Anualmente, a Liga Portuguesa Contra o Cancro realiza o seu Peditório Nacional com o objetivo de angariar fundos que servem a intervenção solidária da liga nas várias frentes da luta contra o cancro.
O SAPO Saúde esteve à conversa com o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Professor Carlos Oliveira, que nos elucidou sobre a importância do peditório para o apoio de doentes com cancro e suas famílias, e sobre a razão porque todos os portugueses deveriam este ano contribuir com o dobro do valor que a liga pediu nos peditórios dos anos anteriores: a quantia simbólica de 2 euros.
ENTREVISTA:
SAPO Saúde (SS) - Como surgiu o Peditório Nacional?
Carlos Oliveira (CO) - O Peditório Nacional é já uma tradição da liga porque data mesmo antes da constituição da liga, há 70 anos. No fim dos 60, princípios dos anos 70, alargou-se ao resto do país, com a criação dos centros do IPO e com a criação dos núcleos regionais de luta contra o cancro.
O peditório nesta data tem uma longa tradição e é efetivamente uma das principais fontes de angariação de fundos da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Estes fundos destinam-se sobretudo à solidariedade social e por isso mesmo espero que, apesar da situação de crise, os portugueses sejam solidários.
SS - Quais os objectivos do Peditório Nacional deste ano?
CO - Se cada português, em média, der 2 euros para a liga nós podemos fazer o dobro daquilo que fazemos em termos de solidariedade social. Se conseguíssemos isso, conseguíamos duplicar a verba angariada no peditório e assim conseguiríamos ter uma actuação maior em termos de solidariedade.
A solidariedade ocorre a vários níveis com intervenções dos voluntários hospitalares e voluntários comunitários. É preciso também não esquecer que há famílias que estão a passar por situações de desemprego e que, além disso, passam por dificuldades de cancro.
Além, do aspecto da solidariedade social e além do rastreio, a liga também tem uma actividade importante no que diz respeito a programas de educação para a saúde, ao nível dos jovens e das pessoas mais velhas, com vários tipos de atividades e de eventos de educação para a saúde, que obrigam a algumas despesas. Também apoia projetos de investigação na área do cancro, sobretudo desenvolvidos em instituições de crédito nacional e com grande prestígio, portanto a verba angariada é sempre pouca.
Obviamente não sobrevivemos com a verba do peditório, temos parcerias com empresas privadas, temos a linha de valor a acrescentado, e recebemos também uma parte que os portugueses disponibilizam através dos 0,05 € do IRS. Brevemente, iniciaremos uma campanha nesse sentido, para lembrar que 0,05 € é uma verba significativa.
SS - Qual a taxa de sucesso do peditório nos anos anteriores?
CO - Globalmente todos os anos tem havido um aumento da percentagem que tem vindo a ser angariada, gostaríamos este ano, no mínimo manter a expectativa, no máximo, dobrar o valor.
Pessoalmente, como presidente da liga, gostaria muito de poder dar muito mais apoio social aos doentes e às suas famílias do que aquele que prestamos. Sendo também presidente do núcleo regional do centro, deu-me imensa satisfação terem-me dito outro dia que a verba que estava orçamentada de apoio social tinha sido esgotada. No apoio social não podemos falhar.
SS - Como se traduz o apoio social da Liga Portuguesa Contra o Cancro?
CO - Traduz-se através do voluntariado. Há voluntariado hospitalar que está nos centros de oncologia ou nalguns hospitais e que apoiam os doentes que aí se deslocam, fornecendo pequenas refeições, dando assim outro tipo de apoio, (um apoio) sem despesa, afinal voluntariado é voluntariado.
(São essas pessoas) que podem despender o seu tempo no apoio pontual a aspectos que possam surgir com doentes quando estão nos centros de oncologia, como em hospitais que tratem doentes com cancro.Temos (também) os transportes, os doentes levantam muitas vezes problemas aos transportes que agora se tem agravado e nós apoiamos nessa área.
Depois temos as próteses: as próteses mamárias, as próteses dos laringectomizados, dos ostomizados… Também há aqui uma grande colaboração da liga, (as próteses) são doadas quando as pessoas não têm meios para as adquirir, a liga adquire-as e entrega-as às pessoas que necessitam delas.
Existe também o apoio individual às famílias, que por qualquer motivo têm uma dificuldade financeira num determinado momento para fazer face a uma determinada despesa. A situação dessas pessoas é devidamente avaliada e devidamente comprovada, porque infelizmente há pessoas que pedem e não necessitam e, mais grave ainda, pessoas que necessitam e não pedem. Uma coisa que me preocupa muito é a pobreza envergonhada, nós tentamos detetar essa pobreza envergonhada para os podermos ajudar.
SS - Qual o melhor apelo para fazer aos portugueses para que contribuam este ano para o Peditório Nacional?
CO - A verba que a liga tem é apenas de 1 euro de cada português por ano, se passarmos a verba para 2 euros por ano, conseguimos duplicar todo o nosso esforço, nomeadamente no sentido da solidariedade social.
Conto com a solidariedade de todos os portugueses porque o cancro pode aparecer em qualquer de nós, em qualquer pessoa da nossa família, não escolhe estrato social nem idades, é mais frequente nas pessoas mais velhas, mas pode surgir em qualquer idade, e portanto, as pessoas no momento podem não ter dificuldades mas, de um momento para o outro, elas podem aparecer, inclusive dificuldades psicológicas, perante as quais a liga disponibiliza consultas de psico-oncologia onde atende gratuitamente todas as pessoas que se dirigem a essas consultas.
@Vânia Correia
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