Os estudos sobre o impacto da dieta na nossa saúde têm-se multiplicado, confirmando aquilo que sempre soubemos mas insistimos em ignorar: a nossa esperança e qualidade de vida está directamente associada aos alimentos que privilegiamos.

No livro «A Fórmula da Longevidade», Trisha MacNair, médica, aponta dados impressionantes como o facto de quem opta regularmente pelo fast food poder estar a subtrair quatro anos à sua esperança de vida e quem escolhe a famosa dieta mediterrânica consegue adicionar-lhe cinco anos.

A verdade é que é necessário que o nosso organismo seja muito resistente para não se ressentir das extravagâncias alimentares cometidas repetidamente e quando as doenças surgem a alimentação assume-se como um factor-chave para o seu controlo. Nestas páginas encontra alguns exemplos.

Hipertensão

A diminuição obrigatória da quantidade de sal no pão, medida aprovada este ano no Parlamento, pode contribuir para reduzir este problema, mas não é a única solução. Segundo Maria Paes de Vasconcelos, nutricionista, «a dieta na hipertensão exige uma redução do sal, presente em quase todos os alimentos processados, de fábrica ou de restaurante».

A especialista aconselha que se evitem alimentos tipicamente salgados: «Fumados, enchidos, peixes salgados, como o bacalhau, batatas fritas de pacote e os outros aperitivos com excesso de sal, incluindo frutos secos e tiras de milho. Os molhos de soja e inglês, caldos em cubo, queijos, manteiga, fiambre e salsichas também são muito ricos em sal».

Maria Paes de Vasconcelos sugere que se tenha atenção «às sopas em restaurantes e às refeições «apuradas» que, muitas vezes, apenas reflectem uma mão pesada para o sal e escondem a incapacidade de escolher os melhores temperos, ervas e especiarias».

Ponha em prática

Aumente o consumo de legumes e saladas, pois contêm boas doses de minerais, incluindo o potássio que ajuda a evitar a reacção do organismo ao sal. Substitua-o por ervas aromáticas.

Hipercolesterolomia

A única forma de combater os níveis elevados de colesterol é, alerta Maria Paes de Vasconcelos, «a restrição no total das gorduras. Podem ser utilizadas na culinária e nas pequenas refeições ao longo do dia, mas sempre em quantidades muito pequenas».

O tipo de lípidos que se consome é igualmente importante para travar o aparecimento do mau colesterol. «Idealmente, o azeite deve existir em mais de metade da gordura ingerida durante o dia», refere.

O segundo tipo de gorduras a introduzir serão os óleos vegetais mono e
polinsaturados (de amendoim e colza e de soja, milho e girassol). «As gorduras animais devem ser reduzidas ao máximo, preferindo-se as carnes mais limpas. Evite as carnes de ruminantes (no máximo duas vezes por semana), pois não só é mais difícil retirar a sua gordura como é mais rica em gordura saturadas do que a de aves e a carne de porco», aponta ainda a nutricionsita.

Ponha em prática

O consumo de peixe é essencial. De preferência, faça, no mínimo, duas refeições de peixe gordo por semana.

Diabetes

A incapacidade do organismo em transformar a glicose dos alimentos e o subsequente aumento dos níveis de açúcar no sangue obrigam os diabéticos a fortes restrições alimentares.

Como indica a nutricionista, «o doente deverá ter noção da quantidade de hidratos de carbono que ingere, do tipo de absorção que cada alimento tem, ou seja, se é rápida – pão branco, batata, açúcar – ou lenta – leguminosas, pão escuro, arroz e massa integral –, e do tipo de alimentos que se misturam. Por exemplo, no caso de querer comer um doce, a quantidade de hidratos de carbono nessa refeição deverá ser em quantidade mais reduzida, e acrescentar uma fonte de fibra que ajude a abrandar a absorção».

Ponha em prática

«A gordura abdominal altera o funcionamento do metabolismo dos açúcares. Se o estado da diabetes não for muito avançado, é possível regularizá-la apenas com perda de peso e dieta adequada. Não se pode descurar o exercício, já que o que se come deve ser proporcional ao que se gasta», diz a nutricionista.

Anemia

Provocada pela diminuição dos níveis de hemoglobina no organismo, embora não seja uma doença, mas sim um sintoma, é necessário descobrir a causa para escolher o tratamento.

De qualquer forma, a especialista aconselha a quem é afectado por este sintoma «a ingerir alimentos ricos em ferro na mesma refeição onde esteja uma boa fonte de vitamina C, já que esta aumenta a taxa de absorção deste nutriente».

«Provavelmente, é por essa razão que tradicionalmente se come uma peça de fruta no final da refeição, já que o consumo de carne e peixe ao longo dos milénios foi sempre baixo. As necessidades de ferro das mulheres em fase fértil são elevadas, por causa das perdas menstruais», esclarece.

Ponha em prática

O ferro que provém dos animais e peixes é melhor absorvido do que o ferro de origem vegetal.

Gota úrica

Provocada pela formação de cristais de ácido úrico que se depositam nas articulações, desenvolvendo uma inflamação que causa dores agudas, esta doença exige mudanças urgentes no estilo de vida e limita o consumo de alimentos responsáveis pelo aumento desta substância.

Para evitar as crises, é necessário, descreve a nutricionista, «ter um peso equilibrado, ingerir água com abundância, uma vez que o ácido úrico é excretado pela urina, reduzir ou cessar o consumo de álcool e diminuir o consumo total de proteína, que pode provir de carnes ou peixes, quer sejam novos ou velhos, pois a ideia de que as carnes jovens provocam mais crises de gota não está comprovada».

A reacção aos alimentos é «individual e, por isso, cada pessoa deve saber a que alimentos é sensível e em que doses os tolera para poder evitar a crise», recomenda.

Ponha em prática

Coma carne ou peixe apenas uma vez por dia, beba dois litros de água, evite o álcool e assegure-se de que tem um peso saudável.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Maria Paes de Vasconcelos (nutricionista)