Se pensarmos que 30 a 50% dos casos de cancro podem ser evitados, uma vez que estão associados a estilos de vida pouco saudáveis (hábitos alimentares inadequados, tabagismo, consumo de álcool, obesidade e sedentarismo), percebemos o papel que o nosso estilo de vida pode ter na prevenção da doença. E quando falamos em estilo de vida, não podemos deixar de falar de alimentação.
Após o diagnóstico de cancro, sabemos que por si só a nutrição e a alimentação não curam, mas sabemos que são importantes aliadas ao tratamento. Os tratamentos podem conduzir ao aparecimento de efeitos secundários que afetam a ingestão alimentar e consequentemente, têm impacto no estado nutricional do doente.
O estado de malnutrição na doença oncológica é uma realidade e muitas vezes desvalorizada. Mas importa salientar que não é normal não ter apetite, nem perder peso de uma forma não intencional. A deterioração do estado nutricional está associada a um pior prognóstico, aumento do número de complicações, aumento do risco de hospitalização, aumento do tempo de internamento e dos custos associados aos cuidados e consequentemente, a uma diminuição da qualidade de vida. Neste sentido, o papel do nutricionista na equipa multidisciplinar (enfermagem, medicina, psicologia, fisioterapia...) é crucial, tendo como objetivos melhorar o estado nutricional, controlar os sintomas com impacto nutricional, garantir um aporte energético e nutricional face às necessidades e promover a qualidade de vida do doente.
Nestes doentes, é sempre realizada uma intervenção nutricional personalizada, adaptada à situação clínica, à presença de alergias e/ou intolerâncias alimentares, aos hábitos e preferências alimentares e à existência de dificuldades de mastigação e/ou deglutição do doente. A alimentação é adaptada no que diz respeito à consistência (alimentos líquidos, pastosos...), ao volume (ou seja, fracionamento de alimentos ao longo do dia, alimentos preferencialmente de elevada densidade energética e em pequenos volumes) e sempre que necessário, poderá ser iniciada suplementação nutricional oral. Compreender o contexto familiar do doente e a sua autonomia também são parâmetros chave.
Na nossa abordagem, importa também ter em atenção os mitos e ideias pré-concebidas e não incentivar dietas demasiado restritivas, que podem conduzir a deficiências nutricionais. É fundamental explicar que não existem alimentos “milagrosos”, nem alimentos proibidos. Existem sim alimentos que devemos privilegiar e outros que devemos moderar o seu consumo. Além disso, dietas com baixa palatabilidade e pouco apelativas não têm uma grande adesão, o que pode aumentar o risco de malnutrição.
Concluindo, é essencial individualizar e personalizar a intervenção nutricional a cada caso, uma vez que a Nutrição assume um papel fundamental, tendo influência no desenvolvimento da doença, na sintomatologia inerente à doença, na resposta ao tratamento e na recuperação após o tratamento. Não existe uma dieta ideal. A dieta ideal é aquela que atinge as necessidades energéticas e nutricionais do doente e que consegue manter a sua adesão ao longo do tempo.
Um artigo da nutricionista Beatriz Vieira, do Hospital Lusíadas Amadora.
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