Os rins estão situados nos flancos ligeiramente abaixo da 11.ª costela e tem como função a filtração e eliminação de metabolítos do nosso corpo.

A litíase renal, vulgarmente conhecida por  “pedras nos rins”, é uma doença que se deve à formação de cálculos, no aparelho urinário. Estes cálculos formam-se devido a uma alteração bioquímica crónica do organismo que leva à formação de cristais e à sua aglomeração.

O cálculo renal pode permanecer silenciosamente no rim até ser descoberto incidentalmente. Por vezes este cálculo pode obstruir a passagem de urina e provocar dor.

Esta dor, que pode variar entre um ligeiro desconforto no flanco até uma dor violenta com irradiação para a virilha caracteriza-se por um aumento progressivo de intensidade associada a naúseas e vómitos e por vezes acompanhada do aumento da frequencia uriária e sangue na urina.

O diagnóstico é feito pela historia clínica e observação do doente, mas apenas com exames de imagem poderemos confirmar o diagnóstico e determinar a localização da obstrução e a sua dimensão. Um Rx simples e uma ecografia do aparelho urinário são exames de primeira linha podendo no entanto ser necessário uma TAC para melhor esclarecimento.

O tratamento da litíase renal é efectuado em três fases. Inicialmente é necessário o tratamento urgente para alívio da dor (a cólica renal). Nesta fase é iniciada a terapeutica analgésica e se não houverem complicações associadas esta terapeutica deverá ser mantida durante alguns dias associada à terapêutica médica expulsiva.

Posteriormente é efectuado o tratamento cirúrgico da litíase propriamente dita, com a fragmentação ou remoção do cálculo. Actualmente este tratamento pode ser não invasico, Litotricia Extracorporal por Ondas de Choque (LEOC) ou minimamente invasivo como o é o caso da cirurgia endocópica e percutânea. O tratamento cirúrgico da litíase por via aberta está reservado para situações muito pontoais e praticamente não é utilizado.

Todos os cálculos extraídos ou eliminados deverão ser analisados afim de se instituir dieta e terapêutica profilática adequada.

A última fase do tratamento consiste em evitar a formação de novos cálculos.

Como a formação dos cálculos urinários se deve a uma disfunção metabólica crónica, uma vez formado um primeiro cálculo, a pessoa estará sempre susceptível à formação de novos cálculos (mesmo que o primeiro seja removido).

Estima-se que cerca de 50% dos doentes não tratados, a quem foi diagnosticado um cálculo, irá desenvolver um novo cálculo nos próximos 5 a 10 anos. Daí a grande importância de medidas de prevenção e tratamento médico

A prevenção da formação de novos cálculos engloba medidas gerais recomendadas a todos os doentes com litíase.

Estas medidas consistem no aumento da ingestão de liquídos e alterações gerais na alimentação.

O tratamento medicamentoso está habitualmente reservado para os doentes a quem foi detetada uma alteração metabólica.

Medidas gerais para a prevenção da litíase urinária

Aumento da ingestão de líquidos

Os doentes devem beber cerca de 2 litros de líquidos por dia (3 litros em dias de maior calor) para tornar a urina menos concentrada e dificultar a formação de novos cálculos. Todavia, não é qualquer tipo de líquido que pode ser ingerido. Água, sumo de laranja, limão e maça são recomendados. Chá preto, café e refrigerantes à base de cola devem ser evitados. É a medida mais importante pois na ausência de qualquer outro tratamento pode diminuir a formação de litíase em cerca de 60 % dos doentes.

Alterações gerais na alimentação para prevenção da litíase

As recomendações que se seguem podem ser feitas pelo médico urologista a todos os doentes com litíase urinária sem necessidade de apoio de um nutricionista.

Deve ingerir leite e derivados (alimentos ricos em cálcio) em quantidades moderadas, geralmente duas vezes ao dia. No entanto, não se recomenda a restrição total de alimentos ricos em do cálcio na dieta. Exemplo: leite ao pequeno-almoço e um iogurte ou um pedaço de queijo com pão ao lanche.

Deve ingerir carnes (que deve ser magras) em quantidades moderadas, para reduzir a ingestão de proteínas.

Diminua a quantidade de sal na preparação dos alimentos e evite alimentos salgados como presunto, mortadela ou salsicha.

Prefira o pão integral e de centeio aos pães brancos fermentados.

Coma gordura moderadamente e substitua o açúcar por adoçante.

As leguminosas como feijão e lentilha, não devem ser consumidas mais do que uma vez por dia.

Recomenda-se ainda a ingestão regular dos seguintes alimentos devido ao alto teor de substâncias inibidoras da formação de todos os tipos de cálculo: arroz, batatas (excepto batata doce), clara de ovo, margarina, óleos vegetais, mel, frutas como abacaxi, uva, melancia, pêra e cereja.

Por outro lado, os alimentos indicados na tabela anexa devem ser evitados ou consumidos em quantidades moderadas por todos os doentes com litíase urinária.

Por Rui Pedro Borges, Médico Urologista no Hospital dos Lusíadas do Porto