Está provado cientificamente que viver na companhia de um animal de estimação é benéfico para a saúde mental e física. É, por exemplo, um fator positivo no controlo da pressão arterial e reduz a ansiedade. Um companheiro de quatro patas «acaba, também, por ser um substituto daquilo que a sociedade não nos dá», realça a veterinária Célia Palma, autora do livro «Quando os Animais Vão ao Médico», publicado pela editora A Esfera dos Livros.
«Hoje vivemos mais isolados, principalmente nas grandes cidades, as famílias são mais pequenas, há mais casais separados. Por isso, um animal de estimação é sinónimo de benefícios psicológicos, pois não só fazem companhia como obrigam a sair de casa, a fazer exercício», refere.
A melhor forma de retribuir aquilo que nos dão é, antes de mais, cuidar da sua saúde. E há benefícios para todos, porque algumas das suas doenças podem ser transmitidas ao ser humano (zoonoses). Assim, ao cuidar deles está também a cuidar de si. Veja, de seguida, os cuidados que deve ter com os cães:
- Vacinação
O plano de vacinação começa entre as seis e as oito semanas de vida e previne doenças como esgana, hepatite, parvovirose, tosse de canil e leptospirose, esta última uma zoonose. No leque de doenças que o cão pode transmitir ao homem, destaca-se a raiva que, embora raríssima, é a mais perigosa e a única cuja vacinação é obrigatória por lei. O contágio acontece através da saliva, na sequência de uma dentada.
A vacina é a melhor forma de prevenção e deve ser tomada pelo animal a partir dos três meses. A infeção por leptospirose, transmitida ao ser humano por contacto com a urina do animal, também pode ser prevenida através da vacinação que faz parte do plano de rotina do animal. A primeira toma é feita a partir da oitava semana, sendo reforçada três a cinco semanas depois.
Em zonas endémicas, deve ser reforçada a cada seis meses. Para prevenir a leishmaniose, uma doença de transmissão indireta ao ser humano (o cão é alvo e atrai o mosquito que transmite a doença), o animal deve usar coleiras específicas para o efeito e ser vacinado (a partir dos seis meses).
- Desparasitação
A transmissão de lombrigas e ténias aos humanos não é muito habitual, mas pode acontecer. O contacto físico com o animal é o meio de transmissor por excelência e a desparasitação o modo preventivo. Em forma de comprimido ou pasta, no caso de desparasitação interna (para eliminar parasitas intestinais), deve fazer-se duas a três semanas após o nascimento.
Depois, mensalmente até aos seis meses, e a partir daí, de três em três ou de quatro em quatro meses. Existem também desparasitantes externos (contra pulgas e carraças) em formulação pipeta, spray ou comprimido que têm de ser aplicados mensalmente.
- Higiene dos materiais
Por contacto com o cão, o ser humano pode ser contaminado com sarna sarcóptica, cujo sintoma que mais se destaca é o aparecimento de borbulhas. Esta doença, mais comum em canis, pode ser evitada através da higienização e arejamento dos locais onde o cão costuma estar. Como rotina, as camas de plástico devem ser limpas com água e vinagre, sendo de evitar a lixívia. As de tecido devem ir à máquina, de preferência a 60º C para matar parasitas.
O material ideal para as tijelas da água e comida é o vidro, porcelana ou alumínio. O plástico favorece alergias. A limpeza deve ser feita com água e detergente, com esponjas exclusivas para esse efeito. A tijela da comida deve ser lavada sempre depois de o animal comer; a da água deve ser lavada e mudada duas vezes por dia.
- A higiene do cão
O banho é dispensável. Mais importante é a escovagem diária, pois o cão produz uma substância natural na pele que funciona como uma limpeza a seco, com ação desinfetante e desodorizante, e ao escovar espalha-se no pelo. Apenas se recomenda o banho quando o animal está muito sujo e não consegue eliminar a sujidade por si. Nesse caso, deve usar-se só champô para cão ou sabonete neutro, de glicerina ou sabão azul e branco.
Se se fizer muita questão no banho, não se deve dar mais de um por mês. Quanto à secagem, deve-se utilizar uma toalha quente ou o secador. Recomenda-se também a escovagem dos dentes, que deve ser feita logo em cachorro, diariamente. Ainda que existam pastas próprias, o que realmente interessa é a fricção, preferencialmente feita com uma escova macia.
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Os cuidados a ter com os gatos:
- Vacinação
Nos gatos de apartamento, a vacinação incide sobre dois vírus da coriza (uma espécie de gripe felina), a panleucopénia e a clamídia. A primeira vacinação deve acontecer aos dois meses, a revacinação um mês depois, e posteriormente deve ser realizado um reforço anual. Se o gato for regularmente à rua, deve também ser vacinado contra a leucemia que nesta espécie é viral.
A raiva também pode afetar os gatos, embora seja raríssimo. Se acontecer, pode transmitir-se através da saliva do gato, na sequência de uma dentada, ao ser humano. A vacina não é obrigatória, mas recomendada.
- Desparasitação
A primeira é feita entre a segunda e a terceira semana de vida, depois mensalmente, até aos seis meses. A partir daí, deve ser feita de três em três ou quatro em quatro meses. Caso existam vários animais na mesma casa, deve fazer-se uma desparasitação simultânea.
- Higiene do material
A higienização e o arejamento dos locais onde o gato costuma estar é a melhor forma de prevenção de doenças, como a tinha e a sarna. Os gatos contaminados com fungos dermatófitos (a chamada tinha) podem transmiti-los ao ser humano, sem que haja sintomas prévios no animal. No homem, a doença denuncia-se pelo aparecimento de borbulhas vermelhas que provocam comichão. Implica tratamento, ainda que não seja uma doença grave.
Nestes casos, as mantas e materiais onde o gato permanece mais tempo devem ser eliminados. Já a sarna, causada por ácaros na pele, é rara em ambiente doméstico, podendo acontecer, por exemplo, caso o animal esteja contaminado aquando da adopção (esta é uma doença mais frequente em gatis).
Assim, como rotina, o local onde o gato dorme deve ser lavado com água e vinagre (camas de plástico) e/ou na máquinaa 60º C (cama de tecido). A limpeza do material para comer, idealmente em vidro, porcelana ou alumínio, deve ser feita com água e detergente.
A higiene do gato
Não é necessário dar banho, ainda que os gatos possam tomar um a dois por ano, sempre com champô próprio ou sabonete neutro, de glicerina ou sabão azul e branco. O essencial é a escovagem diária para evitar que o animal, quando faz o grooming (lavar-se a si mesmo), não ingira muitas bolas de pelo. Recomenda-se a escovagem dos dentes, diariamente, com uma dedeira de borracha.
O risco de toxoplasmose
É uma doença perigosa em mulheres grávidas porque passa para o feto. É causada por um parasita, o toxoplasma, que infeta os gatos e os seus dejetos. A mulher pode infetar-se ao mexer nos recipientes onde os gatos defecam. Comer carne mal cozida ou vegetais mal lavados também pode provocá-la. Deve lavar-se bem as mãos depois de mexer no animal.
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Cuidados a ter em conta com outros animais de estimação:
- Pássaros
Podem transmitir bactérias e vírus, por via de secreções respiratórias e digestivas, que quando afetam o ser humano revelam semelhanças com pneumonia, sinusite e problemas digestivos. Para evitar esta situação, deve levar-se a ave ao veterinário logo após a sua aquisição.
- Coelhos e chinchilas
Podem transmitir fungos e sarna ao ser humano. Para o prevenir, deve-se estar atento a eventuais lesões do animal e evitar o contacto com essas zonas. Os coelhos devem ser vacinados contra a doença vírica hemorrágica e a mixomatose, ainda que não sejam transmitidas ao homem.
Deve-se desparasitar logo após a compra. Depois só se justifica quando existem infeções. De seis em seis meses, devem ser vistos pelo veterinário, para avaliar o crescimento dentário e estado de saúde.
- Répteis
As salmonelas fazem parte da flora comensal dos répteis, são impossíveis de erradicar. É necessário lavar sempre as mãos depois de estar em contacto com o animal. Nem todos os parasitas provocam doenças. Recomenda-se a desparasitação quando são adquiridos. Em espécies como as tartarugas terrestres, gecos ou dragões barbudos, é necessária maior atenção aos parasitas intestinais.
Texto: Carlos Eugénio Augusto com Célia Palma (médica veterinária) e Rui Patrício (médico veterinário)
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