Apesar de Portugal ser um país solarengo e de os portugueses estarem habituados a temperaturas amenas, este ano, o frio chegou depressa demais e sem pedir autorização. Várias cidades do país estiveram em alerta amarelo ou vermelho. As temperaturas muito baixas podem voltar e para que os mais idosos estejam preparados para as enfrentar, apresentamos-lhe um guia de cuidados que atenuam o frio.
No tempo mais frio, as constipações e gripes são frequentes. A explicação é mais simples do que parece. “Este tempo é propício ao desenvolvimento e propagação dos germens seus causadores. A sua prevenção deve basear-se em medidas gerais, como evitar o contacto com indivíduos infectados e a presença em espaços fechados com muitas pessoas, bem como, no caso da gripe, a vacinação, que está formalmente indicada nos idosos, devendo ser administrada anualmente”, explica Manuel Teixeira Veríssimo, Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra (FMC) e Coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Faculdade de Medicina de Coimbra.
Importante também é a vacinação contra a pneumonia que deverá ser feita de 5 em 5 anos. As temperaturas frias estão habitualmente associadas ao agravamento de doenças, especialmente do foro respiratório e cardíaco. “Nas doenças cardíacas, o frio pode agravar os sintomas da angina de peito, aumentar um pouco a tensão arterial e o risco de o idoso ter um acidente cardiovascular.
No caso das doenças respiratórias, agrava a asma, o enfisema e a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), em geral, e favorece também o aparecimento de pneumonias. A hipotermia é outra das consequências possíveis”, acrescenta o especialista. As próprias quedas, ocorrência frequente entre os idosos, principalmente nos menos capazes fisicamente, são mais frequentes no tempo frio.
Frieiras para que vos quero?
Há que referir ainda as frieiras que têm diversos factores na sua origem, “que vão da predisposição genética até factores hormonais e circulatórios, sendo o frio e a humidade condições que contribuem para o seu aparecimento”. A prevenção é a melhor maneira de contrariar o problema, constando esta de alguns cuidados como manter o ambiente aquecido e usar adereços adequados como luvas, calçado quente e gorros de lã.
“Uma vez instaladas, as frieiras melhoram com calor moderado e massagem suave, sendo também útil o exercício físico que activa a circulação corporal e, consequentemente, aumenta a temperatura corporal. Na maior parte dos casos, as frieiras curam-se apenas com recurso à prevenção e à protecção das extremidades”, acrescenta Manuel Teixeira Veríssimo.
Em situações mais graves, “nomeadamente quando há ulceração, o doente deverá recorrer ao médico para fazer outro tipo de tratamento, nomeadamente com substâncias vasodilatadoras. Os cremes com cortisona estão contra-indicados, pois induzem a vasoconstrição secundária e, naturalmente, pioram a situação”.
Protecção do frio
Os idosos podem proteger-se do frio através de medidas muito práticas começando por saírem à rua apenas quando for extremamente necessário e usar roupas quentes e adequadas consoante estejam em casa ou no exterior.
“Devem também manter a casa aquecida através da calafetagem das portas e janelas para evitar a saída de calor e a entrada de frio, tendo, contudo, cuidado com meios de aquecimento que produzam monóxido de carbono como lareiras, braseiras ou aquecedores eléctricos; usar botijas de água quente, embora sempre com o cuidado de não fazer queimaduras da pele e beber bebidas quentes, como chá, leite ou sopa. Os seniores devem fazer movimentos com os dedos, os braços e as pernas para estimular a circulação”, defende o Prof. da FMC.
Para Silvia Oliveira, enfermeira responsável pela qualidade e gestão de risco do Hospital de Braga, o exercício físico, nomeadamente as caminhadas, deve ser levado em consideração pois “promove a socialização, evita o isolamento e aumenta a produção de calor”.
Que vestuário usar?
Os idosos devem usar várias peças de roupa em vez de uma única de tecido grosso, porque assim haverá melhor protecção ao frio. “As roupas deverão ser folgadas, estarem secas e de materiais que não façam transpirar, como o algodão e as fibras naturais.”
Quando for necessário sair de casa, para além de reforçar o agasalho, como por exemplo, uma capa, um xaile, uma samarra, etc., os idosos deverão levar ainda luvas, gorro ou outro tipo de protecção da cabeça, e, eventualmente, cachecol. “Não devem usar roupas justas porque dificultam a circulação sanguínea”, acrescenta a Enfermeira Silvia Oliveira, responsável pelo Departamento de qualidade e gestão de risco no Hospital de Braga. É também importante que o calçado seja quente, confortável e anti-derrapante para evitar quedas.
Os perigos que escondem as lareiras e os aquecimentos
Quando a temperatura desce significativamente, o que pode voltar a suceder nos próximos dias, é importante que se mantenha quente e seguro. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) alerta para quais os principais problemas relacionados com o frio e como actuar. As crianças e os idosos são grupos particularmente vulneráveis mas qualquer um pode ser afectado.
Segundo o INEM, “embora permanecer em casa o maior tempo possível ajude a reduzir o risco de acidente de automóvel e quedas, poderá também enfrentar riscos domésticos. “A exposição a baixas temperaturas, no interior e no exterior, podem causar riscos sérios ou letais para a saúde”, alerta este organismo.
Deve haver um cuidado extremo na utilização de lareiras em locais fechados, sem renovação de ar, “devendo nesse caso abrir-se um pouco a janela ou a porta para haver circulação de ar, pois de outro modo poderá haver aumento da concentração de monóxido de carbono, que é um gás letal causando, frequentemente, desenlaces fatais em idosos”, explica Manuel Teixeira Veríssimo.
Os mesmos cuidados devem ser tidos com as braseiras, fogareiros ou aquecedores eléctricos, que do mesmo modo consomem oxigénio e aumentam os níveis de monóxido de carbono. “Também deve haver cuidado para que não existam produtos de fácil combustão junto destas fontes de aquecimento, como por exemplo cortinados, que possam originar incêndios”, conclui.
Todos sabemos que os aquecimentos, as braseiras e as lareiras proporcionam uma sensação de conforto e bem-estar mas também são muitos os portugueses que cometem graves erros e que não se preocupam devidamente com a sua adequada utilização colocando em risco a sua segurança!
Cuidados a ter
Por Enfermeira Silvia Oliveira
Os aquecedores são muito utilizados no tempo frio. Mas escondem alguns perigos. Para evitá-los, siga as seguintes dicas:
- Não deve deixar os aquecedores ligados durante a noite ou quando as pessoas saem de casa;
- Não se recomenda que os coloquem junto a cortinas, toalhas ou mobiliário;
- Não deve deixar roupa a secar sobre os aquecedores.
As lareiras são também utilizadas e exigem igualmente cuidados:
- Ter uma protecção em frente à lareira ou recuperador, pois protege em caso de queda de alguém e evita que as faúlhas dêem origem a um incêndio,
- As intoxicações por monóxido de carbono são habituais, pois as pessoas eliminam todas as possíveis entradas de ar, que não deixam nada que faça alguma ventilação.
- Vedar portas e janelas mas com ponderação.
Perante as ondas de frio…
As pessoas devem ter em conta os noticiários da Meteorologia e as indicações da Protecção Civil transmitidas pelos órgãos de comunicação social, gerindo as actividades de acordo com as recomendações.
Em caso de dúvidas, relacionadas com a sua saúde, ligue para a Linha Saúde 24 – 80824 24 24.
Texto: Cláudia Pinto
A responsabilidade editorial e científica desta informação é do jornal
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