“Somos o que comemos”, afirmou Hipócrates, pai da Medicina, há 2500 anos. Atrevo-me a completar: somos o que consumimos e o que pensamos.
Numa sociedade milenar conduzida por protótipos de beleza, os distúrbios alimentares ou o consumo de calorias de menor qualidade, com forte base nos hidratos de carbono (quem alguma vez nos faria pensar que a famosa pirâmide dos alimentos que aprendemos na primária estava errada?), dá lugar a um conjunto de patologias modernas e mais atuais do que nunca: a obesidade ou magreza, a celulite, as estrias, as hemorroidas, a resistência à insulina (uma espécie de estado pré-diabetes), problemas de memória, problemas de cicatrização…
A busca pelo “corpo perfeito” é mais complexa do que ir apenas à faca. Quando me procuram para realizar uma lipoaspiração ou uma abdominoplastia, ou quando tentam consultar o preço de uma cirurgia através das redes sociais, mais do que dar a informação de um valor, tento sempre sensibilizar para o processo que iniciam comigo.
Não se tratará apenas de uma cirurgia plástica, mas sim do início de um tratamento integrativo - do comportamento alimentar e da postura mental perante a vida.
Quando há cerca de dois anos comecei o projeto da The Dr Pure Clinic, a ideia passou por desconstruir o conceito atual que se tem de Cirurgia Plástica. Ela não pode ser apenas um fim, deve necessariamente constituir um meio, uma ferramenta, num conjunto de tantas outras, cujo objetivo final é tratar o paciente como um todo: mente e corpo.
Não consigo conceber que se lipoaspire vezes sem conta a mesma pessoa, que se a abandone à mercê de si mesma, quando a ausência de conhecimento sobre como comer ou como se tratar já lá está há tanto tempo. O processo tem que ser o oposto. Primeiro, há uma tomada de decisão em querer cuidar de si (na minha opinião, o passo mais importante), de seguida, começamos um trabalho multidisciplinar.
Na minha perspetiva, a avaliação nutricional é fundamental. Existem vários tipos de erros alimentares que mais do que serem completamente corrigidos antes de uma cirurgia, devem ser acompanhados e faseadamente adaptados ao estilo de vida de cada um.
O investimento por parte de cada paciente, em tempo, em risco e financeiro, não deve, na minha humilde opinião, ser em vão.
Quando opero um paciente que pretende perder ainda mais peso com lipoaspiração ou corrigir as peles excedentes no final de um processo de perda de peso, não quero por nada que essa pessoa volte a engordar, a passar e arriscar tudo outra vez.
Por outro lado, sabemos que os pacientes que perdem peso sozinhos ou com cirurgia barriátrica (para reduzir o tamanho do estômago), sem acompanhamento nutricional, sofrem várias carências nutricionais (proteínas, vitaminas , ferro, sais minerais) que não só aumentam substancialmente o risco da cirurgia plástica em si ( hemorragia, seroma, edema, problemas de cicatrização), como colocam em risco a própria vida do paciente (risco de anemia, perda de sangue, tromboses, necrose de tecidos).
Nesse sentido, recomendo que todos os pacientes que perderam peso sejam obrigatoriamente avaliados pela nossa equipa de nutrição, através de marcação na The Dr Pure Clinic (Drª Ana Pinto, Drª Maria Inês Antunes). As consultas são físicas ou online, conforme melhor se adapte a cada caso.
À luz da Cirurgia Plástica moderna, que se pratica atualmente, a segurança deve ser a premissa. Por isso, no meu entender, este tipo de Cirurgias Plásticas, mais do que meros procedimentos estéticos, são parte de um tratamento integral: saúde mental, saúde nutricional, cirurgia plástica.
A vida, a segurança, têm de vir primeiro. Só assim o paciente vai alcançar e reconhecer a sua beleza natural, tanto física como psicologicamente.
Texto: Dra. Sofia Santareno, Cirurgiã Plástica do Board Europeu e Directora Clínica da The DR. Pure Clinic
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