Um novo sistema de fitas adesivas, também conhecidas como tapes, atua sobre os diferentes recetores ao nível do sistema somatossensorial, auxiliando o tratamento e a prevenção de lesões.

Em entrevista à Saber Viver, Sérgio Frade, o único instrutor português oficialmente certificado pela Kinesio Taping Association International (KTAI), a associação internacional do Kinesio Taping, explica para que servem e como funcionam.  

Por que é que o método de tratamento desenvolvido pelo japonês Kenzo Kase é inovador? Que vantagens traz para a saúde face às usuais ligaduras funcionais?

O Kinesio Taping é inovador porque  facilita o processo de regeneração do organismo, dando informação a músculos e outras estruturas e sistemas  fisiológicos através dos seus recetores, auxiliando na sua normalização caso se encontrem disfuncionais sem restringir o seu movimento, promovendo assim um funcionamento normal.

A comparação com as ligaduras funcionais ou outras técnicas que utilizem tapes, em boa verdade e no nosso entender, não se deveria colocar, na medida em que estamos a falar de técnicas diferentes com objetivos e indicações diferentes que inclusivamente se podem combinar num mesmo caso.

Deste modo, cabe ao terapeuta a avaliação e escolha de que metodologia poderá ser mais indicada para aquele paciente, com aquela lesão, naquela fase e naquele contexto específico.

De que forma é que as fitas adesivas auxiliam o tratamento e a prevenção de lesões?

Os tapes auxiliam o tratamento e a prevenção de lesões atuando sobre diferentes recetores ao nível do sistema somatossensorial, fornecendo informação ao sistema nervoso, que promove um restabelecimento das funções normais dessa estrutura e fazendo com que o seu desempenho seja mais próximo do normal, ajudando assim na sua recuperação em caso de lesão e, funcionalmente falando, uma função mais aproximada do normal permite um gesto, desportivo ou não, mais eficiente, o que torna a ocorrência de uma lesão mais difícil.

As fitas adesivas devem ser colocadas sobre a lesão? Um atleta que não esteja lesionado e queira prevenir lesões onde é que deve colocar a tape adesiva? Que cuidados deve ter e quais as recomendações a ter em linha de conta?

A resposta a esta questão não é assim tão fácil. O que é uma lesão? De que lesão em concreto estamos a falar e, sobretudo, qual a sua causa? O Kinesio Taping deve sempre ser utilizado dentro de uma lógica de tratamento de acordo com os objetivos estabelecidos pelo terapeuta. Por essa razão, é muito normal que possamos dirigirmo-nos, digamos assim, a uma lesão optando por intervencionar uma estrutura que à primeira vista não parece a estrutura lesionada, mas cuja disfunção possa estar a promover sintomas numa outra região.

O que queremos dizer é que não podemos confundir sintoma ou zona sintomática com lesão e sobretudo com a sua causa.  Em relação à prevenção de lesões, um atleta que não esteja lesionado, ou seja, se bem percebemos, um atleta que não apresente disfunção, não tem nada para ser regularizado logo, em princípio não irá beneficiar da aplicação desta técnica. Contudo, por vezes um atleta pode parecer funcionalmente apto e na verdade não o estar, apresentando por exemplo desequilíbrios musculares e posturais que não sendo trabalhados poderão levar a uma maior probabilidade de lesão.

Assim, é de fundamental importância que essa avaliação seja efetuada por um profissional com formação nesta técnica. Só ele pode decidir se aquele paciente ou atleta necessita de correções e quais as melhores técnicas para atingir os seus objetivos

Em que medida é que este sistema pode ser adaptado a qualquer prática desportiva? Não faz diferença o atleta ser nadador ou fundista, por exemplo?

Este método pode, em princípio, ser utilizado em quase todos os desportos e práticas desportivas.

No entanto, existem duas situações que importam ter em atenção.

A primeira prende-se com as regulamentações de alguns desportos específicos que podem proibir a sua utilização.

Tal sucede por considerarem que beneficiam o atleta para além da mera regulação de um processo lesional, aumentando o atrito na água por exemplo, o que poderia beneficiar a sua performance e razão pela qual na natação estão proibidas. Outras modalidades desportivas também podem limitar a sua utilização no que respeita às cores nomeadamente, obrigando a que as cores utilizadas não interfiram com as cores dos equipamentos o que poderia eventualmente criar confusão.

A segunda situação tem a ver com questões mais práticas, ou seja, há desportos que pelas suas características, de contacto extremo por exemplo, não veem nesta ferramenta uma aplicação tão eficaz por poder não resistir tanto tempo como seria desejável, sobretudo em competição. Outra questão a ter ainda em conta é saber se não poderá eventualmente ser contraproducente em alguns desportos específicos utiliza-las em competição, na medida em que poderão servir como que de sinalização para o adversário de que algo não está bem, podendo este aproveitar-se disso estrategicamente.

Tirando os casos dos desportos em que são oficilamente proibidas, em todos os outros a decisão da sua utilização ou não, nomeadamente em competição deve surgir no seguimento de um processo de avaliação, pesando os pós e os contras, caso existam, onde não só o profissional de saúde deve contribuir mas também outros profissionais como os próprios treinadores.

Que funções do organismo é que esta técnica de reabilitação ativa de modo a facilitar o processo de autocura do corpo?

Esta técnica atua sobre cinco sistemas fisiológicos através dos seus recetores. Sobre o sistema tegumentar primeiro que tudo pois é sempre sobre ele que vai ser colocada, mas também sobre os sistemas fascial, muscular, articular e circulatório/linfático. Em cada um destes sistemas o efeito que produzem é diferente, como diferentes são os receptores presentes em cada um deles.

Que efeito é que esta técnica produz nos músculos?

Em termos musculares, esta técnica essencialmente atua na regulação da curva de comprimento/tensão muscular. Muito resumidamente, para que um músculo possa ser capaz de produzir força eficazmente necessita que o rácio entre o comprimento e a tensão das suas fibras esteja dentro de uma curva normal. O que muitas vezes acontece é que no decorrer de um processo lesional este rácio se altera e ficamos na presença de um músculo disfuncional que por exemplo não é capaz de uma normal produção de força ou que entra em fadiga mais rapidamente, por exemplo.

Através de uma correta avaliação e aplicação desta técnica, podemos então regular este rácio e assim normalizar este músculo, o que inclusivamente nos permite que um conjunto de outras técnicas terapêuticas possam também elas ser mais eficazes na sua utilização.

Apenas os profissionais de saúde que disponham de conhecimentos suficientes é podem aplicar este método? O cidadão comum não pode optar por este método de tratamento se contrair uma lesão ou tal não é, de todo, recomendado?

Um cidadão comum, se contrair uma lesão, deverá ser observado e avaliado por um profissional de saúde.

Só este, com base numa análise minunciosa, poderá delinear um plano de tratamento eficaz com objetivos gerais e específicos coerentes e adequados ao caso em concreto.

Se esse profissional considerar que esta técnica se pode incluir nesse plano de tratamento como forma de atingir esses objetivos, e se tiver a necessária formação para a pôr em prática, então os benefícios que dai poderão advir são, em nossa opinião, significativos.

Caso contrário, colar umas tiras adesivas sem perceber o que está por trás da lesão, sem conhecer a anatomia e fisiologia envolvidas, sem um processo de raciocínio sobre o que se está a fazer parece-nos o tipo de coisa que muitas vezes infelizmente é feita (inclusivamente até por profissionais de saúde sem conhecimento específico da técnica) e que leva a resultados insatisfatórios que depois são utilizados para desacreditar a técnica e classifica-la de moda ou placebo.

As fitas adesivas podem ser compradas nas farmácias? Se não, onde é que se podem encontrar? E quais os fatores a ter em conta no momento da aquisição?

Se estivermos a falar para os profissionais de saúde com formação nesta técnica, relembro que este material é feito de acordo com características específicas para o método (elasticidade específica, peso, espessura, pré estiramento no papel, padrão de colocação do adesivo, entre outros) e que, portanto, ao adquirirem este tipo de material devem observar se o que estão a comprar possui essas características específicas.

Para o cidadão comum, diríamos que o importante vai ser sempre quem lhe vai efetuar o tratamento e o conhecimento que possui desta e de outras técnicas e métodos e do tipo e qualidade da avaliação que lhe vai efetuar e sobre a qual vai construir todo o seu programa de reabilitação da lesão que apresente. Para nós é ai que deverá ser criterioso.

Em Portugal, a Bwizer, líder em soluções para profissionais de saúde, é a marca autorizada a promover formação oficial neste método revolucionário, o curso oficial Kinesio Taping, certificado pela KTAI, Kinesio Taping Association International.

Texto: Filipa Basílio da Silva