Que desafios?
Muitos, diria até que são tantos desafios quanto a diversidade humana. O contexto laboral engloba os profissionais e as entidades empregadoras (coletivas ou individuais) e, dependendo do lado em que está, os desafios apresentam-se necessariamente diferentes.
Embora, hoje, possamos falar de um grande número de pessoas que passam por este processo com sucesso, a realidade é que é impossível que o diagnóstico não cause um impacto e uma desorganização enorme na vida do doente e, também, dos seus familiares.
Um impacto e uma desorganização em todos os sentidos - físico, emocional, psicológico, social, e, naturalmente, laboral. Assim, todos necessitam de tempo para se reorganizar.
Que estratégias utilizar?
Deve-se recorrer às estratégias que forem úteis para o doente e para a sua família, explorando todos os recursos disponiveis, sejam eles internos e externos - por exemplo: o recurso à resiliência, à capacidade de auto-proteção, à capacidade para lutar ou desvalorizar e o recurso à ajuda de outros.
Mas, uma nova realidade, como a de viver uma doença oncológica, exige a procura de novos recursos ou adequação dos que já temos. É muito importante que o doente oncológico o possa fazer de forma integrada, com suporte adequado e em segurança.
Neste sentido, o contexto laboral é uma das fontes de suporte seguro. É importante que o poder decisor esteja atento neste ponto. Independentemente da situação profissional da pessoa doente, é fundamental garantir que uma possível interrupção laboral ou a diminuição do rendimento de trabalho sejam acauteladas com justiça e compreensão da situação.
A (sobre)carga e a violência do processo traduz-se, naturalmente, numa possibilidade de redução ou, até mesmo, incapacidade de desenvolver a atividade profissional como até ali.
Continuar a trabalhar, com a flexibilidade que o processo dos tratamentos exige, pode ser para muitos um recurso para melhor gerir a sua própria doença. Interromper a atividade laboral pode ser, também, absolutamente necessário. Devo dizer que os doentes se confrontam com muitas realidades: desde a pressão psicológica para abandonarem o seu cargo até uma compreensão digna de uma sociedade ideal.
Voltar ao trabalho, será o confronto com todo o contexto onde são várias as perguntas que os doentes oncológicos colocam: “Como vou ser olhado? Como vou ser recebido?E como vou conseguir desenvolver as minhas tarefas da mesma forma? Será que vou conseguir ser a mesma pessoa e o mesmo profissional?”.
Tal como o doente vai aprendendo a lidar consigo e com os outros nesta nova realidade (por exemplo, aprendendo a ser assertivo, dizendo o que necessita e o que não quer), é muito importante que todos os envolvidos possam desenvolver estratégias para lidar com quem regressa, de forma a que a comunicação se faça com base nos princípios do respeito e da dignidade de cada um.
Quando procurar ajuda profissional?
Naturalmente, quando a carga emocional e a desorganização se instala de forma intolerável e o doente e/ou a família/cuidador sentem que a gestão das emoções e dos pensamentos está a ser difícil, é muito importante que possam recorrer à ajuda de um profissional.
O processo de adaptação pode ser, desta forma, partilhado e orientado de forma a que se torne mais tranquilo e adequado.
Num processo de doença, o tempo de reorganização, a segurança, o respeito e a dignidade são absolutamente necessários para a reintegração no contexto laboral.
Será que temos que lutar por uma sociedade diferente? Mais compassiva, mais unida, mais humana? Claro! Não só em palavras, mas também em ações, com iniciativas concretizadas.
Para terminar, deixo uma mensagem de esperança: continuo a acreditar no sucesso dos Planos, como o Plano Europeu na Luta contra o Cancro.
Um artigo de Maria João Santos, psicóloga clínica na CUF Oncologia - Hospital CUF Descobertas.
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