No inverno, as nuvens tomam conta do céu, escondendo o sol e anunciando a chuva e frio que se segue. O certo é que a mudança no clima pode não surpreender quem sente no próprio corpo as alterações meteorológicas. Mais do que uma crença popular, a associação entre as variações do clima e da atmosfera, e a sua influência na saúde, encontra base científica num campo de estudos bastante específico, a biometeorologia, que começou a ser investigada em 1956, pelo pesquisador holandês Solko Tromp.
Mas já no século V antes da era cristã, Hipócrates afirmava, na obra «Ares, Águas e Lugares», que os futuros médicos deveriam «considerar os efeitos de cada estação do ano, assim como os ventos quentes e frios e, especialmente, os específicos de cada região». A par de menos horas de luz e temperaturas mais baixas, a verdade é que associamos o inverno a mudanças negativas no corpo. Assim, para manter o corpo e a saúde em dia este inverno, saiba as respostas às questões mais frequentes da estação do frio.
1. Sentimos mais fome?
Certamente já se questionou por que é que a gula parece vir ao de cima no inverno. A explicação não é apenas o facto de ficarmos mais tempo em casa, debaixo de mantas e à frente da televisão, e isso despertar a vontade de atacar o frigorífico. A nutricionista clínica Lillian Barros explica. «Assim que chega a época do ano em que os dias são mais curtos e as temperaturas mais baixas, sentimos que o entusiasmo pela fruta fresca e as saladas diminui», sublinha.
«A nossa temperatura corporal baixa e, fisiologicamente, o organismo aumenta as suas exigências energéticas a fim de permitir a manutenção da sua temperatura interna. Se, por um lado, isso é ótimo porque gastamos mais energia, por outro, aumenta-nos o apetite e a procura por alimentos mais quentes ou energéticos, diga-se calóricos», refere.
«Assim, nada melhor do que aproveitar a benesse do nosso metabolismo, para conseguirmos atingir a silhueta que tanto desejamos, mas sem passar fome», acrescenta ainda a especialista, autora de livros como «Sumos e águas detox», publicado por A Esfera dos Livros.
2. Comemos mais alimentos calóricos?
Apesar do corpo precisar de repor os gastos energéticos para se manter quente e os alimentos calóricos atuarem nesse sentido, não se deve riscar totalmente da dieta os legumes, verduras e frutas, até porque esta é a altura em que temos de aumentar as nossas defesas contra gripes e resfriados com vitaminas e minerais.
«Se apostarmos em alimentos considerados termogénicos, como chás, infusões, tisanas e refeições quentes, conseguiremos manter a nossa temperatura corporal sem ter de abusar do excesso calórico», diz a nutricionista. «Não é por nada que nesta altura do ano, existem os típicos enchidos, batata, carnes mais gordas», sublinha Lilian Barros, em declarações à revista Saber Viver.
Receitas apelidadas de pesadas e elaboradas, contendo mais hidratos de carbono (muitas vezes de absorção rápida) e gordura (muitas vezes de má qualidade, como os refogados, as caldeiradas, os ensopados, as feijoadas, etc.), ao contrário do que acontece nas estações mais quentes, em que as saladinhas e o peixe grelhado são as estrelas. Tudo tem a ver com necessidades fisiológicas que o nosso organismo nos solicita», acrescenta.
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3. O exercício físico deve ser feito no interior de um ginásio?
O treinador pessoal Filipe Pereira, da rede de clubes Holmes Place, responde à pergunta. «No inverno e no verão, o exercício deverá ser feito durante todo o ano, dentro e fora de portas, faça chuva ou faça sol. Os benefícios só são alcançados com a consistência do treino. Mesmo a prática de desportos de inverno, como o sky e snowboard, que são obrigatoriamente realizados no exterior, será mais benéfica para o praticante se fizer um complemento de treino indoor», garante.
«Quem pratica [estas atividades] deve ter em atenção a necessidade de um reforço muscular, principalmente ao nivel da articulação do joelho e da anca. Da mesma forma que, durante o verão, devido às altas temperaturas, devemos procurar realizar a atividade física em ginásio, evitando os perigos da desidratação, por exemplo», afirma ainda o personal trainer.
4. Devemos beber menos água?
É verdade que com as temperaturas mais baixas, a tendência é para produzir menos suor. Mas isso não significa que se deva descuidar da hidratação. Apesar de um clima ameno favorecer a redução da sudorese, o corpo compensa com o aumento da vontade de urinar, de forma que continua com a mesma necessidade de água para hidratar os tecidos e manter os órgãos a funcionar.
Pode é, sim, diminuir a sensação de sede, o que faz com que, naturalmente, a pessoa beba menos água do que o habitual. Logo, manter a ingestão de, pelo menos, dois litros por dia é o ideal.
5. Podemos dispensar o protetor solar?
O sol pode até não estar a brilhar tão intensamente como nos dias quentes de verão, mas isso não pode servir de desculpa para nos descurarmos com a pele. Usar protetor solar diariamente, mesmo em dias nublados, continua a ser a recomendação dos dermatologistas. «Não podemos dispensar o protetor solar em nenhuma estação», alerta a especialista em medicina estética e médica responsável no centro Hedonai, Nídia Almeida.
«E, apesar de nessas estações o sol estar mais longe, os raios UVA e UBV atravessam as diversas camadas da atmosfera e chegam igualmente à superfi cie terrestre, podendo causar danos na pele», acrescenta. E não basta aplicar o produto no rosto. Todas as outras áreas expostas ao sol, como as mãos, braços e colo, devem ser contempladas.
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6. As dores intensificam-se com o frio?
Quem sofre de dores musculares crónicas ou de artrite, parece que estas dão mais sinal de vida durante o inverno. Isso acontece em função do processo de constrição vascular, o estreitamento dos vasos sanguíneos. Além disso, com o frio, as contrações musculares e vasculares aumentam porque as pessoas se encolhem mais, o que contribui para aumentar as dores. Contudo, ainda não é possível afirmar que isso realmente ocorra.
Um artigo da BBC Future revela uma análise de nove estudos realizados até então que concluiu que não há um efeito consistente do clima sobre os sintomas da artrite reumatoide. É mais provável que se trate de um caso de tendência de confirmação.
Se acredita que a chuva traz dor, tende a notar mais que é nos dias de mau tempo em que se sente desconfortável e a ignorar quando se sente bem. Mesmo assim, não se trata de um caso encerrado, já que outros estudos pretendem investigar o fenómeno mais a fundo. Além de ser a estação da gripe, o inverno também traz um aumento regular no número de ataques cardíacos.
Segundo um estudo da Universidade de Pequim, na China, as mortes por problemas cardíacos aumentam 40% no inverno em comparação com a primavera e o verão. Apesar de décadas de estudo, ninguém ainda sabe porquê, mas a pesquisa chinesa descobriu que uma temperatura mais fria parece aumentar a pressão arterial, um dos fatores de risco para o enfarte.
Texto: Joana Brito
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