“Foi um dos piores momentos da minha vida”. O lamento é do maratonista português Paulo Guerra e reporta ao dia em que soube que o sinal estranho que tinha nas costas era um melanoma de nível três (num nível máximo de 4). O atleta não nega os comportamentos de risco. “Tive-os todos”, confessa. “Treinava sem camisola, sem protector solar, óculos ou chapéu e às horas de maior risco”, admite, sublinhando mesmo que apreciava “o bronze” associado à prática de desportos outdoor.

O sinal que tinha desde sempre nas costas ia crescendo à velocidade com que o internacional somava vitórias. “Não me doía, não sentia nada”, lembra. A irmã insistiu e ex-sportiguista procurou o médico da Federação de Atletismo, que reencaminhou o caso para um médico da especialidade.

O diagnóstico veio duas semanas depois e deixou Paulo Guerra atónito. “Nem sabia o que era um melanoma”, assume. Abandonou a alta competição, tratou-se e através de exames recebeu uma boa notícia: O cancro não alastrara a outros órgãos. Jurou: “Sol nunca mais”. No entanto, mais de um ano depois reaprendeu a tirar do astro rei apenas os benefícios. Faz desporto de manutenção e alerta para os perigos do desporto fora de portas. “Só com exemplos é que as pessoas aprendem”, defende. E prossegue: “Em 20 anos de atletismo profissional nunca me alertaram para os malefícios do sol”.

Campanha de prevenção

Para colmatar esta falha, a Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) reforça, este ano, na campanha de prevenção o aviso para o risco não só das actividades desportivas, mas também de todas as actividades quotidianas ao ar livre. “Era necessário mudar os horários das competições que são às horas menos recomendáveis”, sublinha Osvaldo Correia, da APCC.

O dermatologista revela que os portugueses em geral ainda têm uma má relação com o sol, apesar dos alertas sucessivos. Segundo o mais recente inquérito realizado por esta associação continua a haver “algum descuido nas pessoas que vão para a praia, nas horas e no tempo que estão ao sol”. “Os mais jovens continuam a expor-se demasiado nas horas piores”, revela.

A APCC e a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia estão empenhadas, contudo, em contrariar esta tendência e os números que teimam, também eles, em não serem simpáticos. Todos os anos são diagnosticados dez mil novos casos de cancro da pele, entres eles cerca de mil melanomas. Cerca de 20 por cento dos casos acabam por ser mortais. Por isso nunca é demais lembrar: “Este Verão, sol com moderação”.

Texto: Sandra Cardoso

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