O papel da Fisioterapia
A explicação da fisioterapeuta Mariana Mateus.
A Fisioterapia constitui uma das abordagens não-farmacológicas envolvidas na reabilitação do Acidente Vascular Cerebral.
Esta área tem um especial enfoque na reabilitação das alterações motoras e sensoriais, na reeducação do equilíbrio, da marcha, promoção de mobilidade, treino de atividades funcionais (ex: mobilidade na cama), com o objetivo global de promover a funcionalidade, a independência e melhorar qualidade de vida da pessoa.
Normalmente o processo de reabilitação inicia-se com uma avaliação que permite conhecer a pessoa e a sua família, a sua história clínica atual e anterior, avaliar objetivamente as alterações presentes e definir em conjunto os objetivos e o plano de intervenção.
A reabilitação nestes casos é individualizada e depende de cada caso, tendo em conta o local e extensão da lesão, as características e necessidades individuais de cada pessoa. É um processo intensivo e de longa duração, que engloba estratégias de reeducação e compensação, a fim de reduzir o impacto das alterações presentes.
A Fisioterapia tem também um papel importante no apoio aos familiares/cuidadores, através do ensino e treino de estratégias facilitadoras para as atividades de vida diária, adaptações no domicílio, prevenção de complicações decorrentes da diminuição de mobilidade e na prevenção e redução do risco de quedas.
O papel da Neuropsicologia
A explicação da neuropsicóloga Margarida Rebolo.
A maioria dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) resultam em algum tipo de alteração cognitiva. Se falarmos de um AVC no hemisfério cerebral dominante para a linguagem – hemisfério esquerdo – podem ocorrer, por exemplo, alterações ao nível da linguagem, da programação de movimentos e da memória verbal. No caso de um AVC no hemisfério não dominante – hemisfério direito – podem ocorrer alterações ao nível do reconhecimento de caras e da perceção visuo-espacial.
O neuropsicólogo tem um papel fundamental na reabilitação da função cognitiva, mas também na normalização da dimensão emocional e comportamental pós-AVC.
Quando se dá um evento agudo como um AVC, considera-se que existe potencial para restituir a função afetada graças aos mecanismos de plasticidade que permitem que o cérebro se regenere. Neste caso, a intervenção é muito mais dirigida para o treino da função (ex: treino de memória) com o objetivo de aproximá-la o mais possível do seu estado anterior à lesão.
Existe muitas vezes a crença de que a reabilitação cognitiva se resume à realização de tarefas computorizadas. De facto, as tarefas computorizadas, com o acompanhamento presencial do neuropsicólogo, podem ser úteis, por exemplo, na reabilitação da capacidade atencional. No entanto, esta técnica apenas deve ser complementar à restante intervenção e nunca assumir um papel preponderante.
Nos casos em que não é possível restituir a função, o neuropsicólogo pode sugerir estratégias compensatórias (por exemplo uma agenda ou sistema de post-its como auxiliares de memória) e realizar o ensino da sua utilização para garantir que a pessoa adere e se adapta com sucesso.
Finalmente, é de referir que o neuropsicólogo tem um papel importante no acompanhamento emocional e logístico das famílias durante o processo de recuperação da pessoa que sofreu um AVC. As limitações motoras ou cognitivas podem implicar mudanças importantes na vida familiar e muitas vezes requerem uma orientação de um profissional que saiba trabalhar os processos psicológicos inerentes.
O papel da Terapia da Fala
A explicação da terapeuta da fala Inês Tello Rodrigues.
Muita da intervenção de um terapeuta da dala, na população adulta destina-se a pessoas que sofreram uma lesão cerebral, como por exemplo, após um AVC.
Diversos estudos comportamentais e de neuroimagem têm confirmado que a terapia da fala é um fator positivo, eficaz e de grande influência na recuperação pós-AVC, tanto nos casos de alterações da comunicação (fala), como da deglutição.
Como se processa a intervenção do Terapeuta da Fala em pessoas que sofreram um AVC?
- Em primeiro lugar, é feita uma recolha e análise da informação clínica e biográfica da pessoa, cujos dados são fundamentais para delinear a avaliação e definir o prognóstico.
- Seguidamente, é realizada uma avaliação detalhada das dificuldades que a pessoa apresenta, tanto ao nível da comunicação global, como da linguagem, articulação verbal e da deglutição.
- O plano de intervenção é individualizado e construído, tanto com base nas dificuldades identificadas na avaliação, como também, na discussão dos objetivos e expectativas da própria pessoa.
- A frequência das sessões é delineada de acordo com as necessidades e possibilidades da pessoa e da família. A intervenção do terapeuta da fala pode ser direta ou indireta.
- Considera-se uma intervenção direta toda a intervenção que é feita pessoalmente com a pessoa, geralmente em contexto de gabinete, mas também em contextos funcionais, ou seja, na própria comunidade (ex. supermercado, farmácia, banco...). As sessões individuais são estruturadas de acordo com os objetivos anteriormente traçados e podem incluir diversas técnicas e exercícios. Os objetivos poderão passar por maximizar a comunicação verbal e não-verbal, reduzir as dificuldades linguísticas (orais e escritas) e ainda reabilitar o processo de deglutição, realizando as modificações de dieta necessárias, em termos de consistência dos alimentos e fornecendo estratégias para uma deglutição segura e eficaz. Em alguns casos, poderão ser realizadas sessões de grupo, cujos objetivos passam pela promoção das competências comunicativas e um aumento da funcionalidade das interações e da participação social.
- A intervenção indireta centra-se no suporte, ensino e treino de estratégias facilitadoras da comunicação/deglutição e é feita sobretudo aos familiares e cuidadores mas também à sociedade em geral.
Um artigo das especialistas da NeuroSer, centro de diagnóstico e terapias dedicado às doenças neurológicas (http://neuroser.pt)
Comentários