Não sabemos como faz a gestão do seu tempo,
mas o que é certo é que as vinte e quatro horas parecem
chegar-lhe para tudo: cozinhar, escrever, preocupar-se
com aquilo que as crianças comem na escola
e lutar «com unhas e dentes» para que as suas refeições
sejam mais saudáveis, fazer programas de televisão,
actualizar o seu site e, ainda, ter tempo para jantar com
a sua família.

Jamie Oliver, o fenómeno britânico,
partilhou com a saber viver os seus segredos.
Simples, como as suas receitas!

Quando é que soube que queria ser chef?

Quando é que soube que queria ser chef?

Durante a infância sempre me interessei por comida,
os meus pais eram donos de um pub em
Clavering, no Essex, onde cresci, e o meu pai
cozinhava muito bem. Tive momentos muito
importantes em que fiz comida para os outros e
eles gostaram.

Lembro-me de fazer um frango
assado para os meus pais e de o meu pai ter dito
que estava muito orgulhoso de mim. Acho que
tinha apenas dez anos...

Não era muito bom em nada na escola e,
por isso, quando acabei o liceu, decidi ir para
a Westminster Catering College, um dos melhores
sítios para quem quer aprender tudo sobre alimentação
e catering.

E o que aconteceu depois?

E o que aconteceu depois?

Passei algum tempo
em França e depois regressei a Londres, para trabalhar
como chef no The Neal Street Restaurant.
Tive muita sorte por ter tido a oportunidade
de trabalhar para um restaurante tão prestigiado
quando ainda estava no início da minha carreira
e tirei o máximo partido disso.

A seguir, trabalhei
para a Rose Gray e a Ruth Rogers no River
Café durante três anos e meio. Foi uma experiência
espantosa e essas duas senhoras ensinaram-me tudo sobre o tempo e o esforço necessários
para fazer a comida mais fresca e honesta
possível, totalmente deliciosa.

Como figura mediática em que se transformou,
qual é que acha que é o seu papel?

Como figura mediática em que se transformou,
qual é que acha que é o seu papel?

Penso que
o meu papel é inspirar as pessoas a experimentarem
coisas diferentes na cozinha (novos sabores,
receitas novas...) e gostava também que as pessoas
encarassem o acto de cozinhar como algo bom,
divertido, em vez de ser um frete.

Temos de comer
todos os dias e, sendo esse um dado adquirido,
mais vale darmos o nosso melhor para que
as refeições sejam saborosas e nutritivas.

Disse numa entrevista que o público britânico
queria aprender as melhores receitas que,
em simultâneo, implicassem um esforço mínimo.
Essa é uma fórmula universal?

Disse numa entrevista que o público britânico
queria aprender as melhores receitas que,
em simultâneo, implicassem um esforço mínimo.
Essa é uma fórmula universal?

Penso que
sim, que se aplica à maior parte das nacionalidades.
O que acontece aqui no Reino Unido é
que trabalhamos muitas horas e não temos muito
tempo para cozinhar durante a semana.

Por
isso é que muitas das minhas receitas são simples,
fáceis de fazer, mas boas.

Veja na página seguinte: Como fazer uma boa refeição

Tem lutado muito para que as refeições que
as crianças comem na escola sejam mais saudáveis,
o que lhe valeu o epíteto de rebelde.
E em casa, quais são os principais erros que
os pais cometem neste campo?

Tem lutado muito para que as refeições que
as crianças comem na escola sejam mais saudáveis,
o que lhe valeu o epíteto de rebelde.
E em casa, quais são os principais erros que
os pais cometem neste campo?

Penso que,
na maior parte dos casos, particularmente no
Reino Unido, os pais nunca aprenderam a cozinhar
uma refeição nutritiva para eles próprios.
E isso vai repercutir-se naquilo que vão cozinhar
para os filhos.

As crianças acabam por comer
refeições encomendadas aos take-away ou
comidas pré-confeccionadas que se aquecem
no microondas.

Praticamente não comem fruta
nem vegetais. Se os pais comprarem alimentos
frescos e habituarem os filhos, desde pequenos,
a ajudarem-nos na cozinha, acho que será muito
útil e terá reflexos mais tarde.

Que tipo de refeições cozinha para as suas filhas?

Que tipo de refeições cozinha para as suas filhas?

Faço refeições de todos os tipos. As minhas filhas gostam de quase tudo, por isso tanto engolem alegremente uma taça cheia de framboesas
como um prato de spaghetti com brócolos
ou um delicioso peixe.

Valoriza o ritual familiar de fazer as refeições
em conjunto?

Valoriza o ritual familiar de fazer as refeições
em conjunto?

Completamente. Faço questão
de não trabalhar aos fins-de-semana para que
possamos comer todos juntos, como uma família.
Mesmo durante a semana tento chegar a
tempo de jantar com a minha mulher e filhas.

Esta é uma tradição que se tem vindo a perder...
Quando era pequeno, a hora das refeições era a
altura em que partilhávamos aquilo que tínhamos
feito naquele dia ou falávamos de tudo o
que nos apetecesse.

Hoje em dia, o que acontece
é que, muitas vezes, os vários membros da família
comem a horas diferentes e as crianças fazem
as refeições sentadas à frente da televisão.

Cozinhar bem é um dom ou é algo que se
aprende?

Cozinhar bem é um dom ou é algo que se
aprende?

Acho que toda a gente tem a capacidade
de cozinhar bem. Só que algumas pessoas
sentem-se inseguras, não têm confiança nas
suas capacidades, acham que cozinhar é muito
difícil e ficam assustadas.

O meu conselho para
essas pessoas é este: se nunca cozinharam, tentem
fazer receitas fáceis e vejam como se saem.
Se correr mal tentem perceber o que é que falhou
e... experimentem outra vez.

Uma boa refeição não implica gastar muito dinheiro,
pois não?

Uma boa refeição não implica gastar muito dinheiro,
pois não?

Conheci famílias italianas
muito pobres que comem muito melhor que
muitos empresários riquissimos.

Se as pessoas
comprarem os alimentos crus e souberem o que
querem fazer, podem conseguir uma refeição
excelente e saudável por muito pouco dinheiro.
E rápida de fazer!

Já fez milhões de receitas. Qual é, de todas, a
sua preferida?

Já fez milhões de receitas. Qual é, de todas, a
sua preferida?

Gosto de muitas. Há algumas
que publiquei no meu primeiro livro e que ainda
hoje faço.

Ultimamente tenho-me dedicado
a cultivar as minhas próprias ervas aromáticas,
especiarias e vegetais, por isso, neste momento,
os meus pratos favoritos são receitas que posso
fazer com alimentos do meu jardim!

Veja na página seguinte: A batalha sem tréguas que Jamie Olivier trava

O seu primeiro livro, The Naked Chef foi publicado em Portugal em 2006 (com o
título Na Cozinha com Jamie Oliver). O que pode
dizer-nos sobre ele?

O seu primeiro livro, The Naked Chef foi publicado em Portugal em 2006 (com o
título Na Cozinha com Jamie Oliver). O que pode
dizer-nos sobre ele?

As receitas são muito
simples mas saborosas. Acho que há ali receitas
para toda a gente, desde o rapaz que tem medo
de se enfiar na cozinha sozinho mas quer
impressionar a namorada a alguém que goste
muito de cozinhar e queira experimentar algumas
receitas novas.

Espero que os portugueses
gostem do livro. Foi o meu primeiro bebé
e adoro-o.

Guerra à junk food!

Indignado com o tipo de refeições que eram servidas às crianças
nas escolas, Jamie Oliver envolveu-se numa acirrada campanha para possibilitar às crianças
almoços nutritivos dentro dos estabelecimentos de ensino.

Nas palavras de Jamie, «tratava-se de
introduzir mudanças radicais no sistema de refeições das escolas e desafiar a cultura da junk food,
mostrando às escolas que podem servir refeições frescas, nutritivas e que as crianças gostem de
comer».

«Aquilo que comemos afecta a nossa disposição, comportamento, saúde, crescimento e,
até, a nossa capacidade de concentração. Um almoço deve proporcionar a uma criança que esteja
a crescer um terço da dose diária recomendada de nutrientes de que necessita», acrescenta.

Em 2005, Jamie
fez o programa Jamie’s School Dinners,com o intuito de demonstrar o baixo investimento que o
governo britânico estava a fazer nas refeições servidas nas escolas e de provar que, com o mesmo
dinheiro gasto num pacote de batatas fritas, conseguia criar um almoço nutritivo e saboroso.

A transmissão do programa gerou uma enorme movimentação e a iniciativa de Jamie passou a contar
com o apoio de pais, professores, crianças e até figuras governamentais internacionais. A sequela
Jamie’s Return to School Dinners, transmitida em Setembro do ano passado, avaliava os efeitos da sua
campanha, mostrando as mudanças que tinham sido introduzidas em algumas escolas britânicas.

O BI do chef rebelde

NOME: Jamie Oliver
IDADE: 31 anos
ESTADO CIVIL: Casado
com Jools, tem duas filhas:
Poppy e Daisy
PASSADO E PRESENTE: Quando
tinha 16 anos era mau aluno
e já sabia que queria ser chef.

Ingressou na Westminster
Catering College e passou
algum tempo em França, a
aprender o mais que podia
sobre culinária.

De regresso a
Londres, trabalhou como chef
no The Neal Street Restaurant
e, posteriormente, no River
Café. Foi nessa altura que
apareceu pela primeira vez na
televisão, num documentário
que foi feito sobre o
restaurante.

No dia seguinte,
recebeu telefonemas de
cinco produtoras a convidá-lo para fazer um programa. O
resultado foi... The Naked Chef
(em português, Na Cozinha
Com Oliver), o programa que
o catapultou para a fama.

É autor de obras como The Naked Chef
(publicado em Portugal pela editora Civilização),
Return of The Naked Chef,
Happy Days with the Naked
Chef, Jamie’s Kitchen, Jamie’s
Dinners e Jamie’s Italy.

Texto: Teresa d'Ornellas
Foto: David Loftus