Em 2012, Nir Krakauer, professor assistente de engenharia civil do Grove School of Engineering da The City College of New York nos Estados Unidos da América, juntamente com o pai, Jesse Krakauer, médico endocrinologista, desenvolveram um novo método para quantificar o risco associado à obesidade abdominal.

Nascia, assim, um novo índice medidor de peso, o A Body Shape Index (ABSI).

Num estudo publicado este ano, o jornal científico online PloS ONE considerou este novo índice como sendo mais fiável a prever o risco de mortalidade em pessoas obesas do que o Índice de Massa Corporal (IMC), o mais usado como medida de diagnóstico da obesidade. Mas afinal, o que mede este novo índice e para que serve?

Principais vantagens

O ABSI «estima, para além da massa corporal, a massa gorda abdominal, nomeadamente a massa gorda visceral», que é aquela que «envolve os órgãos que estão alojados na cavidade abdominal, particularmente o fígado», explica a fisiologista na gestão de peso Teresa Branco. Para obtermos o resultado do ABSI, o índice tem em conta «o peso, o perímetro abdominal e a altura do indivíduo, tornando-se, deste modo, um instrumento mais completo de medição de risco», acrescenta o médico cardiologista Manuel Carrageta.

Apesar de tanto com o IMC como com a medição do perímetro abdominal se obtenham bons resultados, a verdade é que «em muitos doentes, estes instrumentos de avaliação do risco cardiovascular não asseguram resultados confiáveis», uma vez que «muitos indivíduos, apesar de terem um índice de massa corporal elevado, como é o caso de alguns atletas mais musculados, não têm excesso de gordura», adianta o cardiologista. Esta é uma lacuna que o ABSI vem tentar colmatar.

Como calcular

Tal como o IMC, também o ABSI pode ser calculado sem que para tal seja necessário equipamento específico, como é o caso do cálculo da percentagem do peso correspondente à massa gorda e massa magra. Para saber qual o seu ABSI, tem apenas de ter em conta o valor do seu peso, da sua altura e do seu perímetro abdominal e inserir estes dados na calculadora online. O resultado que obtiver é analisado mediante uma escala, na qual o número um significa o risco médio de mortalidade para a sua idade. Abaixo de um, corresponde a um risco baixo e, acima de um, um risco elevado.

Os outros índices

Índice de massa corporal, perímetro abdominal e percentagem de massa gorda e massa magra são as principais ferramentas a que os especialistas recorrem para fazerem a análise da composição corporal. A nova fórmula traz vantagens (e desvantagens) em relação às existentes.

Índice de Massa Corporal

O Índice de Massa Corporal (IMC) tem sido muito utilizado como medida de diagnóstico da obesidade, classificando o peso corporal de uma pessoa, em relação à sua altura, em baixo, normal, excesso de peso ou três níveis de obesidade. «Dá-nos uma informação muito redutora, uma vez que não distingue um obeso de um culturista, embora o peso de um se deva a excesso de massa gorda e o do outro à massa magra», refere Teresa Branco.

O cardiologista Manuel Carrageta corrobora, apontando que a mais-valia do ABSI em relação ao IMC se deve a um terceiro parâmetro introduzido (o perímetro abdominal ), o que, no seu entender, «torna a avaliação mais completa», como a descreve.

Perímetro abdominal

Obtido através de uma fita métrica à volta do abdómen, o perímetro abdominal avalia a quantidade de gordura alojada na região do abdómen, dividindo as pessoas em duas categorias: Maçãs (cuja distribuição da massa gorda de tipo andróide se encontra, maioritariamente, na zona intra-abdominal, à volta do estômago e do tórax) e peras (em que a distribuição da massa gorda, de tipo ginóide, corresponde ao padrão feminino e localiza-se maioritariamente nas ancas, coxas e nádegas).

Apesar de parecer redutora, esta avaliação tem «o grande interesse de, indiretamente, medir a gordura visceral, responsável pela produção de substâncias tóxicas para o coração e para o pâncreas», refere o cardiologista Manuel Carrageta, adiantando que conhecer o valor deste tipo de gordura é importante, pois ela é responsável pelo «aumento do risco de enfarte do miocárdio, AVC e de diabetes». Contudo, Teresa Branco aponta o ABSI como um indicador mais vantajoso do que o da medição do perímetro abdominal, uma vez que o primeiro apresenta mais informações em termos de massa gorda corporal do que este último.

Massa gorda versus massa magra

O cálculo da percentagem do peso correspondente à massa gorda e à massa magra é fundamental para uma correta avaliação da composição corporal. A primeira é constituída pelo tecido adiposo que se situa no tecido celular subcutâneo ou internamente entre os órgãos, sobretudo no abdómen. A massa magra consiste no conjunto de todas as massas não-gordas presentes no organismo, como os músculos, os ossos e os órgãos. Na opinião dos especialistas o grande senão é a dificuldade em fazer esta avaliação.

«Enquanto o ABSI se obtém facilmente com uma balança e uma fita métrica, este cálculo requer o recurso a equipamentos e técnicas mais sofisticados», refere o cardiologista. Teresa Branco realça ainda que «é necessário utilizar as fórmulas adequadas o que nem sempre acontece. Além disso, a medição correta pode tornar-se um processo muito demorado, não permitindo avaliar muitas pessoas de cada vez. Em todo o caso, quando se pretende fazer uma avaliação individual e se utiliza a fórmula correta, o resultado é mais preciso do que o ABSI».

O indicador ideal

Afinal, qual a melhor forma de avaliarmos o peso que temos? Manuel Carrageta, médico cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia defende que «o medidor que tem mais aceitação pelos clínicos é o do perímetro abdominal, embora ainda não esteja enraizado na prática clínica diária da maior parte dos médicos do nosso país. Algum tempo e mais estudos poderão permitir que o ABSI possa, um dia, vir a substituir o IMC e a medição do perímetro abdominal».

No entanto, Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso e diretora do Instituto Prof. Teresa Branco, afirma que «cada vez nos afastamos mais dos números e consideramos que o peso ideal é aquele que resulta de um estilo de vida saudável que as pessoas conseguem adotar para o resto da vida, sem risco cardiovascular». Seguindo esta permissa, qualquer que seja o número ou o indicador, o resultado será sempre positivo.

Texto: Catarina Caldeira Baguinho com Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso e diretora do Instituto Prof. Teresa Branco e Manuel Carrageta, médico cardiologista, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia