Ágata Roquette propõe um regime alimentar assente num ponto de partida: 31 dias. Ultrapassada esta barreira com bons resultados, chega a motivação. Com ela, força para continuar. Em entrevista, a nutricionista, explica-nos como transpôs para o seu mais recente livro, “A Dieta dos 31 Dias” (edição A Esfera dos Livros), algumas das mais famosas dietas. Adaptou-as ao gosto e alimentação dos portugueses, depois de muita investigação e da sua experiencia pessoal no que respeita à perda de peso. Como em todos os regimes alimentares, há regras. Aqui, contudo, também há pequenos desvios em direção aos prazeres da mesa. Proibido mesmo: bolachas. As gelatinas? Recomendam-se. 

O número 31 é para si um dígito “mágico”, uma espécie de rito de passagem, capaz de tornar uma dieta de emagrecimento num caso de sucesso?

Penso que o numero 31 (referente aos dias de um mês), possa ser o tempo suficiente para a pessoa sentir que, de fato, vai mudar os seus hábitos. Os resultados que se conseguem no primeiro mês numa dieta são determinantes para os próximos meses que ainda podem ter de vir (caso a pessoa tenha muitos quilos para perder). Uma dieta com resultados rápidos nos primeiros 31 dias trará a motivação necessária para continuar.

Qual é a fórmula para uma dieta de emagrecimento sem passar fome e que, inclusivamente, nos incentiva a comer?

A fórmula que, eu acredito, porque pratiquei comigo (pois perdi 20 quilos) e que pratico com os meus pacientes, baseia-se nas dietas proteicas, em que a pessoa faz redução considerável nos hidratos e em compensação come a quantidade de proteínas que quiser. As proteínas são responsáveis pelo equilíbrio dos nossos apetites, logo não sentimos fome ao fazer este tipo de dietas e a comida ao não ter de ser toda grelhada ou cozida (pelo menos na minha dieta eu deixo estufar guisar e fritar em azeite), torna os patos muito mais atrativos e saborosos.

Como chegou ao regime alimentar que apresenta no livro?

A partir do estudo das dietas já estudadas há muito tempo, dieta de Athkins e South Beach. Tinha que torná-las o mais fáceis possível, respeitando os princípios e não estragando todos os benefícios (resultados rápidos) que a dieta fornece. Senti necessidade de aproximá-la dos nossos hábitos portugueses, dos restaurantes portugueses e da vida stressante que os portugueses levam. O principal ponto que eu comecei por testar foi introduzir pão ao pequeno-almoço e, a partir do momento que percebi que dava resultados na mesma, nunca mais o retirei (nas dietas proteicas o pequeno-almoço é normalmente com ovos).

Outro ponto era poder testar se os guisados e estufados não prejudicariam os resultados (assim a comida poderia ser igual para toda a família, só os acompanhamentos mudariam, legumes para quem faz dieta e arroz e outros Hidratos de carbono para quem não faz). Senti necessidade de pôr uma sobremesa que se pudesse comer a qualquer hora, para compensar algum stress ou algum vício antigo de doces. Então testei pôr gelatina sem açúcar sem limite de quantidade, e graças a deus resultou, as pessoas continuavam a perder bom peso. Por último tinha de haver um dia completamente livre, sem regras. No início só deixava acontecer de 15 em 15 dias e hoje em dia permito todas as semanas. Tentei que tudo resultasse sem medicamentos e sem ajudas (massagens, etc.). E tudo resultou.

Vivemos numa sociedade e num tempo plenos de contradições. Vivemos sob o jugo de estereótipos como “mulher curvilínea”/”homem musculado” e, paralelamente, não somos poupados ao fast food, às comidas já preparadas hipercalóricas, à superabundância. Como podemos equilibrar estes dois extremos? O equilíbrio é talvez a dieta que sugiro como manutenção. A pessoa durante a semana deve ter regras em termos de exercício e alimentação equilibrada, deixando sexta, sábado e domingo para o fast food e outros prazeres. À segunda retoma as rédeas até sexta e, nesse dia, novamente tudo o que é bom. Este equilíbrio deixa a pessoa feliz com um corpo que sonha ter mas também aproveitando o bom da vida (festas, jantares etc.), ao fim-de-semana.

Perder peso passa, entre outros fatores, e como a própria Ágata Roquette o afirma, pela motivação. Quais são, em regra, os grandes obstáculos à eficácia das dietas?

A meu ver, o sucesso da minha dieta é que os resultados que se veem logo ao início. Rapidamente a pessoa sente-se motivada. Depois, julgo que o segredo do meu método é a pessoa ir a cada 15 dias à consulta (e a consulta não ser cara). Pesa-se, mostra a alguém o que andou a fazer e sente que tem um “polícia a vigiar”, um compromisso criado.

Quais são os principais erros das dietas?

O principal erro é começar a comer pouco. Dietas muito restritas cortam calorias e quantidades. A pessoa mais cedo ou mais tarde tem um ataque de fome e estraga a dieta. É um erro almoçar só sopa (é meio caminho andado para à tarde não aguentar e ir a uma pastelaria). É um erro não se levar certos alimentos para o trabalho, pois com fome à tarde voltamos às pastelarias. É um erro não se comer bem, e em quantidade às refeições, pois será a única maneira de não andar a petiscar o dia todo.

No livro “A Dieta dos 31 Dias” apresenta-nos uma “ementa” adaptada aos hábitos alimentares dos portugueses. Pode pormenorizar?

Introduzo o pão da manhã e, para quem, gosta o galão. Nas receitas ponho as salsichas com couve lombarda, bacalhau com espinafres, cozido à portuguesa, empadão, petiscos gambas al ajillo, amêijoas à Bulhão Pato, caracóis, pica-pau, bitoque sem batatas, etc., mas sempre retirando aquilo que a dieta não permite comer.

Na obra fala no “Dia da Asneira”. Trata-se de um dia para cometer erros alimentares ou para comer um pouco de tudo, mas com sensatez e moderação?

O “Dia da Asneira” é um momento para pensarmos com muito carinho, pois às refeições principais convém comer aquilo com que se andou a sonhar a semana inteira. Claro que não é um dia que permita consumir hora a hora alimentos calóricos. Mas sim um pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar em que se escolhe os pratos favoritos, proibidos segundo as regras da dieta durante a semana.

Há alimentos de todo proibidos quando pensamos numa dieta de emagrecimento?

Os alimentos que para mim têm mesmo de ser proibidos numa dieta são os doces e as bolachas. Pois são viciantes, estimulam o apetite e a vontade de comer. Na minha dieta substituo os desejos de doces por gelatinas (que são permitidas sem limite) para compensar o vício.

Jorge Andrade