Isto implica proporcionar um nível adequado de alívio e, principalmente, limitar as consequências catastróficas que a dor neuropática tem sobre o sistema nervoso central (SNC).
Atualmente, sabe-se que o sistema nervoso central sofre alterações de estrutura e de funcionamento que podem ser irreversíveis, na presença de uma dor neuropática não tratada e que são tanto mais graves quanto maior for a duração da dor.
Podemos afirmar que a dor intensa não tratada deixa cicatrizes no sistema nervoso central e que este reage aumentando a perceção da dor.
Está também a ser investigada a forte probabilidade de a dor severa, não tratada, de longa duração, poder estar implicada no desencadear ou no agravamento de doenças degenerativas como a doença de Parkinson ou várias formas de demência.
Como lidar com um doente com dor neuropática?
Atualmente com os fármacos disponíveis no mercado, e com o acesso facilitado a informação credível, o médico dos cuidados de saúde primários (Médico de Família), está perfeitamente capacitado para diagnosticar e tratar, em primeira linha, a dor neuropática.
Nesta situação, torna-se imperativo referenciar o doente para uma Unidade de Dor Crónica.
Mas este tipo de dor, como já vimos, tem um comportamento errático e imprevisível e o mesmo doente pode experimentar crises dolorosas que reagem de maneira diferente ao mesmo tratamento. Nesta situação, torna-se imperativo referenciar o doente para uma Unidade de Dor Crónica.
Isto é muito desencorajador para o médico e para o doente, tornando muitas vezes difícil a adesão do doente à terapêutica.
De uma forma geral, os cuidados de saúde primários podem referenciar os doentes para as consultas de especialidade dos hospitais de referência informaticamente, através de uma plataforma digital, o ALERT P1. O pedido de uma consulta na Unidade de Dor Crónica é feito dessa forma e dá acesso rápido e seguro do doente à consulta especializada.
Se a situação for realmente muito grave e se o doente estiver num grande sofrimento há sempre a hipótese do contacto telefónico com o médico especialista de modo a antecipar a observação e o tratamento do doente no menor espaço de tempo possível.
Para que este processo seja fluído e rápido tem de haver uma boa coordenação entre o médico dos cuidados de saúde primários e o médico da Unidade de Dor, o que só se consegue com a abertura de canais de comunicação entre o Centro de Saúde e o Hospital de referência, nomeadamente através de ações de formação e de divulgação do trabalho das Unidades de Dor e da forma de otimizar os parâmetros de referenciação.
Por isso é que se insiste no papel pedagógico das Unidades de Dor que têm de sair dos hospitais e investir na formação pós graduada dos técnicos de saúde que trabalham na linha da frente dos cuidados de saúde- os cuidados de saúde primários.
A grande maioria dos casos de dor neuropática pode e deve ser tratada pelo médico de família, ficando para as Unidades de Dor o tratamento dos casos mais complexos e que precisam de técnicas especiais só disponíveis em contexto hospitalar.
Por Maria Carlos Cativo, Médica Anestesiologista
Assistente sénior de Anestesiologia, com competência em Medicina da Dor, Pós- Graduação em Cuidados Paliativos
Coordenadora da Unidade de Dor Crónica e Coordenadora da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de entre Douro e Vouga
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