Durante muito tempo, a pele foi considerada uma barreira impenetrável para a absorção de produtos aplicados topicamente. Hoje, já se sabe que a superfície da pele é levemente permeável, permitindo a absorção de alguns princípios activos, em maior ou menor grau consoante as suas propriedades físico-químicas. Por isso, durante a gravidez é necessário um cuidado especial.
Existe alguma dificuldade em definir o que pode ser usado sem prejuízo para a mulher ou para o bebé, já que, por precaução, «a maior parte dos activos cosméticos não são testados em grávidas ou mulheres a amamentar», explica a farmacêutica Joana Nobre, consultora científica da marca Lierac.
Já estão, contudo, identificados alguns ingredientes e procedimentos estéticos que apresentam indícios de risco, os quais devem, portanto, ser evitados. Leia sempre o rótulo da embalagem para ter a certeza de que os produtos que vai usar não incluem os ingredientes contra-indicados.
O cuidado deve ser ainda maior nos três primeiros meses de gravidez, fase mais importante na formação do bebé, e no período de amamentação, pois muitas substâncias migram para o leite materno. Em caso de dúvida, aconselhe-se com o seu médico assistente.
O que pode usar
São muitos os cosméticos que podem ser usados durante a gravidez, designadamente os que fazem parte das linhas especiais para grávidas.
Aqueles de que não pode prescindir:
Anti-estrias
Reforçam a hidratação e a elasticidade da pele, ajudando a prevenir a ruptura das suas fibras de sustentação, que dão origem às lesões cicatriciais a que chamamos estrias.
Protector solar
Deve usar diariamente uma fórmula com FPS elevado, pois ajuda na prevenção do cloasma gravídico (o chamado «pano»).
Produtos que favoreçam a circulação sanguínea e linfática
A farmacêutica Joana Nobre recomenda as fórmulas com extractos botânicos, para evitar a sensação de peso nas pernas.
O que não pode usar
Ingredientes alergizantes
Produtos com ingredientes potencialmente alergizantes ou aos
quais seja alérgica devem ser evitados. «Em caso de reacção alérgica, a terapêutica com
anti-histamínicos é comprovadamente nociva para o bebé», alerta Joana
Nobre.
Na dúvida, e como a gestação é um período de transformações
intensas, o ideal, antes de experimentar um produto novo, é aplicar um
pouco do produto na dobra interna do cotovelo e aguardar 24 horas para
observar a presença de algum tipo de manifestação de desconforto.
Adelgaçantes com cafeína
«Sabe-se que, quando ingerida acima de determinada dose, a cafeína pode ser abortiva. Por isso, nenhum produto com acção
anti-celulite contendo cafeína é testado em grávidas ou mães a
amamentar, não havendo, assim, garantia de que seja seguro», explica
Joana Nobre.
Despigmentantes (anti-manchas) com corticóides ou
hidroquinona
Um estudo realizado com mulheres em que essa prática era
comum denunciou uma alta taxa de baixo peso à nascença. Para além disso,
outros estudos associam a hidroquinona a um maior risco de cancro e de
problemas renais.
Fitocosméticos com óleos essenciais (excepto sob
aconselhamento médico)
De acordo com Joana Nobre, «estudos efectuados
em ratos em período de gestação com alguns óleos essenciais: alguns
provaram não ter efeitos negativos sobre o feto, outros provaram ser
abortivos por provocarem contracções uterinas».
Alfa-hidroxiácidos
(activos esfoliantes) em concentração relevante (acima de 1%) e retinol
(vitamina A) e pró-retinol (activos anti-rugas).
Descolorações,
alisamentos e permanentes do cabelo
São potencialmente
irritantes. As colorações, madeixas e nuances são, contudo, permitidas a
partir do segundo trimestre.
Laser
Procedimentos estéticos com laser,
incluindo depilação, radiofrequência e infravermelhos, bem como
injecções de Botox ou outro tipo de preenchimento devem ser também evitados.
Texto: Fernanda Soares com Joana Nobre (farmacêutica)
Comentários