Com o Verão e o aumento progressivo do calor, as praias tornam-se destinos irresistíveis.

Mas a chegada da época balnear significa também o regresso dos perigos causados pela exposição excessiva e desregrada ao sol.

Uma situação que pode vir a ter consequências graves a longo prazo, sendo o cancro da pele uma das suas piores consequências.

Na verdade, ao longo das últimas décadas, tem-se assistido a um aumento da frequência deste tipo de cancro. De acordo com Osvaldo Correia, dermatologista
e secretário-geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), «cerca de 90 por cento dos cancros da pele relacionam-se com exposição exagerada ou
inadequada ao sol, sobretudo em crianças, adolescentes e adultos jovens».

«Ao longo deste ano, estima-se que surjam pelo menos 100 000 novos casos de cancro da pele, dos quais 800 serão melanoma», revela. Outros dados da APCC dão
conta que um em cada três cancros diagnosticados em Portugal é cancro da pele e que uma em cada seis pessoas de raça branca desenvolverá este tipo de patologia ao longo da sua vida.

Seguindo os conselhos que se seguem, evite fazer parte desta estatística. Para saber qual é o seu perfil solar, clique aqui. Se vai para a praia, veja também as regras para uma exposição solar segura.

Inimigos da pele

O sol apresenta uma grande gama de radiações, com benefícios para o nosso bem-estar, mas, em excesso, pode prejudicar gravemente a saúde da pele. A radiação ultravioleta B permite que a pele produza vitamina D, o que é positivo, nomeadamente durante a fase de crescimento.

Contudo, as radiações ultravioletas B e A também têm efeitos negativos, provocando queimaduras, reacções fototóxicas, envelhecimento e cancro da pele.
A verdade é que não é apenas na praia que estamos expostas ao sol.

O problema surge também «nas horas de lazer, nas caminhadas à beira-mar ou em parques», como refere o dermatologista, ou mesmo se tiver uma profissão que a obriga a passar muito tempo na rua.

Deve prestar ainda particular atenção quando «pratica desporto ou passa um dia na piscina ou na montanha», refere Osvaldo Correia.

O sol não é, contudo, o único inimigo da pele. O cada vez mais frequente recurso aos solários, especialmente por mulheres entre os 16 e os 30 anos, também não é uma boa notícia para quem se preocupa com a saúde da pele.

De acordo com o dermatologista, «os frequentadores de solários têm um envelhecimento precoce da pele e um significativo aumento do risco precoce de cancro cutâneo».


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Melanoma: o mais perigoso!

Sinais de alerta

Sabia que, na grande maioria dos casos, o cancro da pele é, provavelmente, dos problemas oncológicos mais fáceis de detectar? Sendo a pele um órgão muito acessível à observação directa, torna-se fácil encontrar uma lesão suspeita
na sua fase inicial.

Assim sendo, basta estar atenta à sua pele e, no momento em que notar alguma modificação, procurar um dermatologista.

Entre as situações que podem levantar suspeitas, estão «manchas, saliências ou nódulos rosados recentes» que se podem tornar numa «ferida que não cicatriza», alerta o dermatologista.

Esteja também atenta a «escamas que surgem, caem e que voltam a aparecer no
mesmo sítio», normalmente em pele que costuma estar exposta ao sol, «como, por exemplo, a da face», acrescenta.

Embora a esmagadora maioria dos sinais da pele, quer de nascença quer adquiridos, seja inofensiva, devem ainda merecer especial atenção as modificações num sinal antigo, nomeadamente de cor castanha, sempre que apresentem «crescimento, sejam assimétricos, tenham diâmetro superior a cinco milímetros», como descreve Osvaldo Correia, ou tenham registado uma mudança na sua espessura ou cor.

Existem três tipos de cancro da pele, sendo o melanoma «o menos frequente, mas o mais grave de todos», alerta Osvaldo Correia.

Origina-se a partir da transformação maligna das células responsáveis pelo fabrico do pigmento natural (melanina) que dá a cor bronzeada à pele.

O melanoma maligno, que normalmente atinge grupos etários mais jovens, parece estar associado à exposição solar intermitente, aguda e intempestiva, muitas
vezes acompanhada de queimaduras solares – os vulgares escaldões.

Este tipo de cancro pode surgir numa pele aparentemente sã, em qualquer parte do corpo ou em sinais preexistentes.

Entre os factores que estão associados a uma maior probabilidade de se vir a desenvolver este tipo de cancro encontra-se o facto de se ter pele clara, cabelo ruivo ou loiro, olhos azuis ou esverdeados, dificuldade em bronzear, antecedentes de queimadura solar e de melanoma em familiares, tendência para formar sardas e a existência de sinais de cor castanha escura disseminados
pelo corpo.

Neste caso, «o tratamento é quase sempre cirúrgico», refere o responsável da
APCC e, se «diagnosticado e tratado precocemente», acaba por ter elevadas taxas de cura.

Outros tipos

Entre os cancros da pele mais comuns contam-se o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. O primeiro é o tipo de cancro cutâneo «mais frequente e possui uma malignidade local, invadindo por extensão local», refere Osvaldo Correia.

Este tipo de cancro, que atinge sobretudo os indivíduos de pele clara que estão expostos cronicamente ao sol, pode ser curado recorrendo-se «à cirurgia clássica, à criocirurgia, a laser CO2, à radioterapia e, mais recentemente, à terapêutica fotodinâmica».

O cancro espinocelular é o segundo tipo mais frequente e aparece quase sempre em lesões já existentes. Habitualmente, atinge quem gosta de estar longas horas exposto ao sol, sendo uma espécie de cancro bastante agressiva.

Entre as áreas do corpo mais vulneráveis a este tipo de cancro, contam-se a face, o pescoço e o dorso das mãos e pernas. A boa notícia é que quando detectados precocemente, a esmagadora maioria dos cancros cutâneos é curável. Por isso, siga os conselhos dos especialistas e faça um auto-exame da pele a cada três meses.

Texto: Claudia Marina com Osvaldo Correia (dermatologista)