Tudo começa com o exame físico, em que o ginecologista, além de avaliar aspetos gerais como a tensão arterial e a relação entre a sua altura e peso, faz a palpação mamária. 

O seu estado geral de saúde afeta e é afetado por questões específicas da ginecologia, pelo que importa avaliar regularmente o funcionamento dos seus órgãos sexuais e reprodutivos para evitar possíveis problemas futuros.

Por exemplo, a toma da pílula pode provocar alterações nas enzimas hepáticas, na glicémia e no colesterol, pelo que lhe podem ser pedidas análises ao sangue e à urina. A esta etapa, segue-se o exame ginecológico. Além do exame visual da vulva, o ginecologista observa a vagina e o colo do útero introduzindo o espéculo, um instrumento em forma de bico de pato.

Nesta etapa inclui-se, ainda, o exame de Papanicolau e a palpação do útero e dos ovários para avaliar a sua forma e características e eventuais alterações. Após estes procedimentos, e em função dos resultados, do histórico e dos fatores de risco da mulher, há exames que poderão ser realizados ou prescritos pelo ginecologista.

Citologia do colo do útero ou exame de Papanicolau

Permite detetar, através da pesquisa de células pré-malignas ou malignas, lesões do colo do útero que podem ser causa de hemorragias vaginais prolongadas ou irregulares. Deve ser feito pela primeira vez em mulheres com mais de 21 anos que já tenham tido relações sexuais, preferencialmente três anos após o início da vida sexual. É repetido a cada dois a três anos, salvo se houver sintomas.

É praticamente indolor, mas poderá sentir desconforto quando, com uma espécie de escovilhão, é feita a colheita de uma amostra de células da superfície externa do colo do útero e do canal endocervical, que será analisada ao microscópio. Quanto menor a tensão muscular, mais confortável se sentirá. Quando existe uma lesão pode ocorrer uma pequena hemorragia.

Não existem contraindicações, mas sim situações em que não é conveniente fazer esta colheita, por levarem a resultados errados: infecções ginecológicas com corrimento abundante ou perda de sangue muito intensa. Nestes casos devem tratar-se as infeções e a perda hemática ou a atrofia e, só depois, proceder à colheita para citologia.

Ecografia pélvica

Pode ser feita a cada dois anos se não houver queixas que justifiquem encurtar este prazo. A partir dos ultrassons emitidos pelo aparelho, são refletidos ecos pelos órgãos pélvicos, criando-se no computador imagens dos ovários, útero e trompas de falópio que permitem avaliar alterações e revelar anomalias congénitas, alterações infeciosas ou quistos e tumores.

Na ecografia pélvica por via abdominal a sonda é colocada sobre a zona abdominal. Deverá beber quatro a seis copos de água uma hora antes do exame. Se a via for endovaginal, a sonda é inserida na vagina. Na ecografia pélvica por via abdominal é aplicado um gel frio na região suprapúbica que serve de condutor para os ultrassons. Na via transvaginal, a manipulação da sonda (comprida e estreita e coberta com um preservativo e um gel lubrificante) pode causar algum desconforto.

Não existem contraindicações mas, na via abdominal, o exame é condicionado pela preparação (se a bexiga não estiver bem cheia pode não se visualizar todo o aparelho ginecológico) e pode ser dificultado em casos de interposição de ansas intestinais (pequenos golpes). Estas situações não condicionam a ecografia endovaginal

Biopsia

Pode ser feita para despistar a presença de lesões pré-malignas ou malignas das várias partes que constituem o aparelho ginecológico inferior (colo, vagina e vulva), mediante a recolha de fragmentos de tecido ou líquido que serão analisados em laboratório. Também pode ser feita biopsia do endométrio (mucosa que reveste a parte interna do útero), para estudo deste segmento. A do colo do útero e vagina é, por norma, indolor, com eventual sensação de picada.

A da vulva implica anestesia local e a a do endométrio é dolorosa, podendo desencadear desmaio. Respirar fundo durante o exame favorece o relaxamento muscular, que ajuda a diminuir o desconforto e a dor. As biopsias do colo do útero, da vagina e da vulva não devem ser realizadas quando há infeções graves, já que podem ser causa de hemorragia. As da vulva podem provocar cicatrização deficiente.

Na biopsia do colo do útero, ocorre, em casos raros, uma pequena hemorragia que é controlável. Na biopsia do endométrio, o risco maior é o hemorrágico ou infeccioso e há um risco raro de perfuração uterina. Durante dois a três dias após qualquer biopsia deve evitar ter relações sexuais, usar tampão e fazer duches vaginais.

Colposcopia

O médico usa um colposcópio (instrumento que associa uma luz brilhante a uma lente de aumento) para visualizar de forma mais precisa e profunda a vulva, a vagina e o colo do útero. É feita quando há uma lesão detetada através da citologia ou de um teste de HPV, para avaliar a sua extensão e localização. As imagens são gravadas e incluídas no relatório entregue à paciente. Para confirmar o diagnóstico, pode ser necessário realizar uma ou mais biópsias.

Sente-se algum desconforto quando é inserido o espéculo, que permite fazer a observação. Pode também surgir um ligeiro ardor quando, no decurso do exame, são aplicados dois líquidos (ácido acético e lugol). A lista de contraindicações inclui malformações, infeções, sangue ou atrofia podem dificultar um diagnóstico correto, sendo preferível adiar o exame.

Deve, contudo, mantê-lo se a causa do exame for perda de sangue fora do período ou com as relações sexuais. Raramente podem surgir alterações na tensão arterial, o que poderá implicar permanência sob observação. Mais tarde, é normal que ocorra alguma perda de sangue.

Histeroscopia

Deve ser realizada nos primeiros 15 dias após a menstruação e permite observar os tecidos da parte interna do útero (endocolo e endométrio) e as características da cavidade uterina com um histeroscópio (tubo rígido com cerca de quatro milímetros de diâmetro com iluminação forte). Usa-se gás CO2 ou soro fisiológico para distender a cavidade uterina. Pode ser efectuada em ambulatório, para diagnóstico de patologias (identificadas através de ecografia), ou no bloco operatório, para retirar pólipos ou miomas do útero.

Por vezes, é feita uma biopsia para complementar ou confirmar o diagnóstico. É comum sentir-se uma sensação de desconforto e contracção uterina, semelhante à dor menstrual, com a introdução do histeroscópio, que é feita após a administração de anestesia local. Não há contraindicações absolutas, mas condicionantes, nomeadamente infeções, sangue, atrofia grave ou malformações dificultam o diagnóstico.

Mais frequentemente, na menopausa, sente-se dificuldade na introdução do histeroscópio pode impossibilitar o exame. De forma imediata, pode surgir uma hemorragia ligeira, comum quando é feita biópsia. Raramente, pode ocorrer desmaio que implique permanecer sob observação ou, mais tarde, uma infecção pélvica.

Testes de HPV

Teresa Fraga, ginecologista, explica a importância deste método de rastreio de lesões pré-cancerosas, que deve complementar o exame de Papanicolau. Estes são testes de pesquisa dos 12 a 14 tipos do vírus HPV de alto risco para o desenvolvimento de cancro do colo do útero e associados a cancro do ânus, vagina, pénis, vulva e orofaringe. Existem cerca de 47 testes de HPV , mas até agora só quatro estão aprovados pela autoridade do medicamento norte-americana, a FDA, Food and Drug Administration. Aconselhe-se com o seu médico.

Tal como a citologia, são usados para deteção precoce de lesões pré-cancerosas invisíveis a olho nu, que podem, assim, ser tratadas atempadamente, impedindo o desenvolvimento de cancro do colo do útero, o segundo cancro mais frequente na mulher jovem e que mata em Portugal cerca de uma mulher por dia. O processo de colheita de material para análise é análogo ao da citologia.

Estes testes têm vantagens. Identificam cerca do dobro das lesões detetadas através da citologia, que tem uma sensibilidade menor e, por isso, maior percentagem de falsos negativos. Aconselhe-se com o seu ginecologista sobre a melhor altura de os fazer.

Outros exames que podem ser prescritos pelo ginecologista:

- Laparoscopia

Pode ser usada para diagnóstico, para remover quistos ou tumores ou para retirar o útero. É realizada sob anestesia geral, com internamento de um dia, envolvendo a inserção de um tubo fino e iluminado (laparoscópio) no abdómen através de uma incisão mínima no umbigo.

- Mamografia

Radiografia que permite diagnosticar o cancro da mama em fase precoce, detetando nódulos com menos de um centímetro e de localização profunda. Está recomendada a partir dos 45 anos, mas pode ser antecipada, sobretudo se existirem antecedentes familiares.

Preparada para o exame?

Marcação:

- Deve ter em conta que deve fazer o exame numa data em que não esteja menstruada.

Nas 24 a 48 horas anteriores:

- Não tenha relações sexuais nem faça irrigações vaginais.

- Evite aplicar tampão ou medicamentos (cremes ou óvulos), espumas e geleias contracetivas ou lubrificantes.

No dia do exame:

- Não faça o exame em jejum.

- Leve consigo a requisição e relatórios de exames anteriores.

Texto: Rita Miguel com Teresa Fraga (ginecologista)