes tanto contra os raios UVA como UVB e que tenham, no mínimo, factor 15 de protecção.

- Os óculos de sol e os chapéus protegem a cara, o pescoço e as orelhas. E a roupa escura é melhor que a clara.

- Lembre-se que os autobronzeadores conferem um tom bronzeado à pele, mas não aumentam a sua protecção face ao sol. Tenha também cuidado com o contacto com produtos potencialmente fotossensíveis, como sabonetes, perfumes e desodorizantes. Também existem fármacos fotossensibilizantes; consulte o médico se está a tomar algum medicamento.

- Utilize as sombras das árvores ou dos edifícios, se possível, pois são preferíveis às sombras dos chapéus de sol.

- Utilize vestuário adequado para se proteger (camisola, chapéu e óculos de sol). Lembre-se que os raios solares são mais prejudiciais entre as 11h e as 16h. Durante este tempo, evite as exposições solares.

- Evite os solários. Para além de aumentarem o risco de cancro da pele, causam um fotoenvelhecimento precoce e têm efeitos nefastos a nível ocular (cataratas).

Texto: Fernanda Soares com Jorge Cardoso (dermatologista e coordenador da Unidade de Dermatologia do British Hospital Lisbon XXI, em Lisboa)