As hormonas têm um papel decisivo na nossa saúde e no nosso estado de espírito.

Produzida no hipotalamo e segregada na corrente sanguinea pela glandula pituitaria posterior, a oxitocina, por exemplo, é apelidada de hormona do afeto.

«É secretada quando a ligacao entre as pessoas e importante», conta o psiquiatra Ricardo Gusmão.

Este especialista considera-a mesmo «a hormona da vinculação». Alem de ser uma substancia fundamental para a sobrevivencia da especie, «a felicidade mantida ao longo do tempo tem a ver com secrecoes pontuais de oxitocina», refere ainda este profissional.

Esta hormona estimula a contração do útero durante o parto e a lactação e tem um papel importante na excitação sexual, no reconhecimento, na confiança e na ligação entre mãe e filho. Também é secretada «durante o clímax sexual, quando as pessoas se abraçam, tocam, durante uma massagem e, pensa-se, também durante a psicoterapia». Em suma, «em toda a gama de comportamentos que estabelecem relação entre as pessoas», refere Ricardo Gusmão. Baixos níveis desta hormona têm sido relacionados com o autismo e com sintomas depressivos.

Estimule a oxitocina

Veja o que deve fazer para a potenciar:

- Faça atividades que lhe dão prazer. «O mecanismo de libertação de oxitocina está presente sempre que estamos em situações gratificantes», diz Ricardo Gusmão. Por exemplo, ao fazer exercício moderado, namorar ou passear.

- Conviva mais. A componente social é importante já que «a libertação tem sempre a ver com a vinculação, a ligação a terceiros e a felicidade», explica.

- Deixe-se envolver. Tocar ou ser tocada pode fazer disparar a secreção de oxitocina. Seja ao abraçar um amigo, ao fazer festas ao seu animal de estimação, ao aninhar-se ao lado da pessoa que ama, a fazer uma massagem ou envolvendo-se sexualmente.

- Privilegie as memórias positivas. Pensar num momento ou gesto agradável pode aumentar momentaneamente a segregação de oxitocina.

Cortisol

O cortisol, também chamado de glucocorticoide, é uma hormona esteroide secretada pela glandula suprarrenal, cuja função mais importante é o controlo da resposta ao stresse. «Em geral, a sua secreção é maior a meio do dia do que de manha ou a noite mas, quando ha stresse, para ajudar o organismo a responder a pressão, os seus níveis aumentam», explica Ricardo Gusmão, psiquiatra.

Produção insuficiente

A produção insuficiente desta hormona está na origem da doença de Addison, denunciada por fadiga, tonturas, perda de peso e falta de apetite, pressão arterial baixa, dores musculares ou nas articulações, alterações de humor e hiperpigmentação de algumas zonas da pele. O tratamento envolve a toma de hormonas que mimetizam os efeitos das produzidas pelo organismo.

Produção excessiva

O stresse aumenta os níveis de cortisol que, por seu turno, alimentam os sintomas do stresse.
Trata-se de «uma resposta preventiva do sistema, que passa a segregar sempre uma dose elevada de cortisol». Pode dar-se uma reação de exaustão.

«O nervo vago, uma porção do sistema nervoso autónomo, pode ser estimulado a enviar sinais para o coração, tubo digestivo, sistema urogenital. Tal pode originar sintomas como cólicas, alterações das fezes e do batimento cardíaco e mal-estar», explica o especialista.

Níveis elevados de cortisol de forma prolongada podem favorecer a falta de desejo sexual e de períodos menstruais irregulares, pouco frequentes ou inexistentes. É causa da síndrome de cushing, uma doença endócrina rara com sintomas como aumento rápido de peso, sobretudo na face, peito e abdómen, bem como de situações de rosto corado e arredondado, hipertensão, fraqueza muscular, alterações de humor, sede e frequência urinária.

Como nivelar os níveis de cortisol

- Relaxe. «Fazer exercício físico, fazer amor e ir de férias de vez em quando» é essencial, indica Ricardo Gusmão. Rir e meditar são outras estratégias úteis.

- Estimule a produção de oxitocina. «O efeito do cortisol é contrariado pela oxitocina. Enquanto um prepara o corpo para a luta, para fazer face às dificuldades, o outro distende-o e prepara-o, basicamente, para o lazer», justifica o psiquiatra.

Neurotrofina

Tambem chamada BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Factor) e secretada no hipotalamo (ao nível do sistema limbico), a neurotrofina é a hormona antidepressao. É um adubo dos neurónios e das ligações interneuronais.

«A sua função é despertar o crescimento neuronal e a ligação entre as células neuronais (sinapses)», refere Ricardo Gusmão, psiquiatra. «É considerada um marcador da saúde mental porque, se existir em quantidade, não há risco de depressão», acrescenta ainda.

«Se for escassa ou pouco ativa, o estado depressivo é muito provável e, em muitos casos, a depleção crónica desta hormona explica a depressão crónica», refere o especialista. «Quando a depressão é tratada por via da psicoterapia ou de medicação, a sua secreção aumenta e as pontas das células neuronais voltam a crescer», conclui.

Texto: Nelma Viana, Rita Miguel e Vanda Oliveira com João Jácome de Castro (médico endocrinologista e secretrário-geral da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia), Luís Romariz (médico especialista em medicina antiaging), Ricardo Gusmão (psiquiatra), Mário Sousa (médico ginecologista), Teresa Branco (fisiologista na gestão do peso) e Teresa Paiva (neurologista)